MENU

BUSCA

Em protesto, atletas do Irã pedem que a FIFA exclua o país da Copa do Mundo do Qatar

Um grupo de atletas diz que a Federação de Futebol Iraniana apoia a opressão e o afastamento das mulheres do universo esportivo

Aila Beatriz Inete

Atletas iranianos se reuniram e enviaram uma carta à FIFA (Federação Internacional de Futebol) em que pedem a exclusão do Irã da Copa do Mundo de 2022, que será no Qatar. O documento é assinado pelo advogado esportivo Juan Dios Crespo. O pedido alega que a Federação Iraniana de Futebol corrobora com a opressão e o afastamento das mulheres do esporte.

VEJA MAIS

Irã vai permitir que mulheres assistam jogos masculinos nos estádios, mas com ressalvas
As torcedoras só poderão comparecer em jogos da seleção, não de clubes. Medida vem após a morte de Sahar Khodayari, que, em protesto a proibição, ateou fogo no corpo

Mulher é condenada a um ano de prisão no Irã por tirar o véu em público
No Irã, por lei, as mulheres são obrigadas a se cobrirem em público

“A brutalidade e a beligerância do Irã em relação a seu próprio povo chegou a um ponto de inflexão, exigindo uma desassociação inequívoca e firme do mundo do futebol e do esporte. A abstinência histórica da Fifa em relação aos conflitos políticos tem sido muitas vezes tolerada apenas quando essas situações não se encontram na esfera do futebol”, diz um trecho da carta.  

O maior ídolo do futebol do Irã, Ali Dael, é um dos atletas que apoia o pedido e tem sofrido com isso. O ex-jogador teve o passaporte apreendido ao voltar de uma viagem da Turquia.  

Irã: ONU cobra investigação sobre morte de jovem de 22 anos presa por não usar véu
Horas depois de ter sido detida pela polícia, Mahsa Amini foi deixada em um hospital, onde ficou em coma por alguns dias

Copa do Mundo 2022: O que não pode fazer no Qatar?
Vestir-se com roupas inadequadas para as regras locais, fotografar sem autorização e troca de carinhos em locais públicos são alguns atos que podem ser passíveis de punição; é preciso conhecer as regras locais antes de pegar o avião

Uma das principais alegações do grupo de atletas é a questão das mulheres no país. Segundo eles, a federação está de acordo e impondo diretrizes governamentais, o que não se alinha com o princípio de ser uma organização livre de qualquer influência.

“A situação das mulheres no Irã é profundamente desagradável no quadro político e socioeconômico mais amplo. Tragicamente, os mesmos males e injustiças são perpetuados dentro da esfera do futebol, significando efetivamente que o futebol, que deveria ser um lugar seguro para todos, não é um espaço seguro para as mulheres ou mesmo para os homens. As mulheres têm sido constantemente negadas a ter acesso a estádios em todo o país e sistematicamente excluídas do ecossistema do futebol no Irã, o que contrasta fortemente com os valores e estatutos da Fifa", escrevem os atletas. 

Esta não é a primeira vez que a Fifa recebe um pedido de exclusão do Irã da Copa. Em setembro, o grupo ativista de direitos humanos Open Stadiums pediu que o país não participasse do torneio mundial porque não estavam confiantes de que as mulheres poderiam frequentar estádios após a disputa no Qatar. 

Após muita pressão, o Irã havia permitido a entrada de torcedoras nos estádios em 2018. No entanto, no início deste ano, o país voltou a proibir que mulheres assistirem aos jogos nas arenas. 

Neste momento, o país está sob forte tensão e protestos. Várias pessoas foram às ruas protestar após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, que foi presa pela polícia local por descumprir o código de vestimenta, que exige cobrir o cabelo com véu. A população acredita que a Amini foi morta pelo estado, mas o governo disse que a morte foi causada por uma doença cerebral. 

“A FIFA deve escolher um lado. A neutralidade da FIFA não é uma opção, dado que a FA iraniana não tem sido neutra, mas tem sido mobilizada para fortalecer a opressão e a exclusão sistemática das mulheres no ecossistema esportivo. Além das mulheres, o governo iraniano também abafou as vozes de vários atletas no país e impediu seus direitos de falar diante do mal em exibição. Jogadores da equipe nacional como Hossein Mahini, Aref Gholami e ex-jogadores proeminentes como Ali Karimi e Ali Daei, foram alvo de prisão, assédio ou ameaças do governo. Chegou a hora de a FIFA agir; basta”, termina o comunicado.  

(Aila Beatriz Inete, estagiária, sob supervisão de Pedro Cruz, coordenador do Núcleo de Esportes)

Copa do Mundo