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O dia em que o tabu caiu: há 28 anos, Wagner cravou seu nome na história do Paysandu

No dia 7 de junho de 1997, o Paysandu venceu o Remo por 2 a 0 e encerrou uma sequência de 33 jogos sem triunfos no maior clássico do Pará.

Iury Costa

Estádio Mangueirão, Belém, 7 de junho de 1997. Naquela tarde de sábado, há exatos 28 anos, um dos maiores tabus do futebol brasileiro foi quebrado. O Paysandu venceu o Remo por 2 a 0 e encerrou uma sequência de 33 jogos sem triunfos sobre o maior rival. Um jejum incômodo, pesado, que se arrastava por exatos quatro anos, seis meses e 24 dias — desde 31 de janeiro de 1993, quando os times empataram sem gols pelo Torneio Pará-Ceará.

De lá até aquele sábado histórico, foram 33 partidas, com 21 vitórias do Remo e 12 empates. Mais que isso: nesse período, o Leão Azul foi campeão paraense cinco vezes consecutivas, empilhando taças enquanto o Papão convivia com a dor do revés repetido. A cada clássico, a esperança renascia e morria em campo. O tabu não era apenas uma estatística — era uma ferida aberta.

Na tarde que mudou essa história, foi Wagner Aquino quem escreveu, com chute firme e cruzado, o ponto final dessa longa espera. O gol que sacramentou a vitória virou alívio, grito entalado, catarse coletiva. Desde então, seu nome ecoa entre os bicolores com a mesma força das conquistas mais grandiosas.

Em entrevista ao O Liberal, Wagner relembrou os bastidores daquele momento inesquecível. A preparação, segundo ele, começou semanas antes, com a sua chegada e a de Julinho a Belém.

“Nós chegamos com a incumbência de vencer o Remo. Era uma das metas que nos foram colocadas. Sabíamos do peso desse tabu. Quando perdemos o primeiro jogo por 2 a 1, sentimos ainda mais forte essa necessidade de vencer o segundo”, recorda o ex-atacante, hoje com 56 anos.

O primeiro turno serviu como aprendizado. Apesar do gol de Julinho que abriu o placar, o Paysandu sentiu o baque do clima, da umidade sufocante, do gramado pesado do Mangueirão. “No segundo tempo, não suportamos e eles viraram o jogo. Aquilo incomodou muito.”

Mas a segunda partida foi diferente. Mais entrosados, mais adaptados e cientes da responsabilidade, os jogadores do Papão entraram com outra postura. “A preparação foi ainda mais intensa. A gente convivia com o peso daquele tabu e sentia no torcedor, nos funcionários do clube, o quanto aquilo precisava acabar. Vencer aquele jogo virou algo pessoal, coletivo e histórico", conta.

O clássico foi tudo, menos simples. Edinho abriu o placar, mas o Remo reagiu. Teve pênalti, teve expulsão de Carlinhos Itaberá e drama em dobro. “A gente já pensava: será que de novo vamos perder o controle? Mas o Claudesi pegou o pênalti e ainda defendeu o rebote. Aquilo nos deu força", lembra Wagner.

O golpe final veio dos pés de Wagner, após belo lançamento de Souza.

“Recebi do lado direito, botei na frente e bati cruzado. Foi um chute forte, certeiro. Quando a bola entrou, eu soube: a página tinha sido virada. O torcedor comemorou como se fosse um título — e de certa forma era mesmo.”

Assista os gols e a comemoração do Paysandu


Com o passar dos anos, Wagner percebeu a verdadeira dimensão do feito. “Na época, eu tinha noção. Mas com os anos, fui entendendo melhor. As pessoas me paravam, lembravam, até em outros estados. Torcedores do Paysandu ainda falam disso com carinho. Já os do Remo, nem tanto”, brinca.

Mesmo tendo conquistado outros feitos, como o título paraense invicto de 1998ano em que foi artilheiro —, Wagner não titubeia: nada se compara àquela tarde. “Vencer o rival depois de tanto tempo era necessário. Aquela vitória abriu um novo ciclo para o clube. A história não apaga isso.”

De fato, não apaga. O jogo de 7 de junho de 1997 virou símbolo de superação, de mudança de rota. Um ponto de virada. Dali em diante, o Paysandu retomaria o protagonismo que a torcida tanto exigia.
“Vai fazer 28 anos agora, vai chegar a 30, 35… e ainda vão lembrar”, diz Wagner. E vão mesmo.

 

*(Iury Costa, estagiário de jornalismo sob supervisão de Caio Maia, repórter do Núcleo de Esportes)