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Resíduo do açaí pode virar joia e até energia

O Pará dispõe de amplo conhecimento sobre diversos processos para o reaproveitamento dos resíduos do açaí, fruto apreciado em todo o Brasil

Valéria Nascimento

Apreciado em todo o País, o açaí é gênero alimentício permanente na mesa do paraense. Mas, quem trabalha com o fruto, como os batedores, por vezes tem dificuldade de dar o destino correto às pilhas de caroços que se formam após a extração do sumo. Soluções existem, e não são poucas. Variam de biojoias à produção de energia, produtos farmacêuticos e medicinais. Todos exemplos de bioprodutos compostos a partir de resíduos do açaí.

Para saber mais sobre tais possibilidades e o que já é realidade no reaproveitamento dos resíduos do açaí, o projeto Liberal Mobiliza, do Grupo Liberal, com apoio da Guamá Tratamento de Resíduos, ouviu, em Belém, o coordenador do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Diego Aires; e em Paragominas, o professor doutor Rodrigo Nobre, também da Uepa.

Os estudos são feitos há tempos e o Pará já dispõe de um estoque de conhecimento sobre diversos processos. Os dois docentes, por exemplo, pesquisam o caroço, resíduo proveniente da despolpa do fruto, rico em carbono, açúcares (celulose e hemiceluloses), compostos fenólicos (lignina), extratos e minerais. Eles afirmam que o fruto tem propriedades que o tornam adequado para utilização na queima direta para produção de energia ou produtos de maior valor agregado.

Sobre o que se aproveita, de fato, o coordenador do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Diego Aires, que é engenheiro de alimentos, explica que "a ráquila ou cacho, que é a parte de onde se debulha o fruto, juntamente com a borra que fica nas batedeiras do açaí, são descartados. Esses resíduos nem chegam perto do que representa o caroço em termos de quantidade gerada. No processo, 15% correspondem à polpa, os outros 85% são o caroço’".

DESAFIOS

Sobre o velho problema da eliminação irregular dos caroços, o pesquisador Diego Aires afirma que "o descarte necessita de uma fiscalização mais efetiva e maior cobrança por parte dos órgãos competentes, pois isso iria inibir o descarte indiscriminado desse resíduo".

"Dessa forma, as pessoas iriam ter um outro olhar para esse problema e isso poderia incentivar empreendimentos de reaproveitamento, o que seria um ganho para todos, pois haveria geração de renda para muita gente. Daí a importância das universidades e instituições de pesquisa, que já vêm demonstrando, há muito tempo, muitas oportunidades quando se fala em resíduo do açaí", pontua Diego.

No Pará, na maioria das cidades, a coleta dos resíduos do açaí é feita pelas prefeituras. Em Belém, há iniciativas como a coleta feita em bags (bolsas) por caminhões que vendem os resíduos para indústrias usarem como combustível em caldeiras. Além disso, algumas empresas destinam o caroço para comunidades que produzem adubo.

ESTUDOS

Os estudos sobre o reaproveitamento são diversos. O professor Diego Aires explica que "as pesquisas sugerem a queima em caldeiras industriais para geração de energia, utilização para artesanato, produção de móveis, uso da fibra para a produção de MDF, produção de carvão ativado que pode ser base para filtros de água, utilização em compostagem, entre outros".

Há pesquisas, diz o professor, que apontam o uso do extrato do caroço com ação antitumoral, assim como para produção de etanol de 2ª geração, ou tratamentos com ácidos que possam originar produtos interessantes para a indústria química, farmacêutica ou de alimentos.

"Contudo, a maior parte desses estudos fica no campo das pesquisas e ainda não se vê esses produtos produzidos ou pelo menos um interesse de investimentos nessa área", lamenta Diego.

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