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Petróleo, inflação e alimentos: os impactos da guerra na economia do Pará

Possível escalada do conflito pode resultar em altas nos preços dos combustíveis e, consequentemente, fretes e alimentos mais caros, dizem estudiosos

Elisa Vaz

O confronto entre Israel e o grupo palestino Hamas, que se intensificou há cerca de duas semanas, quando terroristas iniciaram uma série de ataques contra o território israelense, pode causar sérios impactos na economia do Pará. Mesmo a quase 10 mil quilômetros de distância, aquela região é capaz de produzir efeitos diversos no mercado internacional, inclusive criando altas de preços de combustíveis, fretes e até alimentos no território paraense, dependendo da escalada da guerra.

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“Se o diesel sobe, e subirá constantemente em função dessas oscilações de mercado, já conhecemos a regra por aqui: mais aumentos no preço do que consumimos. Temos no Pará um grau de dependência e uma relação gigantesca com outros estados que fornecem aquilo de que necessitamos - a alimentação é um grande exemplo disso. Então, se ela vem de outros estados, por estrada, com combustíveis mais caros e frete mais caro, o custo de vida com certeza vai ser bem mais elevado para nós”, projeta o especialista.

Outros produtos e serviços também devem sofrer impacto, já que a formação de preços leva em conta os gastos com transporte, conforme o supervisor técnico do Dieese. Ele lembra que, em agosto e setembro, dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram alta na inflação de Belém nos últimos 12 meses superior à de outras capitais.

“O nosso custo de vida e nossos preços aqui já são elevados. Com essa condição e a possibilidade de mais ajustes no valor daquilo que, para nós, forma preços dos demais itens, como o caso do diesel, a possibilidade da nossa inflação ser maior é gigantesca. Com esse novo reajuste de 6% no preço do diesel, não é de se duvidar que, novamente, em outubro, a inflação calculada para Belém também aponte aumentos”, detalha Everson. Para o economista Douglas Alencar, o ideal é observar a evolução do conflito. Caso a guerra passe a envolver outros países no Oriente Médio, segundo ele, o impacto nos preços pode ser ainda maior.

‘Preocupante’, diz setor produtivo

Já que as commodities são as principais afetadas por eventos geopolíticos como o que ocorre entre Israel e Hamas, produtos da pauta de exportação paraense podem ter certo impacto, como detalha Douglas. “É possível que haja impacto sobre a balança comercial do Pará, em especial com a venda do minério de ferro. Em relação a Israel e Palestina, o impacto direto deve ser pequeno, considerando que são populações muito pequenas para a balança comercial. Os impactos no Estado devem se dar de forma indireta, via preços das commodities no mercado internacional”, diz.

O Pará exportou neste ano, de janeiro a setembro, um total de US$ 58,4 milhões a Israel, US$ 39,2 milhões para o Líbano, US$ 29,2 milhões ao Egito, US$ 20,6 milhões para a Arábia Saudita e US$ 9,8 milhões ao Irã, todos países envolvidos ou próximos ao conflito. Os dados são do Núcleo de Planejamento (Nuplan) da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap).

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Para o zootecnista Guilherme Minssen, da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), o conflito ainda é muito recente para se ter certeza, mas ele garante que, comercialmente, houve uma “grande repercussão” desde o início da guerra. “Nós comercializamos com a região principalmente o boi em pé. Eu vou falar sempre na região porque não adianta separar Palestina e Israel, mas ele é muito recente para a gente ver o que vai acontecer. Eu acho que o mais importante é falar que, em uma economia globalizada igual a nossa, qualquer guerra, como é o caso da Ucrânia e Rússia, afeta o mercado e afeta a economia porque nós somos vendedores de commodities. Mas a repercussão e o tamanho nós só vamos saber nesses próximos 90 dias, já que os contratos que já foram feitos estão sendo todos honrados”.

Apesar dos possíveis impactos locais e regionais, Minssen destaca que a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), na qual entra a equipe da Faepa, está acompanhando atentamente todos esses mercados. O zootecnista garante que, embora a situação seja “bastante preocupante” para o agronegócio, a alimentação da população está garantida. “Nós temos segurança alimentar, e o país que tiver segurança alimentar vai aguentar mais tempo algumas intempéries como essa”, finaliza o especialista.

Relação comercial do Pará com Oriente Médio

PAÍS | VALOR EXPORTADO

Israel: US$ 58.444.608

  • Carne bovina in natura: US$ 48.035.085 
  • Soja em grãos: US$ 7.897.452
  • Miudezas de carne bovina: US$ 930.960 
  • Sementes de oleaginosas (exclui soja): US$ 743.997
  • Madeira perfilada: US$ 403.128

Líbano: US$ 39.287.667

  • Bovinos vivos: US$ 37.519.277 
  • Soja em grãos: US$ 1.447.254 
  • Carne bovina in natura: US$ 123.211 
  • Demais produtos e subprodutos da indústria de moagem: US$ 95.825 
  • Outras rações para animais domésticos: US$ 51.111

Egito: US$ 29.278.778 

  • Bovinos vivos: US$ 17.142.998 
  • Milho: US$ 7.968.822 
  • Carne bovina in natura: US$ 2.699.831
  • Pimenta piper seca, triturada ou em pó: US$ 769.148
  • Sementes de oleaginosas (exclui soja): US$ 561.731

Arábia Saudita: US$ 20.614.615

  • Soja em grãos: US$ 9.481.524
  • Carne bovina in natura: US$ 3.151.116
  • Milho: US$ 2.833.116
  • Bovinos vivos: US$ 2.521.740
  • Sementes de oleaginosas (exclui soja): US$ 2.161.621

Irã: US$ 9.860.078

  • Milho: US$ 7.064.831
  • Soja em grãos: US$ 2.795.247

Fonte: Sedap

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