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O racismo no futebol e como ele quase deixou o Brasil sem o título da Copa de 1958

Autor do livro “Campeões da Raça – Os Heróis Negros da Copa de 1958”, jornalista revela histórias de bastidores do primeiro título mundial da Seleção Brasileira

Fabio Will / O Libeal

Os negros historicamente são a maioria dos atletas de futebol no Brasil. A única seleção pentacampeã mundial é motivo de orgulho para muitos, porém, na década de 50, mais especificamente na Copa de 1958, disputada na Suécia, o triunfo poderia ter mudado de mãos por conta do racismo. É o que conta o jornalista Fábio Mendes autor do livro “Campeões da Raça – Os Heróis Negros da Copa de 1958”, em entrevista a O Liberal. Ele explica como racismo foi um dos principais destaques daquela Copa.

Os relatos e histórias de um futebol que encantou o mundo, entrelaçados com o racismo e os jogadores negros passaram em1958. Fábio Mendes conversou com jornalistas e atletas da época e falou como surgiu a ideia de mostrar a conquista partindo de um olhar diferente, no qual atletas como Garrincha, Pelé, Didi e Djalma Santos sofreram com o racismo.

“A Seleção Brasileira da década de 50 era permeada pelo racismo e quase deixou Garrinha e Pelé de fora da Copa. Eles foram afastados nas primeiras partidas e recolocados depois, pois o time não rendeu o esperado. Aí já foram afetados pelo racismo e deram a volta por cima. [Por isso] Sempre vi isso como uma história cinematográfica. Os negros eram acusados de serem instáveis emocionalmente e em 58 ocorreu o contrário, os jogadores que fraquejaram foram os brancos e os que ‘seguraram a bronca’ foram os negros, como Pelé, Garrincha, Didi, dentro de campo e também fora dele, liderando o grupo”, disse.

Com o passar dos anos, Fábio Mendes percebeu que a história estava se perdendo, com jornalistas e ex-jogadores falecendo. Então decidiu mergulhar de vez no assunto, o que rendeu o livro, em que explica a forma como o racismo ainda transita de forma forte e voraz no esporte, principalmente no futebol.

“O racismo é muito mais forte no esporte do que se parece. O esporte não está imune dos problemas da sociedade e por muito tempo as pessoas idealizaram o esporte, e o futebol em particular, como um território puro e protegido, mas isso não ocorre. Tudo que o Brasil possui de bom e de ruim se refletem no esporte e no futebol com uma força ainda maior”, comentou.

Segundo o jornalista, o racismo está entranhado no povo brasileiro, porém ele ainda é sustentado de forma estrutural. Criações de leis que possam restringir os atos são necessárias e explica a situação de técnicos negros no país.

“O Brasil é uma sociedade racista, cresceu e se desenvolveu na escravidão e, com a abolição, novas formas de racismo foram sustentando o crescimento da sociedade até hoje. Ele é muito forte e acaba não sendo tão óbvio. Temos que criar leis de afirmação, proteção e muitas que não são bem vistas. A maior parte dos jogadores brasileiros historicamente são negros, só que poucos técnicos são negros. Isso é curioso, já que a maior parte dos técnicos são ex-jogadores e os negros não conseguem ser maioria entre os técnicos? Esse é um caso de racismo estrutural, não tem uma lei que proíba, que restrinja, mas o sistema filtra, restringe de forma racista o avanço dos negros”, finalizou.

O livro

“Campeões da Raça” detalha a conquista do primeiro título mundial do Brasil no futebol e conta das adversidades que os atletas negros passaram na Seleção Brasileira, causado pelo intenso preconceito racial. O livro traz relatos de ex-atletas, dirigentes e jornalistas da época, além de contar os bastidores da Copa de 58. Em 2019 o livro foi finalista do Prêmio Livro-Reportagem site Amazon.

O livro ganhará uma nova impressão, que também pode ser adquirida através da plataforma Kindle, da Amazon. O livro impresso custa R$60 mais o frete e pode ser encontrado no site www.fabiomendesjor.com.br

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