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Cultura alimentar nutre afetos, corpo e alma

Percepção sensorial sobre a comida gera diferentes efeitos no dia a dia

Dayane Baía | Especial para O Liberal

Muito antes de a ciência comprovar, as culturas tradicionais já reconheciam o poder curativo dos alimentos. O gengibre e o mel para aliviar tosses e dores de garganta; o alho, com seu efeito antibiótico natural; a cúrcuma, usada há séculos por suas propriedades anti-inflamatórias. No Pará, o tucupi, o jambu, a castanha e o açaí também são vistos como alimentos de força e vitalidade.

A relação com os alimentos foi tema do podcast "Entre Nós", um espaço para conversas diretas e objetivas, onde profissionais de diversas áreas compartilham seus conhecimentos e experiências para ajudar os ouvintes a terem uma vida mais saudável e feliz. A convidada do episódio foi a jornalista Lorena Filgueiras, autora de “Memórias de um Filho do Fogão”, biografia do chef Paulo Martins, um dos maiores nomes da gastronomia amazônica.

Comer e cozinhar são formas de comunicar sentimentos — de amar, de cuidar, de se aproximar. Podem ser formas de fuga, quando o alimento passa a preencher vazios que não cabem no estômago. A comida também oferece cura, por meio de uma nutrição integral, que considera corpo, mente e território. 

“Nosso corpo entende a comida como informação”, explica Lorena. “O que colocamos no prato comunica algo às nossas células. Uma refeição feita com calma, com ingredientes frescos, preparada com amor, tem um impacto completamente diferente daquilo que vem pronto, ultraprocessado e cheio de aditivos.”

Além do aspecto físico, há também a dimensão emocional e espiritual da comida como cura. O ato de cozinhar pode ser terapêutico — uma pausa no caos cotidiano, uma forma de presença. “Cortar, temperar, mexer uma panela... tudo isso pode se tornar uma meditação. É um jeito de cuidar da gente e de quem amamos”, completa a jornalista.

Ao falar do chef Paulo Martins, símbolo da valorização da gastronomia amazônica, Lorena se emociona. “O mérito do Paulo foi mostrar ao mundo que a Amazônia tinha muito a ser vista. Sua ousadia foi afirmar que a comida de rua é o máximo da sofisticação da cozinha. Ele queria que as boieiras ensinassem os chefs — e não o contrário.”

O chef, que trocou a arquitetura pela culinária, via o alimento como um universo de significados. “Ele tinha o que chamava de ‘caixinha de sabores’, uma memória gustativa incrível. Sabia transformar o simples em extraordinário. O famoso ‘muçuã de botequim’ nasceu quando ele reinventou a receita tradicional de tartaruga, proibida à época, usando carne bovina do peito. Mas o segredo não era só a técnica — era o respeito. Ele queria saber quem produzia, de onde vinha, em quais condições. Era um estudioso da cultura alimentar.”

Para entender mais sobre o tema, acesse o episódio do podcast 'Entre Nós', que está disponível em OLiberal.com/play e é uma parceria com Max Domini.