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Como a reciclagem e o reaproveitamento dos resíduos podem ser transformadores?

Carlos Capela e Hyago Souza

À medida que a população e os impactos socioambientais continuam a crescer, a pesquisa e as políticas públicas passaram a priorizar economias mais sustentáveis e circulares, contudo a gestão de resíduos sólidos no Brasil ainda é pouco priorizada. Estima-se que a coleta de resíduos urbanos nos municípios brasileiros em 2018 chegou a 62,78 milhões de toneladas, e desse total apenas 1,6 milhões de toneladas foram coletadas por serviços de coleta seletiva, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). 

Esse cenário apresenta a dificuldade de como reintroduzir os resíduos na cadeia produtiva, agregando valor econômico e que sejam reutilizados. Com a coleta seletiva, muitos itens podem e devem ser “vistos” com potencial de reaproveitamento. Materiais descartados viram o mesmo produto ou são transformados em algo com outra utilidade, reintroduzindo-o na cadeia produtiva. 

Segundo a revista Nature, a maioria dos resíduos plásticos pós-consumo não é reciclado. E isso tem atraído pesquisas para produzir tecnologias que permitam o reaproveitamento e reciclagem dos resíduos. Pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, publicaram recentemente um estudo que demonstra as técnicas de reciclagem e reaproveitamento de plástico ao redor do mundo, concluindo que o maior desafio da reciclagem é o custo e a dificuldade de classificação e separação de componentes complexos. 

Para a Universidade do Estado do Pará (UEPA), a pesquisa e inovação proporciona um ganho notório na forma de instigar alunos e professores a produzir e difundir conhecimento. Como não pensar em gerar novos produtos a partir da transformação dos resíduos com potencial considerável de transformação? Em cursos do Centro de Ciências e Tecnologia, por exemplo, são reaproveitados plásticos, papéis, vidros, embalagens diversas, madeiras e sementes, propiciando a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos simples, sofisticados e complexos, assim como reaproveitamento de resíduos orgânicos (cascas de frutas, alimentos e sementes) na produção de doces, pães, biscoitos e sucos. Além disso, técnicas de reaproveitamento são repassadas a sociedade através de projetos de extensão em forma de oficinas e cursos de curta duração ofertados em escolas e comunidades. Ações que geram conhecimento, com a produção e publicação de artigos acadêmicos e científicos. 

Além disso, o Programa de Gestão “UEPA Ambiental” proporciona uma transformação na forma de pensar e agir com os resíduos produzidos na Universidade. A implantação do sistema de coleta seletiva nos Campi de Belém tem colaborado na geração de emprego e renda para catadores da região metropolitana. Todos os resíduos recicláveis são enviados para cooperativas parceiras que agregam valor econômico ao que para muitos é apenas “lixo”. Esses resíduos garantem a sobrevivência de muitas famílias que encontram nos resíduos uma oportunidade de emprego e cidadania. 

A reciclagem e o reaproveitamento de resíduos é algo que deve ter a intensa participação social, onde cada pessoa promove a separação dos resíduos reaproveitando em sua casa e dando a eles uma nova função. Ou simplesmente colocando em pontos de coleta seletiva para transformar a economia de uma parcela da sociedade que muitas vezes é esquecida.

Prof. Carlos Capela é pró-reitor de Gestão e Planejamento e Coordenador do Programa de Gestão UEPA Ambiental e Hyago Souza é Engenheiro Ambiental pela UEPA e Executor do Programa de Gestão UEPA Ambiental

 

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