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Imigrantes buscam o caminho do empreendedorismo no Pará

Muitas vezes, eles não consegue acessar o mercado formal de trabalho e optam por trabalhar para si mesmos

O Liberal

Ser imigrante, por si só, já é uma situação delicada. Deixar para trás, ainda que por vontade própria, família, cultura e país onde nasceu não é, definitivamente, uma escolha simples. A questão se torna ainda mais complexa quando o imigrante não consegue encontrar emprego no lugar para onde se mudou, o que acontece com frequência no Brasil. A solução, para muitos deles, então, é buscar o caminho do empreendedorismo. Em Belém, os empreendedores estrangeiros estão nos mais variados ramos, com destaque para a área de serviços e culinária. 

Foi isso o que fez a jornalista venezuelana Alba Salcedo, 35 anos, moradora da capital paraense há quase dez anos. Ela se mudou para a cidade com o marido que, na época, ocupava um cargo de diplomacia no governo venezuelano. Com a crise política e humanitária que afetou o país nos últimos anos, ele perdeu o emprego e os dois, que já eram pais de um menino, precisaram procurar outras ocupações. Não conseguiram colocação no mercado formal e, então, decidiram empreender: abriram um restaurante. “Mesmo falando três idiomas, com mestrado e outras qualificações, não conseguimos emprego em lugar nenhum, por isso, decidimos empreender”, lembra Alba. 

Logo no início, com receio de não conseguir emplacar a comida venezuelana, eles começaram comercializando hambúrgueres apenas por delivery e, aos poucos, foram introduzindo pratos da culinária venezuelana e caribenha, que foram bem recebidos pelo público. Abriram um espaço físico que virou sucesso até surgir a pandemia de Covid-19. Com as medidas restritivas, eles precisaram fechar as portas. “O nosso restaurante acabou se tornando um símbolo para os estrangeiros que moram em Belém. Recebíamos muitos cubanos, argentinos, venezuelanos e até demos emprego para alguns deles. Às vezes, pessoas que queriam apenas praticar o espanhol também frequentavam lá”, conta a jornalista. 

No pós-pandemia, o casal abriu novamente as portas do restaurante, mas, a essa altura, a família já tinha começado a focar as energias em outros negócios, que incluem a representação e venda de um tipo de farinha de milho para comerciantes e donos de restaurantes, o que levou o marido de Alba para Manaus, no Amazonas, onde ele conseguiu um número elevado de clientes rapidamente. Por conta disso, talvez, em breve, a família se mude para a capital vizinha. 

“Eu gosto muito de Belém, é um lugar onde não vemos xenofobia e as pessoas são muito abertas, ajudam a todos. Acho que o paraense é amigo. Tenho muito orgulho de viver na Amazônia brasileira, me sinto conectada a isso, acho que talvez porque a Venezuela também tem a sua parte de Amazônia”, resume ela, que atualmente trabalha em uma agência de comunicação. 

Já o egípcio Mohamed Soliman, de 32 anos, vive há quatro em Belém. Ele, que trabalhava como professor de crianças no Cairo, capital do Egito, conta que sempre teve vontade de conhecer o Brasil. Um dia, decidiu fazer as malas e concretizar o sonho, mesmo tendo uma vida confortável no país de origem. Pegou um avião, foi para a Bolívia e entrou em território brasileiro por via terrestre. Passou pelo Mato Grosso e veio parar em Belém, onde se estabeleceu. Conseguiu emprego em um restaurante local de comida árabe e, depois, decidiu abrir o próprio negócio, onde também vende lanches árabes. Ele cuida sozinho de tudo no restaurante, desde a confecção dos pratos até o marketing do estabelecimento. 

“Eu prefiro trabalhar para mim mesmo e o povo brasileiro ajuda quem trabalha. As pessoas começaram a falar da minha lanchonete, um foi indicando para o outro e hoje tenho uma boa clientela. Não penso em sair daqui de Belém por enquanto. Gosto da cidade, gosto de ser ainda uma cidade calma e gosto de fazer amizades com as pessoas daqui”, conta ele, que ainda tem uma certa dificuldade com o português. 

Mohamed explica que, no início, não teve nenhuma ajuda externa para empreender, apenas a vontade e algum dinheiro que havia juntado. “Eu gosto de trabalhar, trabalho de domingo a domingo na lanchonete e faço tudo sozinho. Recentemente voltei ao Egito para visitar minha família, mas não quero voltar a viver lá por enquanto. Gosto de poder conhecer outras experiências, outras pessoas, outras comidas. Aliás, sou apaixonado pela comida paraense”, elogia. 

Evento pretende abrir as portas do mercado de trabalho para os estrangeiros que vivem no Pará

Alba e Mohamed são exemplos de estrangeiros que trilharam o caminho do empreendedorismo em Belém. E essa é apenas uma das muitas possibilidades que eles podem abraçar. O mercado formal é uma outra vertente, mas, muitas vezes, até por falta de conhecimento, o estrangeiro não consegue acessar as oportunidades. É por isso que, segundo a titular da Coordenadoria de Erradicação do Trabalho Escravo, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Promoção da Migração Segura (CTETP), da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Lorena Romão, o Governo do Estado, por meio da Sejudh e da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), em parceria com uma empresa de consultoria em Recursos Humanos, vai realizar, em maio, um evento voltado para discutir empregabilidade de estrangeiros no Estado. 

“Muitas vezes, o estrangeiro, mesmo com alto nível de escolaridade e fluência em línguas, acaba indo parar em situação de rua, por falta de oportunidade de trabalho. Na Sejudh, onde, normalmente, fazemos o primeiro atendimento a esse imigrante ou refugiado e cuidamos da parte de regularização documental, buscamos fazer a articulação com toda a rede do Estado para que ele possa ter seus direitos e dignidade garantidos. É nesse sentido que pensamos esse evento, que será uma oportunidade de eles serem informados sobre as possibilidades do mercado de trabalho, além de conhecerem os programas que existem no Estado e que podem ajudá-los, bem como faremos o cadastro de currículo e busca de vagas. Também vamos discutir direitos trabalhistas e empreendedorismo”, informa. 

O evento, que deve ocorrer na primeira quinzena de maio, ainda está sendo organizado e deverá receber inscrições em breve. 

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