Radicada no Pará e pentacampeã Sul-Americana de karatê, Sônia Coutinho relembra inicio de carreira
Karateca chegou a competir grávida para realizar sonho no esporte e foi eleita uma das maiores atletas da JKA
O esporte sempre permite conhecer histórias inspiradoras, de muitas lutas e conquistas. A maranhense de nascença, mas paraense de coração, Sônia Coutinho, por exemplo, saiu do seu estado em busca do sonho de chegar a Seleção Brasileira de karatê. Depois de 18 anos ela não só conseguiu atingir o objetivo como também carrega consigo uma trajetória cheia de significados e vitórias.
Sônia tornou-se pentacampeã Sul-Americana kumite individual e brasileira da categoria, Hoje, acumula 22 lutas pela Seleção. Depois de ter enfrentado tantas dificuldades e competido grávida, a karateca foi eleita a segunda maior atleta da Federação Japonesa de Karatê (JKA).
Em entrevista a equipe de Esportes de OLiberal.com, a karateca contou a sua história e relembrou suas conquistas. Confira:
OLiberal: Conta para a gente um pouco da sua história do karatê.
Sônia Coutinho: Eu tenho algumas vivências em outras artes marciais, como no jiu-jitsu e muay thai. Minha trajetória começou aos sete anos. A priori, minha mãe queria que eu fosse bailarina, mas eu sempre admirei e gostei muito da luta. E hoje eu sou bailarina marcial, eu diria isso. Cheguei no Pará há cerca de 18 anos, a minha cidade natal é São Luís, no Maranhão. Meu objetivo, quando cheguei aqui, era melhorar o meu nível técnico, chegar na Seleção Brasileira.
OL: Por que você escolheu o Pará para morar e fazer uma carreira no esporte?
SC: Eu escolhi o Pará, especificamente Belém, porque aqui é um celeiro das artes marciais. Aqui nós temos excelentes profissionais em todos os seguimentos do esportes. E por ficar mais próximo ao meu estado natal, eu decidi vir embora e treinar com o sensei Machida. Eu já havia feito alguns cursos, participado de eventos e competições que eu havia conseguido títulos importantes. Então, eu resolvi ir atrás e buscar os meus sonhos.
OL: Tens uma história muito curiosa que foi quando você disputou uma competição grávida…
SC: Uma das vitórias mais importantes para mim foi a do Campeonato Sul-americano de 2011, eu havia sido campeã quatro vezes seguidas da competição e, naquele ano, o evento foi no Pará, onde todos os meus amigos puderam vivenciar e eu descobrir que estava grávida. Então foi muito difícil tomar a decisão entre abandonar a disputa ou continuar, porque, de certa forma, era um risco que eu corria, afinal eu sou atleta de luta. Mas eu aprendi a buscar os meus sonhos, decidi lutar e fui campeã Sul-Americana e com uma final contra uma argentina. Isso é uma coisa que me deixa muito emocionada, porque foi no estado que eu amo, aquele momento era único para mim porque eu ia ser mãe, era muito importante porque foi onde eu me tornei pentacampeã Sul-Americana de karatê. Todos os torneios têm suas histórias particulares, mas esse, para mim, foi incrível. Não só pelo título, mas pelo selo que trouxe na minha vida, tanto que meu filho se chama Vinicius Katsuo, que significa criança vitoriosa.
OL: Que tipos de dificuldades você enfrentou para conseguir realizar os seus objetivos no esporte?
SC: Eu enfrentei vários desafios. Pelo fato de ser mulher, não morar no estado que eu tinha decidido treinar. Logo que eu cheguei no Pará passei por muitas dificuldades financeiras, com o sotaque e também não tinha condições para pagar um local para treinar. Então fiquei alojada em uma academia de amigos e eu dormia no chão do tatame, passei oito meses dormindo assim. Vivenciava o karatê diariamente. Passei fome algumas vezes, mas não desisti. Encontrei o apoio da minha família e dos meus professores, isso tudo foi muito enriquecedor para o meu desenvolvimento técnico, pessoal e moral. Eu treinava praticamente seis horas diárias, não tinha muitos recursos como os atletas de alto rendimento têm, mas eu contava com uma disposição, coragem e determinação imensa. Assim como eu, muitos atletas enfrentam problemas para conseguir patrocínios, acho que essa é uma das maiores dificuldades que a gente tem. Porque é um custo para participar, para se manter tecnicamente ativa e se superar. É uma guerra que precisamos ganhar fora - que são os recursos que temos que conseguir -, uma para se preparar, e a outra, eu digo que é a mais fácil, que é quando você está dentro do kotô - local da luta.
OL: Hoje, você ainda participa de competições?
SC: Este ano, estou voltando aos tatames, vou disputar o campeonato Brasileiro em Arujá, no dia 18 de maio, seletiva para Sul-Americano, que será no Chile, em setembro, porque eu amo lutar, eu gosto de desafio, eu me sinto muito orgulhosa de representar o Estado do Pará, o Brasil, o som do hino nacional tem um significado de honra para mim.
OL: O que o esporte significa para você?
SC: Hoje eu tenho dois filhos, dois meninos, que treinam karatê. Consegui montar um dojô (local onde se treina artes marciais), consegui fazer a minha trajetória na Seleção Brasileira, que era um sonho de menina. Eu me espelhei em grandes atletas e essas pessoas serviram de incentivo. A vida é cheia de desafios e medalhas enferrujam, títulos são esquecidos, mas o aprendizado que você traz, o que isso representa para você, para a sociedade, para os filhos, família e para todos aqueles que te seguem e te admiram é muito importante. E eu sou muito grata, porque eu fiz do Pará a minha residência, hoje sou paraense de coração, amo o meu estado do Maranhão, mas aqui foi uma trajetória muito significativa na minha vida.
(Aila Beatriz Inete, estagiária, sob supervisão de Pedro Cruz, coordenador do Núcleo de Esportes)
Palavras-chave