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Belém: portal de entrada da Amazônia há quatro séculos

Primeira capital da região amazônica, cidade preserva memórias na arquitetura, na política e na economia

Elisa Vaz e Dilson Pimentel / O Liberal

Referência econômica e cultural na região Norte, a cidade de Belém é conhecida como a “metrópole da Amazônia”, mesmo com o crescimento de outras cidades em diferentes Estados, sendo maior expoente Manaus, no Amazonas. Porém, a história da colonização na Amazônia brasileira ganhou maior destaque na capital do Pará, que cresceu em tamanho e importância, e se consolidou ao longo dos séculos como uma das principais portas de entrada para quem visita a região amazônica. Na próxima quarta-feira, dia 12 de janeiro, Belém completa 406 anos.


Primeira capital da Amazônia, Belém foi fundada no ano de 1616 por Francisco Caldeira Castelo Branco, capitão-mor do Rio Grande do Norte que desembarcou com suas tropas na foz do Rio Guajará, ponto estratégico de defesa da região, com o objetivo de afastar do litoral norte os invasores holandeses e franceses.
 

A professora Ida Hamoy, da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que Belém se encaixa bem na denominação de metrópole, que se dá a uma cidade (pólis) que é a origem, início, referência (meter/mater) de uma região. “Belém tem essa referência de origem, de entrada, é a referência da região amazônica. Foi a primeira cidade ‘fundada’ oficialmente na região Norte e de onde partiu o processo de colonização e conquista. De uma região inicialmente desprezada pelos conquistadores, despertou o interesse após a expulsão dos franceses do Maranhão pela coroa ibérica”, diz.

Ida ressalta que, na data de sua “fundação” (1616), Portugal e Espanha estavam reunidos sob uma coroa unificada no reinado do Rei Filipe III, período que ficou conhecido na história como “União Ibérica” (1580-1640), estabelecida a partir da crise sucessória após a morte do Rei de Portugal, D. Henrique, que sucedeu seu sobrinho, D. Sebastião, e ambos não possuíam herdeiros.

Segundo a estudiosa, dessa forma, o Rei Filipe III, rei da Espanha, com o apoio da nobreza portuguesa assumiu a coroa portuguesa com o título de Filipe II de Portugal, e teve como prerrogativa de sua governança manter os portugueses nos cargos relacionados à administração das colônias, inclusive o Brasil. No entanto, a grande contribuição espanhola foi a regularização de procedimentos administrativos e judiciários.

Por conta dos conflitos entre a coroa espanhola e a coroa francesa, foi ordenada por ordem real a expulsão dos franceses do Maranhão e a conquista da Amazônia pela fundação de uma cidade localizada na entrada do grande rio Amazonas. E, posteriormente, o rei determinou a divisão do Brasil em dois estados: o Estado do Maranhão, que englobava os estados do Maranhão, Pará e Ceará, e o Estado do Brasil, que englobava o restante do território.

De acordo com a professora, fundada em 1616 com o nome de Santa Maria de Belém, a cidade, de fato, se configura como o início da colonização da região e uma zona de contato de grandes processos de mestiçagens, que consolidou essa identidade de culturas ibero-italianas, indígenas, caribenhas e africanas. “E, hoje, é reconhecida mundialmente pela gastronomia, religiosidade, danças, músicas e diversidade de patrimônios”, lista a professora Ida Hamoy.

Prédios que contam a história da cidade

Hoje, a região de origem da cidade chama-se “Feliz Lusitânia” e reúne um complexo no centro histórico que abriga não apenas o Forte do Castelo, mas também construções como a praça Dom Frei Caetano Brandão, a Casa das Onze Janelas, a Igreja de Santo Alexandre (Museu de Arte Sacra), e a Igreja da Sé (Catedral Metropolitana de Belém), pontos turísticos importantes da capital.

“A partir do final do século XX, a gente começa a perceber uma diferença socioeconômica em relação à Amazônia, e é nesse período que ela ganha o título de metrópole da Amazônia, mas, anteriormente, várias outras denominações da cidade, como a Francesinha do Norte, Estrela do Norte, a Grande Capital, a Cidade das Mangueiras, já demonstravam essa importância da capital não só para a região, mas para o resto do país como um todo. Atualmente, Belém garante, no Brasil, uma estrela muito importante não só na sua produção cultural, gastronômica e musical, mas também do ponto de vista do imaginário. Nosso imaginário é muito forte em relação às raízes negras, indígenas e portuguesas. Essa garantia é fundamental”, acredita.

Para o historiador, Belém é muito rica culturalmente e essa riqueza se dá através das mais diversas formas, seja por meio de sua definição histórica, da música, através da comida e até da manifestação da dança. “Temos ainda outras apresentações, como é o caso do brega e da tecnologia das aparelhagens nos últimos 40 anos”, diz.

Títulos à parte, Michel define a capital paraense como uma cidade plural. “Belém é a cidade da pluralidade da Amazônia. Aqui você encontra floresta a cinco minutos com o Combu, encontra prédios de 40 andares, encontra uma diversidade do ponto de vista da produção cultural, que vai da ópera à aparelhagem, do grafite à fotografia. Belém é uma cidade que se irmana ao resto do país a partir da sua pluralidade”, afirma.

Para o futuro, o presidente acredita que a capital paraense precise ultrapassar algumas barreiras econômicas importantes, produzindo conhecimento virtual ou real, fortalecendo sua economia e gerando riqueza, sobretudo, do ponto de vista social. Segundo ele, para que Belém seja, de fato e de direito a Metrópole da Amazônia, é necessário um grande acordo nacional. “A gente precisa pensar em um grande plano nacional, que envolva o município, o estado e a federação, para construção de plataformas de crescimento, que obrigatoriamente passam pela diminuição da desigualdade social”, aponta.

Ver-o-Peso, feira livre é parada obrigatória

O Ver-o-Peso é um entreposto comercial da cidade que não dorme e reúne a integração do morador da cidade com o ribeirinho. “Começa com a venda do açaí e do peixe ainda de madrugada. Depois, acorda o hortifruti, as ervas, vai acordando setor por setor, até o de refeição, cujo pico é meio-dia. Atendemos todas as feiras pequenas da nossa cidade e, também, os ribeirinhos”, conta o coordenador-geral do Instituto Ver-o-Peso, o feirante Manoel da Silva Rendeiro, mais conhecido como Didi do Ver-o-Peso.

Para atuar no complexo, por onde circulam cerca de 30 mil pessoas por dia, 1.150 trabalhadores estão cadastrados na Prefeitura Municipal, e cada um tem dois ou três auxiliares. Segundo Didi “do Ver-o-Peso”, chegando a Belém, a parada no Ver-o-Peso é obrigatória. “Tem que ir, tem que provar do açaí, do peixe”. Sobre o futuro da feira, porém, ele se diz preocupado. “Hoje tu tens o Ver-o-Peso tombado, mas as atividades não são tombadas, e essa é a nossa luta. E uma das maiores preocupações nossas é fazer com que as atividades sejam tombadas também para que o Ver-o-Peso não venha a acabar”, pede.

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