Ricardo Gluck Paul detalha papel na nova gestão da CBF e promete protagonismo para o futebol do Pará
Dirigente, em entrevista exclusiva, falou sobre os bastidores da queda da gestão de Ednaldo Rodrigues, os desafios de governança e como conciliará o cargo com o posto de presidente da FPF.
Em meio à maior crise institucional da CBF nos últimos anos, a entidade máxima do futebol brasileiro tenta se reorganizar com novas lideranças e um discurso de reconstrução. Neste domingo (25), Samir Xaud, presidente da Federação Roraimense, será eleito presidente da entidade, na segunda eleição realizada em menos de três meses. Além do presidente, oito vices serão empossados, incluindo Ricardo Gluck Paul, que é o atual presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF).
O dirigente será o primeiro a compor a cúpula da entidade desde 2021, quando Coronel Nunes assumiu o cargo de presidente interinamente. Ao contrário de Nunes, Ricardo se apresenta como uma "cara nova" no cenário do futebol nacional, atuando como um dos articuladores do grupo que hoje conduz a transição do poder.
Em entrevista exclusiva ao Núcleo de Esportes de O Liberal, Gluck Paul detalhou as funções que exercerá na vice-presidência da entidade. Além disso, falou sobre os bastidores da queda da gestão de Ednaldo Rodrigues, os desafios de governança e como conciliará o cargo com o posto de presidente da FPF.
“Já esperávamos algo assim”
Ednaldo Rodrigues já enfrentava problemas judiciais há algum tempo, mas, em 2025, viveu o auge de suas dificuldades com a lei. No dia 15 de maio, o dirigente foi afastado da presidência da CBF pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na ocasião, a Justiça considerou inválido um acordo entre Ednaldo e Coronel Nunes, que abriu caminho para que o baiano fosse eleito mandatário da entidade.
Com a crise institucional, os presidentes de federações começaram a se movimentar. Gluck Paul explica que as entidades estavam insatisfeitas com a política centralizadora da antiga gestão e se uniram para lançar um manifesto por mudanças assim que possível. Segundo o dirigente paraense, a queda de Ednaldo era esperada.
"Existe uma nova geração de presidentes nas federações – não ‘nova’ em termos de idade, mas formada por pessoas que não são tão conhecidas no cenário do futebol brasileiro. Esse movimento já vinha sendo organizado, com várias discussões acontecendo. Quando ocorreu o afastamento — algo que já vinha sendo especulado, pois a situação vinha se agravando — percebemos que era possível que algo de fato acontecesse. Já havia várias denúncias possíveis. Então, desde aquela época, começamos a conversar sobre a necessidade de nos organizarmos, caso algo ocorresse, para estabelecer uma nova ordem e criar uma nova CBF."
“Vice-presidência executiva”
A descentralização do poder, meta da nova gestão, também será aplicada no executivo da CBF. Segundo Ricardo Gluck Paul, existe um grupo de vice-presidentes que atuará, em conjunto com Samir Xaud, na missão de "tocar a casa" na próxima gestão. O presidente da FPF afirma que é um dos membros dessa nova "cúpula", que tem como principal missão a articulação política com clubes e demais entidades.
"Nesse momento, assumi parte da responsabilidade e tomei a frente na articulação. Nós somos um grupo, com um braço executivo, e as coisas foram acontecendo. Hoje, sou vice-presidente, mas é como se fosse uma vice-presidência executiva. Junto com outras pessoas, estamos formando um grupo executivo para tocar a CBF. Eu estou agora, ao lado do Samir [Xaud], tomando decisões, ajudando a fazer a casa andar — mas sempre com outras pessoas", explicou.
Ricardo é um homem da comunicação. Durante dois anos, foi diretor de marketing de uma faculdade em Belém e costuma ter ideias diferentes, "fora da caixa", na divulgação de produtos do futebol. Questionado sobre se trabalharia com essa vertente dentro da casa, o dirigente preferiu desconversar, mas não descartou a hipótese de assumir uma diretoria na CBF.
"Ainda estou flutuando por várias áreas. Ainda não dá para dizer qual será exatamente a minha área de atuação. Entendo que isso vai se acomodar naturalmente. Estamos tocando os assuntos no nível do planejamento, porque, no nível da execução, temos um presidente interino, que está conduzindo as coisas com sua diretoria. Não estou muito ligado nisso [de assumir uma diretoria]. Pode ser que sim, pode ser que não. O mais importante é o trabalho que exercemos, não o cargo", disse.
“O trabalho no Pará me trouxe até aqui”
Apesar de assumir um cargo — ou outros — na cúpula da CBF, Ricardo não abrirá mão do mandato de presidente da FPF. O motivo, ao que parece, é político. Segundo ele, todos os vice-presidentes da CBF são, também, presidentes de federações. Questionado sobre se o acúmulo de cargos poderia trazer problemas de governança, Gluck Paul explicou que essa conciliação não é condicionante para o novo processo.
"Os cargos podem — e devem — ser conciliados. Se você pesquisar, verá que todos os vice-presidentes são também presidentes de federação. Isso é importante, porque esse protagonismo pode fazer a diferença para o futebol paraense. Esse elo é fundamental. Eu sou vice-presidente da CBF porque sou presidente da FPF. Os cargos não são excludentes, mas sim condicionantes. Se eu perder o mandato, perco também a importância política na CBF. Foi, inclusive, o trabalho realizado no Pará que me trouxe até aqui. Isso me obriga a continuar promovendo os avanços que planejamos no estado — e olha que ainda nem chegamos à metade do que gostaríamos", avisou.
O dirigente complementou que viverá, em breve, uma vida dupla, entre Rio de Janeiro, sede da CBF, e Belém, onde comandará a FPF. "Existe um desafio de governança. Eu não vou ficar no Rio de Janeiro para sempre. A minha ideia é estar aqui, mas com base no Pará. Vou ter que conciliar os dois locais e implantar uma governança que permita esse trabalho em duas frentes", disse.
“Não foi um conclave”
A escolha de Samir Xaud para a presidência da CBF não foi fruto de uma disputa interna ferrenha, nem resultado de barganhas por cargos ou poder. Segundo Ricardo Gluck Paul, o processo foi marcado por um raro exercício de consenso e desprendimento político.
“O que aconteceu não foi um conclave, nem Jogos Vorazes, em que quem sobrevivesse seria o campeão”, afirma. “Tínhamos um grupo com grande capacidade de abrir mão de cargos, porque o mais importante era garantir que a função fosse bem exercida, não disputar o trono.”
Samir foi apontado como o nome ideal para um momento que exige reconstrução institucional, cuidado com os servidores e foco em soluções práticas.
“Nosso lema é devolver à casa a alegria de trabalhar”, resume. “Hoje, temos excelentes técnicos e profissionais, mas faltava afeto, faltava carinho. O novo presidente foi escolhido por reunir essas qualidades e por ser, naquele grupo, o nome que gerava mais consenso.”
Apesar da legitimidade do processo, a nomeação de Samir também expôs resistências — algumas, segundo Gluck Paul, com traços de preconceito. “Acho que tem um quê de xenofobia nisso. Quando não é alguém da 'Faria Lima' que está lá, leva porrada”, finaliza.