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Produção agrícola com proteção e restauração da floresta é caminho para combater mudanças climáticas

Estudo da The Nature Conservancy considera que o agronegócio tem uma das maiores oportunidades para a solução climática

Daleth Oliveira

Não desmatar e restaurar a floresta nativa são as formas mais promissoras de diminuir a emissão de gases de efeito estufa e assim, proteger o planeta das mudanças climáticas. É o que aponta o novo estudo da The Nature Conservancy (TNC) Brasil que avaliou as diferentes estratégias de agricultura sustentável, os benefícios do carbono e os mecanismos de monetização de carbono para identificar quais as opções mais eficazes para Amazônia e Cerrado.

A TCN considera que o setor agrícola oferece uma das maiores oportunidades para a solução climática por meio de uma combinação de fatores que incluem o combate ao desmatamento, restauração de vegetação nativa e implementação de práticas de agricultura regenerativa. O estudo analisou o potencial de mitigação de cada uma dessas vias, a viabilidade técnica do instrumento de monetização do carbono e os custos de implementação associados.

Como conclusão, o estudo intitulado “Opções para alavancar o financiamento para a produção de soja e carne bovina sem desmatamento via carbono na Amazônia e no Cerrado”, aponta que o combate ao desmatamento dentro e fora das propriedades é a forma mais econômica para reduzir as emissões em larga escala.

“A conversão evitada nas propriedades é elegível para a abordagem do mercado de carbono, embora haja desafios de implementação, como obter o compromisso de longo prazo dos produtores de não converter. Por outro lado, as projeções para o valor do crédito de carbono e o avanço do mercado de carbono são animadoras. Esse cenário está intimamente relacionado a um dos principais desafios para promover essa opção - o custo de oportunidade”, conclui o estudo.

O diretor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) Guilherme Minssen concorda com o estudo quanto ao protagonismo do setor contra a emissão de CO2. “De todos os setores econômicos, o agronegócio é o único que pode mitigar a emissão de gases do efeito estufa. Nós já temos cerca de oito tecnologias aprovadas para sequestrar carbono, por exemplo. Então, a boa notícia é que nós sabemos produzir em um ambiente equilibrado porque já entendemos que é possível sim produzir mais e melhor com ambiente conservado, que ainda assim, gere lucro”, afirma.

“Antigamente você só degradava, produzia e depois degradava mais. Hoje, nós podemos produzir sem degradar e trabalhar para gerar uma terra ainda mais fértil, pois é fato que se não cuidarmos do solo, não teremos planta. Se não tivermos planta, não teremos animal. E aqui, na Amazônia, somos abençoados com o nosso clima quente e tropical úmido, o que nos torna ainda muito mais eficientes do que regiões frias para a mitigação de emissão de CO2.

Financiamento

O diretor de Conservação da TNC Brasil, Rodrigo Spuri, explica que o financiamento por meio de crédito de carbono, tratado na pesquisa, que pode ser de iniciativa pública ou privada, é importante para incentivar as boas práticas de uso da terra.

“O Brasil é o País com maior potencial de mitigação da emissão de CO2. Além de não desmatar e trabalhar para recuperar as áreas já desmatadas, políticas que incluem o pagamento de crédito de carbono, fazendo com que produtores possam ser financiados por entidades comprometidas com o meio ambiente é necessário para o avanço da discussão”, afirma.

Para Rodrigo, o estudo traz o diferencial de mostrar aos produtores como adotar estratégias que mitiguem o carbono do meio ambiente pode ser lucrativo para o setor. “Antigamente, uma área de floresta nativa não tinha valor atrelado. Mas neste estudo, defendemos que os produtores podem ter muitos benefícios em manter a floresta em pé, benefícios estes que vão além da questão financeira, por meio do crédito de carbono”, expõe.

“Os produtores ganham com a conservação de biodiversidade; possibilidade de recuperação de áreas de nascentes, que são importantes para a produção; geração de emprego para aqueles que trabalham com reflorestamento, gerando uma receita agroflorestal; enfim, esse estudo dá luz à oportunidades econômicas, defendendo que a agricultura depende do clima”, completa. De acordo com a TCN, a restauração de florestas pode gerar cerca de 2,5 milhões de empregos no Brasil até 2030.

Quando a necessidade de financiar essas atividades, o diretor argumenta que o fato não demonstra fragilidade da legislação ambiental brasileira. Pelo contrário, trata-se de um reforço e um incentivo para fazer-se cumprir. “O Brasil tem uma das melhores legislações ambientais de todos os países, temos um Código Florestal completo que trata da perenidade da atividade rural. Mas o financiamento do não desmatamento, por exemplo, significa um incentivo para que os produtores se adequem à legislação”, justifica.

“O Código Florestal é forte, mas é necessário investir em fiscalização e cumprimento dele. Pois a necessidade de parar o desmatamento não é apenas uma questão de legislação, mas uma questão de clima global. Então, ter programas e políticas que incentivem isso, gerando inclusive mais emprego e renda, é excelente”, finaliza Spuri.

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