Historiador destaca Jango e Quarenta, como os grandes craques paraenses
Lóris Baena, um dos mais antigos cronistas do Brasil, fala sobre o futebol do passado
Lóris Baena Cunha hoje com 94 anos de idade e perfeitamente lúcido veio mais uma vez a Belém do Pará, cidade em que nasceu, como faz todos os anos na época do Círio de NS de Nazaré.
Lóris Baena que reside no Rio de Janeiro nasceu em Belém do Pará e na década de 40 do século XX se mudou para o Rio de Janeiro, onde ficou residência e constituiu família. Mas em outubro, todos os anos, vem a Belém para o Círio de Nazaré e rever familiares e amigos.
Um dos mais abalizados cronistas esportivos brasileiros, Lóris Baena teve a felicidade de conhecer e conviver com Charles Miller, estudante paulista que introduziu o futebol no Brasil, depois de concluir seus estudos na Inglaterra e trazer para o Brasil uma bola de couro, início de tudo.
Da convivência com Charles Miller e depois de várias conversas, Lóris Baena foi pesquisar os jornais que se editaram a partir de 1890 em São Paulo, concluindo os originais de um livro fantástico: “A Verdadeira História do Futebol Brasileiro”. Quem já conseguiu ler esse livro ficou tomando conhecimentos dos primórdios do futebol no Brasil.
Aproveitando a estada de Lóris Baena Cunha em Belém, o autor desta seção domingueira o entrevistou, tendo falado sobre o futebol paraense, brasileiro, craques, artilheiros, cronistas esportivos e até de entidades de cronistas esportivos. Ei-la:
P – Onde Lóris Baena nasceu e nomes de seus pais.
R – Nasci em Belém do Pará no dia 11 de março de 1924, na Rua Paes de Carvalho, hoje Senador Manoel Barata. Sou filho de Álvaro Cunha e da professora Luiza Baena Cunha. Minha família foi originária da Espanha, cidade de Baena. Alguns dos Baena emigraram para Portugal e Brasil.
P – Como iniciou no jornalismo esportivo?
R – Entrei para o jornalismo em 1945, na Folha do Norte e na Rádio Clube do Pará, seguindo para o Rio de Janeiro em 1946, trabalhando, inicialmente na “Folha Carioca” e no ano seguinte fui para São Paulo, entrando na Revista “Mundo Esportivo”. Voltei para o Rio de Janeiro, em 1953, ingressando na “Luta Democrática” e Rádio Rio de Janeiro. Fui o fundado da OBE, Organização Brasileira de Esportes. Depois, prossegui, trabalhando em vários jornais, revistas e emissoras de rádio.
P – Fale sobre o livro “A Verdadeira História do Futebol Brasileiro”.
R – Um dia fui levado pelo saudoso amigo Ari Silva, importante jornalista de São Paulo, para conhecer pessoalmente o grande Charles Miiller, o “pai do futebol brasileiro”, com ele tomando conhecimento de como ensinou jovens brasileiros a jogar futebol. A partir daquele dia, comecei a me interessar pelo passado do nosso futebol, incentivado por Charles Miller. Diariamente consultava os jornais antigos, desde 1890, na Biblioteca Estadual de São Paulo e posteriormente na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro e foi assim que me tornei historiador do jogo mais popular do Brasil.
P – Quais foram os grandes craques do futebol paraense que o senhor viu atuar?
R – Quando iniciei a carreira em Belém, em 1945 os jogadores mais badadalos eram Jango, Quarenta Lebrego, Dilermando Dias, Manoel Pedro, Pedro, Nascimento, Jayme Fiel de Lima, Pinheras, Hélio, artilheiros impressionantes. De Vaney, um dos mais notáveis cronistas brasileiros, cita em uma de suas colunas, chamando a atenção para os maiores artilheiros do futebol brasileiro, que em um jogo disputado no Recife, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções, no Recife, em 1939, que no jogo Pernambuco 15 x 0 Paraíba, que o artilheiro paraense Jango anotou nada menos do que oito gols, entrando para a história essa marca impressionante desse craque paraense. Posso citar ainda como craques excepcionais, Mimi Sodré, Quarentinha Lebrego, Vevé, Sócrates, Ganso e Otávio de Moraes.
P – Na sua opinião qual foi o maior craque do futebol paraense?
R – Quarentinha Lebrego (Waldir Cardoso Lebrego), filho do velho Quarenta Lebrego. A nível de Brasil, cito Pelé como o maior craque dos nossos gramados em todas as épocas.
P – Cronistas esportivos célebres que lhe chamaram a atenção.
R – Geraldo José de Almeida, Luciano do Vale, Oduvaldo Cozzi, Solange Bibas, Barbosa Filho, Mauro Pinheiro, Luiz Mendes, Fiori Gigliotti, De Vaney, Nélson Rodrigues, Ary Silva, Flávio Adauto e Ricardo Serran.
P – E quanto aos dirigentes do futebol nacional, quem mais se destacou?
R – João Havelange, Charles Miller, Rubens Moreira, Athiê Jorge Cúri, Paulo Machado de Carvalho, Eraldo Leite, Francisco Horta.
P – Maior técnico do futebol do Brasil.
R – Flávio Costa.
P – Melhor seleção do Brasil.
R – Gilmar; Djalma Santos, Mauro Ramos, Wilson Piazza, Nilton Santos; Zito, Didi; Garrincha, Tostão, Pelé, Pepe.
P – O senhor ainda atua na crônica esportiva?
R – Faço palestras sobre a introdução e a evolução do futebol brasileiro, em raras oportunidades.
P – Fale sobre a fundação e possível extinção da Abrace.
R – Sou um dos fundadores da Abrace, Associação Brasileira de Cronistas Esportivos, acontecimento que se concretizou em janeiro de 1974, idealizado pelo cronista esportivo Mauro Pinheiro, denominado de “o príncipe da crônica esportiva brasileira”. Nessa ocasião ficou acertado que de dois em dois anos, haveria a eleição. Para ser empossada uma nova diretoria e que todos os estados tivessem a oportunidade e primazia de dirigir a Abrace, nas pessoas dos presidentes das entidades estaduais de cronistas esportivos. Porem, o presidente que tomou posse em 1990, modificou o Estatuto e se perpetuou na presidência. O último Congresso que tomei parte foi realizado em Goiânia, em 2013 como o presidente no poder há 23 anos. As entidades estaduais que não concordaram, se desfiliaram e fundaram a Associação dos Cronistas Esportivos do Brasil, reconhecidas pelas entidades que dirigem o esporte brasileiro. Portanto, sou também fundador da ACEB e nem sei se a Abrace foi extinta ou passa por momentos aflitivos.
P – Algo mais para fechar essa boa conversação?
R – Aproveito a oportunidade para parabenizar o colega Ferreira da Costa, cronista esportivo e excelente escritor pela sua obra “A Enciclopédia do Futebol Paraense”, livro que todos os paraenses devem ler para tomar conhecimento das gloriosas jornadas dos nossos atletas, que ficaram imortalizados.
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