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Veto internacional faz preço dos produtores de carne cair 15% no Pará, mas consumidor não sente

Arroba fica mais barata, mas no açougue continua tudo normal

Abílio Dantas / O Liberal

Passado mais de um mês, a China mantém veto à compra da carne brasileira, que foi estabelecido inicialmente pelo Ministério da Agricultura como medida de segurança após a confirmação de dois casos do “mal da vaca louca”. Mesmo com o controle dos casos no Brasil, a interrupção foi mantida. No Pará, o preço da arroba (15 quilos de carne ou 30 quilos de boi vivo) caiu 15%, de acordo com agentes do mercado, mas a queda não representou diminuição do preço para o consumidor final, ao menos até o momento, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA).

O vice-presidente rural da Associação Comercial do Pará (ACP), Altair Burlamaqui, afirma que antes do veto a arroba custava R$ 305, mas passou para R$ 260, o que significa queda de quase 15%. “A arroba tá derretendo, mas a gente não vê esse reflexo no preço na ponta, para o consumidor. Acredito que a trava econômica imposta pela China é mais uma jogada de negociação, para barganhar preço. Existem produtores que estão sofrendo porque estão com carga embarcada”, observa o produtor, que é também diretor da Associação Rural da Pecuária do Pará (Associação de Criadores do Pará) e 2º secretário da Associação de Criadores do Pará (Acripará).

“Eu não senti tanto o veto porque trabalho com carne de qualidade específica, para o mercado interno, não trabalho com exportação, mas vejo sim que faz diferença para quem exporta”, completa.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier, ressalta que os casos de “mal da vaca louca” registrados ocorreram nos estados de Minas Gerais e do Mato Grosso e, portanto, não há nenhum indício da enfermidade que coloque em risco os rebanhos dos produtores. Xavier concorda com Altair Burlamarqui sobre o fato de que a principal motivação para o embargo chinês não é a preocupação sanitária.

“A ministra Tereza Cristina (do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) agiu corretamente, suspendendo logo o fornecimento, como medida de prevenção. Mas agora, depois desse tempo, não acho que exista qualquer explicação ligada a algum risco que pudesse ser provocado pelos animais, não existe nenhum poder de profusão comprovado. Nós somos os maiores produtores de gado do planeta, o que eles querem é negociar preço, é uma questão de ordem econômica”, reforça.

Custos de produção

Para o Dieese, o preço do produto nos mercados, açougues e supermercados de Belém não teve queda em razão dos custos de produção dos pecuaristas. “Pelo menos até agora, não verificamos queda no preço da carne para o consumidor final. Uma das razões pode ser o fato de que o custo da produção está muito alto. Os produtores fizeram investimento, compraram insumo, abateram as matrizes, tudo isso visando o mercado internacional. Então, por mais que a China não esteja comprando, e a produção seja colocada para o mercado interno, é preciso pelo menos empatar o custo ou manter minimamente uma margem de lucro aceitável”, interpreta o economista e supervisor técnico do órgão, Roberto Sena.

Na última semana, a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) concluiu um relatório a respeito dos dois casos de vaca louca e apontou que não há risco de proliferação da doença, segundo o professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Roberto Dumas. Segundo o jornal Financial Times, o veto prolongado pode custar US$ 4 bilhões por ano (equivalente a R$ 21,8 bilhões) em exportações. Ao jornal estrangeiro, um executivo de um grande frigorífico brasileiro disse estar surpreso que a suspensão tenha durado tanto.

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