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Único treinador negro do Parazão 2021, Cacaio relata: 'Fui chamado de macaco várias vezes'

Cacaio lembra casos no Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial

Beatriz Reis com supervisão de Nilson Cortinhas

Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data de 21 de março serve para reflexões como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A conscientização também relembra o Massacre de Sharpeville, em Joanesburgo, na África do Sul, onde pessoas negras de diversas idades foram assassinadas durante o regime do Apartheid.

O futebol é sempre um palco de discussões dessa natureza. Ainda há casos de racismo. Uma questão levantada, no Pará, é o dito racismo estrutural. Conceitualmente, o racismo estrutural ocorre quando a sociedade excluí alguém da participação em instituições sociais.

Um fato que pode estar associado é o seguinte: dos 12 treinadores do Campeonato Paraense, Cacaio, agora no Castanhal, é o único de origem negro - Zeca Gavião, do Gavião, é de origem indígena - não englobando a análise.

Cacaio

Ex-jogador do Paysandu e ex-treinador do Remo, Cacaio abordou o assunto racismo dentro do futebol e admitiu que estar numa posição de chefia é ainda mais difícil. "Em campo várias vezes fui chamado de macaco, preto e etc. No Pará, não é diferente como no Brasil", relatou. "Olha Série A , B ou C, quantos técnicos negros têm?  Complicado!", exclamou em contato com à reportagem.

Constatação 

Para o cientista social e mestrando em antropologia, Felipe Damasceno, as opressões sociais são naturalizadas nos ambientes futebolísticos brasileiros, e o racismo é uma delas. “Ofensas racistas comumente são utilizadas visando desestabilizar o oponente, seja este, jogador, goleiro, membro da comissão técnica ou torcedor adversário, podendo resultar até mesmo em agressões físicas. Quem as pratica costuma não se considerar racista, alegando que tais atos fazem parte do ‘espetáculo’ do futebol”, explicou.

Ainda segundo Damasceno, o combate das rivalidades tóxicas nos ambientes futebolísticos, a médio e longo prazo, geraria impacto positivo nos índices de violência urbana. “O futebol não foge ao perfil institucional brasileiro, no qual pessoas negras possuem ampla desvantagem númerica em relação às pessoas brancas, e como agravante, as poucas pessoas negras que alcançam o êxito profissional costumam ser cobradas e contestadas em maior grau do que as demais, sendo estas submetidas a um regime constante de afirmação e reafirmação de suas capacidades técnicas”, finalizou.