Pará: planejamento é o principal aliado na busca pela estabilidade financeira após os 60 anos
Faixa-etária representa 15% da população brasileira e 54% do capital investido por pessoas físicas na bolsa de valores
Faixa-etária representa 15% da população brasileira e 54% do capital investido por pessoas físicas na bolsa de valores
O Brasil envelheceu. Na última década, a população de 60 anos ou mais praticamente dobrou, passando de 14 milhões em 2010 para 22 milhões em 2022, de acordo com o último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a imagem desses brasileiros reclusos em casa, de cabelos brancos, esperando o fim da vida, já não faz mais sentido. Essa parcela da população está cada vez mais ativa quando o assunto é investimento. Cautelosos sim, mas com bastante apetite por oportunidades de crescimento e, acima de tudo, estratégicos na hora de buscar a tão sonhada estabilidade financeira.
Alguns – com mais experiência - buscam oportunidades de crescimento moderado, enquanto que outros priorizam investimentos de baixo risco. A preocupação com a aposentadoria frequentemente ainda direciona essas escolhas, levando a uma preferência por portfólios mais conservadores. Mas, definitivamente, não existe uma regra. Ao consideramos o investimento na bolsa de valores, por exemplo, dados referentes a outubro da B3 demonstram que 54% de todo o capital investido por pessoas físicas pertence a investidores com idade a partir de 56 anos.
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Para o economista Nélio Bordalo, essa é uma tendência motivada pela crescente digitalização dos serviços financeiros, que tem permitido que muitos idosos acessem e gerenciem investimentos online, desafiando estereótipos e destacando a diversidade de estratégias presentes nesta faixa etária. Contudo, tendência não significa total abando dos padrões. A maioria dos idosos, segundo ele, ainda opta pela caderneta de poupança. “Isso acontece por um motivo simples: é onde eles se sentem mais seguro”, pondera o economista.
Outro fator que ajuda a definir esse perfil investidor da população na faixa dos anos é o não conhecimento de como funciona exatamente cada possibilidade. “Normalmente quem está recente nesse universo do mercado financeiro possui poucas informações. Ou por isso, ou por não quererem arriscar seu dinheiro, possuem um perfil mais conservador. Consequentemente, tem menos tolerância ao risco. Além disso, podem ser pessoas que estejam passando por algum momento específico, mais difícil em suas vidas, o que naturalmente já tornaria essa tolerância menor”, analisa Bordalo.
É bem possível que, em algum momento da vida, alguém já tenha compartilhado planos de adquirir imóveis para garantir fonte de renda. Não à toa, o mercado é uma das principais apostas quando o assunto é investir. De acordo com o indicador Abrainc-Fipe, da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias/Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, o mercado imobiliário brasileiro apresentou crescimento de 14,4% nas vendas de imóveis nos sete primeiros meses de 2023 em comparação ao mesmo período do ano anterior.
José Cabral, de 68 anos, foi um dos que apostaram nesse tipo de investimento. Após três décadas de serviços prestados a uma empresa estatal, “Seu Cabral” – alcunha herdada de quando serviu como fuzileiro naval na Marinha do Brasil, não se arrepende da escolha feita. “Comecei a investir quando tinha 24. Naquele momento, eu reservei um valor para emergência e, mesmo enfrentando desafios, sempre mantive essa reserva para meus investimentos. Apesar de algumas perdas, continuo investindo para deixar um legado para meus filhos”, conta.
Hoje, o aposentado possui imóveis comerciais e residenciais, alguns deles no município de Salinópolis, tradicional destino do nordeste paraense durante as férias e feriados prolongados. “Tudo que fiz foi pensando na minha família. Os anos de trabalho me proporcionaram estabilidade. Quando saí foi por escolha, já pensando em continuar investindo. Não nasci em berço de ouro. Conquistei tudo com o meu trabalho e, hoje, continuo pelos meus filhos. Sigo investindo por eles, para que possa proporcionar uma educação de qualidade”, afirma.
