Projetos dão aula de tênis para alunos de baixa renda

Correndo nas veias de milhares de atletas, o amor pelo esporte surge ainda na infância e acompanha crianças e adolescentes até a vida adulta. Para os jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social, essa paixão deixa de ser uma opção de lazer e se torna uma oportunidade de mudar de vida. 

Destinado aos jovens que não têm condições financeiras de pagar mensalidade em clubes de treinamento, o projeto Sesi Atleta do Futuro (SAF), que já existe há sete anos, acolhe estudantes de escola pública, que sejam de baixa renda e tenham um bom desempenho escolar. Seguindo esses requisitos, podem participar dos treinos duas vezes por semana.

Na opinião do professor Francisco Amador, que atua no projeto desde a fundação, o tênis, assim como os outros esportes, é socioeducativo, para todas as idades, seja homem ou mulher. "A importância é a integração social. Muitas crianças e adolescentes não têm como praticar o tênis, porque temos um paradigma de que é um esporte para ricos. Entrando no projeto, eles mostram que todos podem participar", comentou Francisco.

Segundo ele, o processo de treinamento leva tempo - pelo menos um ano até que eles estejam totalmente preparados para competições -, mas é importante que os alunos se encontrem dentro do esporte. "Este é um meio de mantê-los no caminho certo. Depois que entram no projeto, já começam a pensar no futuro e decidir o curso que vão fazer, geralmente Educação Física. Algumas pessoas estão aqui desde cedo, acabo sendo uma referência e consigo ver a evolução. O mais importante não é ganhar, é ter outra visão de mundo", pontuou. 

O principal objetivo do Ranking Tênis 2019, campeonato realizado pela Federação Paraense de Tênis (FPT) - entidade sem fins lucrativos -, é descobrir novos talentos no esporte paraense. A cada ano, são realizadas quatro etapas, em que atletas de vários clubes podem se inscrever, e o torneio conta pontos para o ranking estadual. A primeira etapa do evento foi realizada em meados de junho, na quadra do Sesi, em Ananindeua. Já a segunda ocorrerá entre os dias 2 e 18 de agosto, na Assembleia Paraense (AP). No final de cada fase, os vencedores recebem troféus, mas ainda não foram confirmadas as datas das últimas etapas.

No total, são seis jovens sendo atendidos pelo SAF, e todos eles já participam de torneios. Um deles é o atleta Moisés Silva, de 16 anos de idade, campeão paraense na categoria da terceira classe no campeonato. O jovem contou que se preparou durante muito tempo para esse torneio, e pratica tênis desde os 10 anos. "Esse esporte é muito importante para mim. Meu maior sonho é participar de outras competições, e até de um torneio nacional de tênis. A partir de agora, vou treinar muito para as próximas etapas porque quero me destacar com o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi)", disse. Apesar de ansioso, Moisés acredita que está preparado e conseguirá vencer se jogar com determinação. 

De acordo com o presidente da Federação Paraense de Tênis, Parys Fonseca, a maior importância de promover as competições é criar um ambiente de interação e convívio social. "A socialização é muito importante para os jogadores, é um momento de relaxar, com as famílias torcendo. No caso das crianças, como vivemos em um mundo muito digital, é um bom momento para que elas deixem de lado o celular ou tablet para jogar e se exercitar", comentou. 

Da mesma forma, o vice-presidente da entidade, Roberto Kataoka, acredita na importância do tênis na vida dos jovens. "Falo isso por experiência própria, o esporte tem um poder gigante para as crianças e adolescentes. Eu comecei a jogar com cinco anos de idade e posso dizer que o tênis me formou como pessoa, inclusive meu caráter. Devo muito a esse esporte, porque sei da importância de ter disciplina, de ter horários certos, de conviver com outros atletas e saber ganhar e perder. É uma escola", opinou.

Quanto às competições, Kataoka acredita que o principal objetivo é aumentar o nível técnico dos atletas paraenses, para que possam se destacar no esporte a nível nacional. Além disso, "a intenção da federação é tornar o tênis cada vez mais popular, para que mais pessoas possam praticar esse esporte tão bonito", disse. Uma das formas de criar o incentivo é oferecendo lugares adequados para a população jogar. Por isso, a federação tem uma parceria com a Prefeitura Municipal de Belém (PMB) em um projeto de construção de duas quadras públicas na cidade, com o objetivo de inserir jovens no mundo esportivo. 

Outra atuação da entidade é a parceria com o Instituto Fonte de Luz, projeto social criado na pratinha há cinco anos, que atende crianças carentes não têm condições financeiras para conhecer e praticar o tênis. O instituto foi idealizado por Odenilson Moura, que tinha o sonho de trabalhar nesse esporte, mas não conseguiu por conta de sua idade, que já era avançada para a modalidade. "Já tinha 33 anos, então não deu certo. Mas tive a ideia de criar o projeto para continuar vivendo nesse universo e ajudar outras pessoas, especialmente crianças da minha comunidade", contou.

Para que o Fonte de Luz continue auxiliando novos atletas, a organização precisa de apoio. Por isso, foi criada uma forma de patrocinar as crianças, por meio do apadrinhamento. "O projeto precisa de padrinhos para que as crianças se mantenham jogando. Cada garoto recebe um padrinho, que garante a permanência dele por um ano, oferecendo material esportivo, garantindo as notas escolares e outras medidas de acompanhamento desses jovens. É uma ajuda. Meu sonho é formar crianças que possam representar nosso país", disse, esperançoso.

Um dos padrinhos do instituto é o Roberto Tuelho, que contou que o projeto começou pequeno e só depois ganhou visibilidade. "Eram só duas raquetes, e foi possível tornar o sonho realidade. Alguns padrinhos se juntaram e tornaram oficial, com o objetivo de formar mais cidadãos por meio do tênis", destacou. Já Brunno Planzo, também padrinho da iniciativa, disse que "o que nos motivou foi ver as crianças jogando tênis, elas não teriam oportunidade de conhecer esse esporte e todos os valores agregados ao tênis. Não é só a prática".

Conforme explicado pela equipe da federação, os torneios existem para massificar o tênis como um esporte para todas as pessoas, de qualquer classe social. "Tem muito atleta bom aqui. O tênis já foi um esporte de rico, mas hoje todo mundo tem oportunidade", disse Kataoka. O grupo tem a intenção de promover, ainda, um torneio a nível nacional no Estado do Pará, destinado a pessoas da faixa infanto-juvenil. Com o nome "Açaí Ball", o campeonato deve ser realizado no final do mês de outubro. "Nosso trabalho é promover o esporte por meio da inclusão social e com atletas que queiram competir e pessoas que pratiquem por lazer e saúde", pontuou o vice-presidente da entidade.

Os interessados e participar da segunda etapa do Ranking Tênis 2019 devem efetuar a inscrição até o dia 29 deste mês, por meio do telefone (91) 98860-8388 (Odilon Rebelo, coordenador de torneios paraenses) ou pela conta no Instagram: tenis_fpt. A federação também busca patrocínios de empresas e instituições que possam financiar os atletas paraenses, por meio de doações ou auxílios em viagens e campeonatos.