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Taxistas de Belém enfrentam concorrência dos aplicativos, mas relatam recuperação da clientela

Apesar da concorrência com os aplicativos de transporte, taxistas da capital paraense relatam uma recuperação gradual da clientela e defendem o serviço profissional e regulamentado como diferencial.

Jéssica Nascimento

Mais de uma década após a chegada dos aplicativos de transporte ao Brasil — e oito anos desde a entrada em Belém —, os taxistas da capital paraense ainda enfrentam os impactos dessa nova concorrência. Porém, com profissionalismo, confiança dos passageiros e a promessa de um atendimento mais próximo, eles relatam que a categoria começa a se reerguer. Entre dificuldades econômicas, insegurança e disputas por passageiros, os taxistas entrevistados pelo Grupo Liberal nesta terça (22/04) apostam na tradição e na regularização para seguir rodando pelas ruas da cidade.


Concorrência e transformação: o cenário pós-aplicativos

A chegada da Uber em Belém em 2017, seguida por outras plataformas como a 99, redesenhou a paisagem do transporte individual urbano. Segundo Adilson Roldão, secretário do Sindicato dos Taxistas, a capital paraense conta atualmente com cerca de 3.200 autorizações de táxis ativas, de um total de 5.500 disponíveis. 

O número está abaixo do recomendado por parâmetros internacionais, que sugerem uma autorização para cada 500 habitantes. Ainda assim, o próprio sindicato admite que, com os novos modais de transporte, esse índice foi ajustado para uma autorização a cada 1.500 moradores.

“A diminuição aconteceu após a pandemia, com vários fatores: mortes, desistências, migração para outras atividades, e a dificuldade em repor veículos nas autorizações já existentes”, explica Roldão.

Ele também descata a atuação irregular de empresas de táxi que migraram para os aplicativos sem atualizar seu enquadramento legal.

Atendimento personalizado e clientes fiéis

Para quem está nas ruas, como o taxista Julio Cesar Santos, com 25 anos de volante, a diferença está na qualidade do serviço. 

“Os aplicativos não têm o atendimento que o taxista tem. Nós somos profissionais, fizemos cursos de táxi e turismo, carregamos mala, levamos quatro ou cinco passageiros. Tem cliente que voltou para o táxi porque se decepcionou com o serviço dos aplicativos”, afirma.

Julio acredita que a confiança no taxista pesa mais que o preço, especialmente quando a economia aperta. “O barato sai caro. Os aplicativos cobram tão pouco que nem o combustível pagam. Mas o nosso cliente sabe onde reclamar, sabe que somos regulamentados.”

Desafios: do trânsito ao medo

Claudio Ezequiel, da Associação de Taxistas da Avenida Portugal com a 13 de Maio (ATP 13), lembra as dificuldades enfrentadas quando os aplicativos chegaram. “No começo, a gente sofreu. A demanda caiu. Mas agora, aos poucos, estamos recuperando nossa clientela”, diz.

Para ele, o diferencial também está na apresentação e no cuidado com os passageiros:

“Tem muita reclamação de motorista de aplicativo mal vestido, de carro sujo. A gente trabalha com o carro limpo, roupa decente. Isso conta.”

No entanto, os desafios ainda são muitos: engarrafamentos, altos custos operacionais e, principalmente, a insegurança. “Tem colega que não trabalha mais à noite. Recentemente dois foram assaltados”, relata Julio Cesar.

Propostas e esperança de reestruturação

O sindicato dos taxistas propôs à SEGBEL (Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade) uma reforma no regulamento do serviço de táxi. A ideia é modernizar o setor com novas regras para concessão de autorizações e abertura para veículos elétricos ou SUVs. 

Entre idas e vindas, a categoria aposta na retomada gradual da clientela. “Já faz mais de 100 anos que o táxi existe. E quem gosta, não deixa de pegar táxi. Nós vamos continuar lutando”, afirma Claudio.


 

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