Corinthians apura gastos indevidos sem falar em prazo e dirigentes afastam 'ideia de vingança'
A apuração interna do Corinthians sobre gastos indevidos nas gestões de Andrés Sanchez, Duílio Monteiro Alves e Augusto Melo não tem prazo para conclusão. No momento, o tema está na Comissão de Justiça corintiana, órgão pelo qual será repassado à Comissão de Ética.
Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, Leonardo Pantaleão, vice-presidente do Conselho Deliberativo (CD) e também chefe da Ética, explicou que só haverá um prazo quando o assunto passar a ser apreciado por sua comissão.
"Podem pensar: 'se a Comissão de Justiça não tem prazo, pode ficar eternamente com isso. É claro que não. Não tem prazo em diretriz, mas tem o bom senso e a cobrança de quem vai fazer essa acompanhamento. Como Tuma determinou que eu fizesse, vou cobrar'", afirmou.
Ao lado de Pantaleão na coletiva, o presidente do CD, Romeu Tuma Júnior, disse que o avanço da apuração interna depende também de trocas de cargo que devem ocorrer ainda nesta semana. Conselheiros que atuam no deliberativo devem ser puxados por Osmar Stábile para auxiliá-lo na administração.
"Haverá uma reformulação nas comissões do Conselho. Vamos trocar alguns membros, um pouco para que haja maior efetividade nos trabalhos e também porque, com a eleição do novo presidente, alguns conselheiros devem ser chamados para colaborar na nova gestão. Estamos esperando ele informar quais ele deve utilizar na gestão."
Se comprovada infração estatutária, qualquer um dos três ex-presidentes investigados pode ser banido do clube. O Ministério Público (MP), que investiga os casos, pediu à Justiça, inclusive, que o trio fosse afastado temporariamente de funções deliberativas. Andrés e Duílio são conselheiros vitalícios. A investigação feita pelo clube, segundo Romeu Tuma Jr, ainda não avançou a ponto de gerar uma decisão como a sugerida pelo MP.
"Tivemos oito representações de conselheiros e associados. Os dois apresentaram requerimento para que isso fosse apurado. São pelo menos nove requerimentos. Foi feito um trabalho de um roteiro pela comissão. Foram expedidos diversos ofícios, requisição de documentos. Comissão vai ouvir algumas pessoas. Se for encontrada a infração estatutária, todo mundo está sujeito a ser responsabilizado, seja quem for", disse Tuma.
"A comissão de ética não pode ser um lugar de vingança. Tem de agir tecnicamente. não posso trazer para dentro dessa comissão uma ideia de vingança, seja quem seja", acrescentou Pantaleão. "Na expressão da moda, vão dizer que estamos passando pano. Pelo contrário, fui claro com o Tuma: eventualmente minha eleição será pautada com imparcialidade absoluta, não vai ceder à pressão, seja de um lado ou de outro."
Pouco antes do início da coletiva dos líderes do Conselho, o Corinthians divulgou nota informando que entregou ao MP os documentos solicitados para a investigação sobre os gastos indevidos de Melo, Andrés e Sanchez. São levantamentos financeiros que abrangem de 2018 a 2025.
No comunicado, o clube diz que "houve demora em reunir o primeiro conjunto de informações devido à invasão de 31 de maio, quando documentos foram subtraídos", referindo-se ao dia em que Augusto Melo, então afastado, causou grande confusão no Parque São Jorge ao tentar retomar o poder por meio de uma manobra judicial.
"Eram arquivos muito grandes. Tivemos que pedir segundas vias, instituições bancárias. Não é uma página única, existem burocracias. São burocracias que nós do Conselho Deliberativo não temos nada a ver. A forma é entregar a documentação, deixar claro que o clube está à disposição", afirmou Pantaleão. "Não é atribuição das comissões do conselho apurar crime. Isso cabe ao MP."
A caso veio à tona após faturas do cartão corporativo do Corinthians serem vazadas nas redes sociais. Andrés Sanchez admitiu ter feito uso indevido, mas por engano, ao confundir seu cartão pessoal com o do clube durante uma viagem de Réveillon entre o final de 2020 e o início de 2021. O gasto foi de R$ 9.416 e ele restituiu o clube com juros após o episódio ganhar publicidade.
O MP iniciou investigação após reportagem do GE indicar também movimentações suspeitas na gestão de Duílio. Apenas na última semana de outubro de 2023, o Corinthians gastou R$ 32,5 mil em uma empresa de alimentos (Oliveira Minimercado Ltda) cujo endereço não consta "qualquer comércio ou resquício de comércio". O promotor Cassio Roberto Conserino destaca que foi até o local e constatou in loco que, de fato, naquele endereço "não consta ou constou comércio algum".
Augusto Melo, por sua vez, foi destituído da presidência do clube no dia 9 de agosto, enquanto respondeu como réu acusações de furto qualificado, associação criminosa e lavagem de dinheiro por irregularidades no contrato com a Vai de Bet, antiga patrocinadora corintiana. Não foram encontrados indícios de uso indevido do cartão corporativo na gestão dele, mas o MP pediu as faturas desse período para análise.
Todos se dizem inocentes. Sanchez argumenta que sua atuação no Corinthians "sempre se pautou pela legalidade, responsabilidade e compromisso institucional". Também em comunicado, Augusto Melo fala que sempre "pautou sua conduta pela transparência".
Palavras-chave