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Projeto Amazônia Viva inspira a criação no meio das artes

O objetivo é valorizar o maior bioma do mundo a partir da perspectiva artística produzida na região

A segunda edição da live Amazônia Viva, do Grupo Liberal, recebeu a indígena multiartista Marcia Kambeba e o músico paraense Manoel Cordeiro para um bate-papo que tratou de como a Amazônia influencia nas obras dos artistas. A live foi conduzida por Gisa Smith e Bruna Lima, do Grupo Liberal, na última quinta-feira (28).

Tanto Marcia Kambeba como Manoel Cordeiro são artistas que conseguem imprimir por meio de suas artes a identidade da Amazônia. Seja no modo de vestir, nas falas, nas causas que defendem e entre outros aspectos.
Os dois convidados têm um vasto currículo e buscam se apropriar da cultura para fazer ativismo ou ter consciência de pertencimento. 

Manoel Cordeiro iniciou sua participação falando da importância das artes para a geração de emprego e renda. "As artes, a música e entre outras expressões artísticas geram uma cadeia produtiva como forma de desenvolvimento da Amazônia para que não precisemos sair para sobreviver da arte na Amazônia", destaca o músico.

Para Marcia Kambeba, falar de Amazônia, antes de qualquer coisa, é preciso sentir e vivenciar esse espaço. "É preciso entender que nosso ser é amazônico e que nós, por sermos da Amazônia, temos o sangue dos povos originários, o sangue dos povos indígenas. É por isso que todo meu trabalho, minha música, minha fotografia e minha literatura perpassam por essa veia de falar dessa Amazônia que comporta outras Amazônias e vamos divulgando e fazendo com que esse eco chegue em todos os lugares", inicia Kambeba.

Marcia Kambeba é escritora, fotógrafa, atriz e cantora, e conta que desde criança, quando ainda morava na aldeia Ticuna, em Belém de Solimões, no Amazonas, sempre envolvida com a arte em diversos âmbitos. A artista percorre todo o Brasil e a América Latina com seu trabalho autoral, discutindo a importância da cultura dos povos indígenas, em uma luta descolonizadora que chama para um pensar crítico-reflexivo sobre o lugar atual dos povos originários sul-americanos.

Na aldeia, ela recebia influência direta da avó, que cantava e produzia as próprias letras. Para Kambeba, a produção de trabalhos em diferentes ramos artísticos é uma forma de transformar os anseios e o ativismo em obras artísticas. Os seus poemas mostram as lutas, as conquistas e a resistência de seu povo.

Pesperctiva
O projeto Amazônia Viva busca valorizar a Amazônia a partir da perspectiva artística produzida na região. E desde o ano passado o evento live vem convidando artistas do Pará e de outros estados que tenham a Amazônia como inspiração. No dia 14 de novembro o projeto terá edição impressa que vai abordar a Amazônia em diferentes aspectos: econômico, natural, social e cultural, como forma de fazer reflexão de forma mais completa.

Artista indígena fala sobre a ocupação dos espaços e preconceito

Muitas das letras compostas por Marcia Kambeba se transformam em músicas e mesmo sem tocar nenhum instrumento de corda ela diz que consegue chegar a um resultado com linha melódica. Sobre a ocupação de todos esses espaços, seja nos palcos ou na academia, cursando atualmente doutorado em Letras, a indígena diz que enfrenta estranhamento por parte da sociedade.

"Em pleno 2021 ainda escutamos falas preconceituosas e discriminatórias. Causa estranhamento e espanto por parte de muitas pessoas. Escuto frases como ' você é uma índia culta'. Isso causa estranhamento principalmente quando participo de palestras fora do Brasil e vejo esse tipo de atitude, principalmente, dos próprios brasileiros", disse Kambeba.

A indígena falou sobre a importância da aldeia e do território para os povos indígenas. Uma criança que cresce entendendo que o rio é seu professor, uma criança sabendo que ela é arvore e que precisa estar entre troncos. “A brincadeira mais gostosa é trepar nas árvores e andar de canoa. No palco eu recito, conto história, canto, mostro fotografias”, destaca a indígena sobre a importância de se orgulhar da Amazônia.

Cuidar desse ambiente é um ato urgente para Kambeba, pois pensar na Amazônia juntos é uma forma de preservar a vida, a cultura e a história de um povo. “Se atuássemos de forma coletiva, tudo seria diferente, mas esse ideal ainda está longe”, pontua a indígena.

Várias referências regionais mesclam a obra do guitarrista

O guitarrista Manoel Cordeiro, fundador do grupo Warilou, trilha um caminho cheio de personalidade no universo musical. Para ele, a música da Amazônia é classificada como música brasileira feita na Amazônia. E ele diz que toda essa influência do ambiente amazônico influencia diretamente na sua carreira. Ele nasceu no Marajó, mas ainda criança foi para Macapá, onde conheceu o marabaixo. Depois passou a morar em Belém e teve contato com o carimbo elétrico e toda essa vivência ajuda a mesclar as referências na carreira do artista.

“A minha música tem sempre um viés cultural forte. Para mim é muito claro que toda essa mistura e toda essa minha vivência é Amazônia. A gente sai do Pará e sai da Amazônia, mas ela não sai da gente. É muito importante uma ação conjunta do artista, para a coisa fluir. A gente precisa ter consciência coletiva sobre nossas potencialidades”, destaca o músico.

Durante a live, Manoel e Márcia mostraram um pouco de suas obras. Manoel fez um solo de violão e Márcia declamou um de seus poemas.

E sobre o papel do artista com relação ao cuidado com o maior bioma do mundo, ele explica que na medida que o artista dá visibilidade para a Amazônia de forma sincera e denuncia as questões ambientais, sociais e culturais é uma forma de contribuir com a história e preservação da Amazônia e da humanidade. "É muito importante que a classe artística possa falar disso por meio da arte", destaca.

O artista começou a tocar ainda criança, já que tinha influência direta de familiares. Ele começou em banda de baile e em determinado momento dividiu a carreira da música com a de bancário. Na década de 1980, trabalhou na criação do estúdio Gravasom, de Carlos Santos, que tinha selo, rádio e loja de discos.

Em 1987, Manoel Cordeiro foi contratado como músico e arranjador de Beto Barbosa e, logo depois, começou a produzir o artista, que chegou a vender 1,5 milhão de cópias por álbum, um sucesso estrondoso que acabou atraindo quem não era do ramo.

Vale