MENU

BUSCA

Cresce número de mulheres que chefiam a casa

Segundo o Dieese, com base em números do IBGE, percentual passou de 37% para 42% em uma década

Elisa Vaz

Cresceu mais de 10% o número de mulheres que comandam as casas no Pará, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) e do Ministério da Economia. De 2017 para 2018, o número de lares chefiados por mulheres no Estado passou de 926.614 para 1.022.323, deixando as mulheres com a responsabilidade por 42,48% das casas paraenses.

Uma década atrás, esse percentual era de 37%, segundo o Censo Demográfico de 2010 divulgado pelo IBGE, a pesquisa completa mais recente do órgão. Do total de 1.859.165 lares, 685.629 tinham mulheres como líderes no Pará.

Entre tantas mulheres que chefiam suas casas está a arquiteta paraense Izaura Bastos, mais conhecida como Iza, de 40 anos. Ela mora apenas com seu filho, Pedro Henrique, de cinco anos de idade, e se separou do ex-marido há quase quatro. “Nos fazíamos mal, era visível a relação psicologicamente abusiva quando estávamos juntos, dos dois lados. Éramos infelizes e, na época, preferimos ter paz do que razão, e nossa relação é muito melhor”, relembrou. A arquiteta, então, decidiu começar do zero ao lado do filho e, mesmo que o pai presente na vida do pequeno e contribua com a pensão, quem paga as contas da casa é ela.

Com a saída de casa no fim do casamento, Iza parou de trabalhar com a arquitetura durante um tempo. Hoje, quase três anos depois, está retomando os estudos em neurociência aplica à arquitetura, curso voltado para projetos corporativos. Na época da separação, quem ajudou Iza foi sua mãe. “É a melhor pessoa que poderia ter na minha vida, ela me ajuda em tudo que não consigo e não sei fazer. É meu verdadeiro apoio e exemplo. Outras amigas e familiares também me deram muito apoio para recomeçar a vida”. Iza veio da área da construção civil, quando trabalhava antes de se separar do marido. Atuava como arquiteta responsável pelo setor de incorporação e produção, ambiente quase totalmente masculino, onde apenas cerca de 20% eram mulheres, segundo ela.

Número mais que dobrou em uma década

e acordo com o levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) e do Ministério da Economia, entre as chefes de casa do sexo feminino, a maioria ganhava de um quarto a meio salário mínimo, na época R$ 510, totalizando 180.148 mulheres. Em seguida, vinham as que recebiam de meio a um salário mínimo (176.556), de um oitavo a um quarto de salário mínimo (94.753), de um a dois salários mínimos (78.822), até um oitavo da remuneração mínima (55.821), de dois a três salários mínimos (22.320), de três a cinco salários mínimos (16.234), de cinco a 10 salários mínimos (9.882) e mais de 10 salários mínimos (3.191). Havia, ainda, 47.902 mulheres sem rendimento.

Quanto à faixa etária das chefes dos domicílios paraenses, em 2010, 82.522 tinham de 30 a 34 anos, 79.624 de 35 a 39 anos, 74.841 de 40 a 44 anos, 72.574 de 25 a 29 anos, 66.394 de 45 a 49 anos, 60.177 de 50 a 54 anos, 59.817 com 70 anos ou mais, 50.978 de 55 a 59 anos, 46.124 de 20 a 24 anos, 40.800 de 60 a 64 anos, 33.961 de 65 a 69 anos, 15.205 de 15 a 19 anos e 2.612 tinham de 10 a 14 anos.

Embora novos dados ainda não tenham sido divulgados, já que o Censo 2020 está em etapa de construção, muita coisa mudou ao longo desses anos. Os demógrafos José Eustáquio Alves e Suzana Cavenaghi, por exemplo, realizaram um estudo que diz que o número de famílias chefiadas por mulheres mais que dobrou em uma década e meia no Brasil. O levantamento, coordenado pela Escola Nacional de Seguros, mostrou que o contingente de lares em que elas tomam as principais decisões saltou de 14,1 milhões, em 2001, para 28,9 milhões, em 2015, um avanço de 105%.

VITÓRIAS

No caso da arquiteta paraense Izaura Bastos, o mercado não foi a parte mais difícil para ela. Como seu filho possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ela precisa se dedicar, diariamente, aos cuidados com ela. “O dia a dia de uma criança ‘atípica’ não é nada fácil. São terapias, criação de rotinas e muito exercício. Pedro não forma frases ainda, e há algumas semanas começou a desenvolver e soltar novas palavras. Cada conquista, uma palavra a mais, pegar o lápis, fazer uma letra, mudam tudo. São lutas e vitórias diárias”, contou.

Hoje, a arquiteta faz parte de um grupo chamado “Mães Azul”, uma rede de apoio que conta com mais de 250 mães ‘atípicas’ em Belém, como são chamadas as mães de crianças com TEA. Juntas, elas se apoiam diariamente. A partir do grupo, Iza ainda conseguiu iniciar um projeto de contação de histórias, “Conta Comigo”, uma reunião de mães. Fora os cuidados com o filho, o trabalho, a família, os projetos, há também as obrigações constantes, como os cuidados com a casa e com a saúde.

Para ela, o mais difícil é ser mãe de uma criança que precisa de mais cuidados e atenção que outras, por conta de suas limitações, e buscar destaque no mercado. “Meu filho depende de mim para tudo. Isso toma muito meu tempo, então como o mercado de trabalho vai me absorver, se tenho apenas meio período para trabalhar? Nesse tempo, precisaria trabalhar o dobro”, disse. O que poderia melhorar o ambiente de trabalho para as mulheres, na opinião de Iza, seria mais educação, por meio de cursos de capacitação profissional, para que mais mães possam trabalhar em casa, em home office.

Mulher