EXCLUSIVO: suspeito de fraude no Enem em Marabá não agia sozinho
A reportagem de O Liberal teve acesso com exclusividade a informações que compõem a relatório produzido a partir da análise do celular de André Ataíde
André Rodrigues Ataíde, de 23 anos, suspeito de fraudar provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Marabá, sudeste do Estado, pode ter tido ajuda para burlar outros processos seletivos. A conclusão é da Polícia Federal. A reportagem de O Liberal teve acesso com exclusividade a informações que compõem a relatório produzido a partir da análise do celular do rapaz, apreendido em operação deflagrada no mês de fevereiro. No laudo, a Polícia Federal conclui que André agia sistemática, organizada e com a ajuda de dezenas de outras pessoas na fraude a provas de vestibular online em troca de compensações financeiras.
Constam no documento nomes de pelo menos 18 outras pessoas envolvidas no esquema que burlava os vestibulares, cuja atuação, de acordo com a polícia, era orquestrada por André. O laudo aponta ainda que o suspeito se valida das vulnerabilidades encontradas no sistema de aplicação das provas online para burlar as verificações de segurança. O documento não menciona quais instituições podem ter sido fraudadas, mas diversas instituições de ensino superior particulares da cidade oferecem a modalidade online para realização do exame de ingresso.
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Falsificação de documentos
Outros indícios encontrados na análise do celular de André Ataíde sugerem que ele também tenha adulterado documentos, como cédulas de identidade, atestados médicos e até cartões de vacinação. Em uma das conversas, a Polícia Federal flagrou uma troca de mensagem em que uma jovem reclama que a foto inserida por André na carteira de identidade não se parecia com ela. “André do céu... essa menina é muito diferente de mim. Com certeza, eles fazem conferência na matrícula”, diz a moça. Em outra conversa, uma mulher encomenda um atestado médico de cinco dias de afastamento, pelo qual André receberia a quantia de R$80,00.
Outros envolvidos
Com a análise das informações contidas no celular de André, a Polícia Federal chegou aos nomes de pessoas que teriam contratado o suspeito para fraudas vestibulares. Consequentemente, elas podem ter sido beneficiadas e talvez até estar cursando graduação em alguma instituição de ensino superior. Entre os supostos beneficiados, há pessoas residentes em várias regiões do Pará, mas também de estados como Goiás, Maranhão e Ceará. A relação dos citados tem os nomes de:
Adriano Ferreira de Melo
Andrea Khrisman Santos
Aylla Suriann Barbosa Galvão
Carlos Eduardo Rodrigues Campos
David Gabriel Cardoso Rocha
Eduardo Machado Lins Vasco
Evellyn Lavygne Pinheiro de Sousa
Giovanna Bezerra de Moraes
Jeovanna Gabryella Reges da Silva
Jhonata Fernando Meier Rocha
Julia Leticia de Souza Barbosa
Lucas Cunha Sá Maia Magon
Marcelo Feitosa Batista Gomes
Marcos Almeira
Maria Gabriela Queiroz Coelho
Maria Luiza Sousa Carvalho
Matheus Caetano Carlot
Murillo Monteiro de Paula
Paula Vivian Sousa Lima
Rochelmi Gomes Costa
Thais Maria Ferreira Simões
Outra relação de nomes mencionados no laudo produzido pela polícia é de pessoas que estariam trabalhando em conjunto com André na fraude das provas. O papel de cada uma no esquema não é esclarecido, mas a lista contém os seguintes nomes:
Adrielli Karpinski Pedroso
Alanna Isabella Alves Almeida
Ana Clara Castro de Barros
Beatriz Vasconcelos Torres
Camilla Rayane de Brito Lordão
Carlos Eduardo Alexandre Silva
Clarissa Petri Fernandes
Elton Arruda Costa
Erivelton Silva Pinto Junior
Gustavo Souza Araújo
Hiago Silva Rattes
João Felipe de Bessa Albino
João Lucas de Aguiar Sampaio
José Luiz Farias de Oliveira
Luiz Carlos Rodrigues Furtado
Maria Antônia de Melo e Carvalho Ramos
Rafaella Resende de Almeida
Thinan Anthony Leão Walfredo
O caso
A Polícia Federal deu início à Operação Passe Livre em fevereiro, em ação de combate a fraudes no Enem. A operação teve como um dos alvos André Ataíde, que estudava medicina na Uepa em Marabá e é suspeito de ter sido aprovado duas vezes no exame para curso, se passando por outras duas pessoas, Eliésio Ataíde e Moisés Assunção. Os três foram alvos de mandados de busca e apreensão na manhã do dia 16 de fevereiro. Nas casas dos investigados, foram apreendidos telefones celulares, provas do Enem de 2019 a 2023 e manuscritos.
A perícia da Polícia Federal constatou que as assinaturas nos cartões de resposta e as redações não foram produzidas pelos inscritos nos processos seletivos do Enem. Para se passar por outros candidatos, o suspeito de fazer as provas pode ter usado documentos falsos. As investigações apontam que André recebeu em torno de R$ 150 mil para realizar o exame no lugar dos verdadeiros candidatos. Durante as diligências da polícia, outro comportamento incomum foi verificado. No dia da prova do Enem, no dia 5 de novembro de 2023, Moisés trocou mensagens com a namorada dele por volta das 15h26 — horário da prova.
Com base na nota no Enem que, segundo a polícia, foi conseguida através de fraude, Eliésio e Moisés foram aprovados em Medicina, pela Universidade Estadual do Pará (Uepa), em Marabá, mas sem terem feito a prova. As vagas foram revogadas e devolvidas aos candidatos prejudicados pela prática.