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Coronavírus pode ter sido criado em laboratório chinês

Congresso norte-americano, instituições e imprensa internacional intensificam cobrança para novas investigações sobre origem do coronavírus. Uma das hipóteses é que o vírus tenha se espalhado após acidente em laboratório chinês

Redação Integrada

O Congresso norte-americano deve intensificar nos próximos dias os pedidos de informações, inclusive ainda mantidas sob sigilo, sobre a origem do coronavírus, aumentando a pressão internacional sobre o tema. A hipótese de que o vírus tenha se espalhado a partir de um laboratório na cidade de Wuhan, na China, é principal foco dos questionamentos de autoridades, especialistas e instituições, que tem cobrado investigações mais técnicas e aprofundadas. A justificativa, além de esclarecer a causa da pandemia, é também no sentido de fortalecer as medidas de prevenção para o caso de uma nova pandemia.

“Compreender a causa desta pandemia - e assegurar que algo como isto nunca mais aconteça - é a questão mais importante que o mundo enfrenta atualmente" - Deputado norte-americano, Mike Gallagher.

Na última semana, congressistas republicanos solicitaram ao Secretário de Estado Antony Blinken, um dos principais nomes da gestão do presidente Joe Biden, a quebra de sigilo de documentos que podem ajudar a esclarecer a origem do vírus, que já dizimou - e continua matando diariamente - mais de 3,3 milhões pessoas em todo o mundo, desde 2020. "Como líderes do Comitê do Congresso com jurisdição sobre saúde pública, apoiamos fortemente uma investigação abrangente sobre as origens da pandemia da COVID-19, incluindo a possibilidade de uma fuga acidental de laboratório”, afirma o documento, assinado pela deputada Cathy McMorris Rogers, da Comissão de Energia e Comércio da Câmara e pelos pelos deputados Brett Guthrie e Morgan Griffith, dos subcomitês da Câmara de Saúde e de Investigação, respectivamente.

Imprensa internacional debate a origem do novo coronavírus

No entanto, segundo o Wall Street Journal, o diretor geral da OMS disse pouco antes da publicação do relatório que a avaliação da equipe sobre a potencial fuga do vírus de um laboratório chinês não tinha sido “suficientemente extensa” e que “era necessária mais investigação, acrescentando que “estava pronto a destacar mais especialistas para estudar essa possibilidade”, afirma o jornal americano.

Para o diplomata americano Craig Singleton e Mark Dubowitz, da Fundação para a Defesa das Democracias, as origens da Covid-19 continuam desconhecidas e a responsabilização da China e da OMS sobre essa investigação deve ser reforçada. De acordo com artigo publicado no site da NBC, persistem questões significativas sem resposta e o relatório da OMS que descartou a hipótese do vírus ter se espalhado de um laboratório é falho. “Os Estados Unidos também têm responsabilidade pela incapacidade da OMS em responder a perguntas básicas sobre o Covid-19, notadamente porque Washington doou milhares de milhões de dólares dos contribuintes ao organismo de saúde global sem exigir qualquer responsabilidade em troca. Isto tem de acabar”, argumentam os autores.

De acordo com o artigo, “o problema é que nem a OMS nem as Nações Unidas, das quais faz parte, têm quaisquer meios legais para fazer cumprir estes regulamentos de saúde. Nem a OMS pode impor sanções aos países desonestos que desafiam estes regulamentos, como fez a China quando se recusou a fornecer dados sobre vírus aos investigadores da OMS”, afirmam os autores.

Outro grupo de mídia, Politico, abordou o tema e destacou que em 2018, diplomatas americanos alertaram o governo dos Estados Unidos para experiências de risco em um laboratório em Wuhan, mas que “ninguém foi ouvido”. Na reportagem, o jornal revela que “para alguns funcionários do governo (americano), o nome do laboratório (chinês) era familiar. A sua investigação sobre vírus de morcegos já tinha chamado a atenção dos diplomatas e funcionários americanos na Embaixada de Pequim em 2017, levando-os a alertar Washington de que os próprios cientistas do laboratório tinham relatado uma séria escassez de técnicos e investigadores devidamente formados, necessários para operar com segurança este laboratório de alta contenção. Mas os seus avisos para Washington foram ignorados”, destaca a reportagem.

No Brasil, Congresso Nacional tem investigado aplicação de recursos na pandemia

No Brasil, o foco do Congresso Nacional tem sido investigar os efeitos da pandemia, as mais de 400 mil mortes e a aplicação de recursos públicos para a prevenção e enfrentamento da pandemia. Bem diferente do Congresso americano, por exemplo, que está buscando investigar a causa da pandemia.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, criada para apurar aplicação de recursos públicos durante a pandemia, torna-se a cada dia mais palco de disputas políticas e troca de ofensas do que ambiente para investigação mais técnica.

Na última semana, a hipótese de que o vírus pode ter sido espalhado a partir de um laboratório na China ganhou destaque com uma declaração do presidente Jair Bolsonaro, que não chegou a citar diretamente o país asiático. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?”, disse Bolsonaro.

“Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês. Que que está acontecendo com o mundo todo, o seu povo, com sua gente, com nosso Brasil?", complementou e também afirmou que tem dúvidas sobre a real origem do coronavírus.

A declaração foi criticada, pois poderia gerar impactos nas relações comerciais do Brasil com a China, principal cliente do país. A presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, senadora Kátia Abreu (PP-TO), chegou a dizer que "nem dormiu direito", temendo uma retaliação do governo chinês, por conta da relação comercial com o Brasil e o país asiático.

“Eu não dormi bem esta noite muito preocupada com as consequências de uma acusação tão grave como a que foi feita”, disse. A senadora destacou que a declaração de Bolsonaro deixou o setor produtivo preocupado. “Quando eu abri o celular, havia milhares de mensagens do agronegócio brasileiro, apavorado com as declarações, preocupadíssimo com essas declarações, com medo de alguma retaliação por parte da China, não só com relação ao comércio, que, ao fim e ao cabo, é ruim, mas a retaliação com relação às vacinas”, disse Kátia Abreu, lembrando que o laboratório chinês Sinovac fornece o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da Coronavac, pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

Outro lado

A Redação Integrada de O Liberal entrou em contato com a Embaixada da China no Brasil, em Brasília, para obter um posicionamento oficial do Governo da China sobre os questionamentos e suspeitas levantadas pela imprensa e autoridades internacionais, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição. O presidente da CPI da Covid-19, senador Omar Aziz (PSD-AM) também foi procurado para responder sobre os rumos que a comissão pode tomar e se o debate internacional sobre a origem do vírus também, será um dos focos dos trabalhos, mas não retornou as tentativas de contato.

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