Antônio Pandim Neto, da Genial Investimentos, afirma que quando se fala em investimentos imobiliários, grande parte das pessoas associa o assunto à compra, venda ou aluguel de imóveis. De fato, o investimento direto em compra são possibilidades reais de investir nesse setor. Há décadas o mercado imobiliário é a preferência de muitos brasileiros na hora de investir. Mas há alternativas indiretas de investimento imobiliário, por meio da compra de títulos e ativos disponíveis no mercado financeiro.
“Alguns são mais seguros, outros mais arriscados. Há alternativas mais caras e complexas, e outras que são mais acessíveis e simples de se fazer. Um dos principais atrativos de investir em imóveis é o potencial de valorização que essa alternativa costuma oferecer no longo prazo. Isso acontece porque, com o tempo, as propriedades tendem a se valorizar — especialmente se estiverem localizadas em áreas com alta demanda”, aponta o especialista.
Garantir uma vida financeiramente estável é um desafio em todas as idades, mas para aqueles que já ultrapassaram a faixa dos 60 anos este desafio pode ser ainda maior. Para o economista Nélio Bordalo, planejar seus investimentos para uma aposentaria segura é o melhor dos caminhos. Tentar manter, quando possível, um fundo de reserva também é aconselhável. “Quanto mais cedo se começar a pensar e a investir, mais possibilidade se terá de conseguir chegar nesta etapa da vida de forma estável ou com alguma reserva”, afirma.
De acordo com o economista, a melhor estratégia é diversificar os investimentos entre imóveis e aplicações financeiras seguras com rentabilidade mensal, entre elas, o Tesouro Direto, a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Letra de Credito Imobiliário (LI). “Não invista todos os seus recursos financeiros para adquirir imóveis em regiões de praia, pois com o passar dos anos esses imóveis se depreciam, necessitam de manutenção constante e, portanto, de investimentos passam a serem custos mensais”, alerta Bordalo.
Outra estratégia é investir a longo prazo. “Investir em ações de empresas para receber quando estiverem aposentados pode ser interessante quando bem planejado, pois os dividendos são pagos mensalmente, ou seja, se tem um retorno mensal. Para isso, é preciso estudar bastante sobre o mercado. Mas, nesse mesmo sentido, se pode fazer uma previdência privada que pode contribuir bastante com o orçamento pessoal no futuro, sendo um complemento importante nas despesas. Além disso, manter um plano de saúde pode ser estratégico para despesas médicas inesperadas”, elenca o economista.
Por fim, o Bordalo pontua que investir não se resume apenas ao aspecto financeiro. Estratégias sociais também podem enriquecer a vida na terceira idade e devem ser aliadas nesta etapa da vida, pois podem ser tão serem tão gratificantes quanto os benefícios financeiros. “Preserve seu bem estar e usufrua da sua aposentadoria e dos rendimentos financeiros viajando ou fazendo coisas que sejam importantes para manter a felicidade em alta. De nada adianta acumular riqueza sem usufrui-la, pois vai virar herança para alguém gastar”, aconselha Nélio.
32 mi
15,6% da população total
Aumento de 56,0% em relação a 2010, quando era de 20 mi, o equivalente a 10,8%
Fonte: Censo Demográfico 2022 - IBGE
Perfil dos investidores brasileiros na bolsa de valores
Faixa etária - Valor (R$ bilhões) - %
Até 15 anos – 0,77bi - 0,16%
De 16 a 25 anos – 4,62bi – 0,96%
De 26 a 35 anos – 36,18bi – 7,49%
De 36 a 45 anos – 87,24bi – 18,06%
De 46 a 55 anos – 91,72bi – 18,99%
De 56 a 65 anos – 102,32bi – 21,18%
Mais do que 66 anos – 160,23bi – 33,17%
Fonte: B3