Prometeu Série A, entregou Série C: o roteiro do fracasso do Paysandu em 2025
Expectativa de acesso, erros de gestão e um Brasileirão da Série B vexatório, que terminou em rebaixamento precoce, marcaram o ano do clube bicolor
Ilusão é a palavra que define a temporada 2025 para o Paysandu. O clube entrou o ano falando em acesso para a Série A, empolgou o torcedor nos primeiros meses, mas encerrou o Brasileirão da Série B rebaixado, após uma campanha desastrosa que escancarou falhas de planejamento, gestão de elenco e leitura do próprio tamanho do futebol atual.
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Para entender o fracasso, é preciso voltar ao fim de 2024, quando Roger Aguilera venceu a eleição presidencial e assumiu o comando do clube para o biênio 2025/2026. Bicolor declarado e ligado a uma tradicional família de empresários, Roger chegou prometendo novos rumos justamente no momento em que o Paysandu retornava à Série B. O discurso era de ambição, e o mercado foi explorado com apostas em nomes pouco conhecidos do torcedor local, sobretudo estrangeiros, além da manutenção de parte do elenco que vinha da Série C.
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Ao todo, o Paysandu anunciou 11 reforços no início do ano, contemplando todas as posições. Entre eles, o nome que mais chamou atenção foi o do atacante paraense Rossi, contratado como símbolo do novo momento, a cereja do bolo bicolor. Experiente, com passagens importantes por clubes como Vasco e Bahia, Rossi chegou com status de líder, participou de ações promocionais, ganhou o apelido de “Búfalo” e verbalizou publicamente que o objetivo era o acesso à Série A. A fala empolgou uma torcida que, na prática, pouco conhecia o restante do elenco, que veio a se mostrar bem abaixo das expectativas.
Dentro de campo, o início de temporada ajudou a sustentar ainda mais a ilusão. O Paysandu começou bem o Campeonato Paraense, com vitórias largas e boas atuações. Ainda que o nível técnico da competição não fosse parâmetro confiável, o torcedor se deixou levar, se empolgou. O empate no primeiro RexPa e a campanha sólida nas rodadas iniciais reforçaram a sensação de que o time estava “no caminho”, mesmo sem novas contratações à vista.
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Na Copa Verde, o roteiro se repetiu. O Paysandu avançou, eliminou Porto Velho e Manaus, enquanto via o principal rival cair precocemente. A zoação foi muita aos remistas, mesmo com os alertas lá — atuações irregulares, elenco curto, desgaste físico. O técnico Márcio Fernandes, que comandou o acesso na Série C, chegou a pedir reforços e alertar para o calendário pesado. Não foi atendido e acabou demitido ainda em fevereiro.
A aposta seguinte foi em Luizinho Lopes, tratado como treinador de uma nova geração. O discurso se manteve: necessidade de reforços, promessa de chegadas. Elas não vieram a tempo. Quando a Série B começou, o Paysandu foi rapidamente colocado em seu lugar. Estreou perdendo em casa para o Athletico-PR e, nas rodadas seguintes, empilhou maus resultados. Derrotas, empates e atuações frágeis colocaram o clube cedo na zona de rebaixamento — espaço do qual não sairia durante 35 das 38 rodadas. A derrota virou habitual, empate era lucro.
A Copa do Brasil, diante do Bahia, funcionou como um choque de realidade. Mesmo enfrentando um adversário que vinha com um time alternativo, o Paysandu foi dominado nos dois jogos, especialmente na goleada por 4 a 1 fora de casa. O elenco curto estourou fisicamente, as lesões se multiplicaram e o time passou a jogar remendado. Alguns jogadores reclamaram publicamente de cansaço. Pouco depois, Luizinho foi demitido após uma sequência de dez jogos sem vitória.
Na tentativa de evitar o pior, o clube apostou em Claudinei Oliveira e abriu os cofres nas janelas seguintes. Vieram mais de dez reforços, alguns experientes, outros apostas. Houve uma reação pontual: dez jogos de invencibilidade, mais empates do que vitórias, e a falsa sensação de retomada. A goleada por 5 a 2 sobre o líder Coritiba, fora de casa, reacendeu a esperança do torcedor, mas foi apenas um ponto na curva de um time que já estava afundado.
Na reta final, mais derrotas e a demissão de Luizinho. Ironicamente, o Paysandu recorreu a Márcio Fernandes, quem havia demitido em fevereiro, para tentar o milagre da permanência. Mas o cenário já era de desmobilização. Jogadores experientes foram afastados, atletas da base ganharam espaço por necessidade, a Curuzu esvaziou e o discurso mudou: não se falava mais em reação, em permanência, nada. O rebaixamento foi confirmado de forma antecipada, com derrota para o Atlético-GO, selando uma campanha com apenas cinco vitórias, 13 empates e assustadoras 20 derrotas — números que colocam 2025 entre os anos mais vexatórios da história recente do clube.
O último capítulo veio fora de campo. Em 22 de dezembro, Roger Aguilera renunciou à presidência, deixando o cargo nas mãos do vice, Márcio Tuma. A saída foi recebida com alívio por grande parte da torcida, que apontava a gestão como principal responsável pela sucessão de erros. Para o torcedor bicolor, 2025 terminou como um aviso: no futebol atual, promessas sem estrutura e planejamento viram ilusão — e a conta sempre chega.
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