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Pará é terceiro Estado que mais aumentou arrecadação de ICMS

Alta pode ter sido motivada pelos recursos do auxílio emergencial, segundo levantamento da FGV

Elisa Vaz

Com impulso do auxílio emergencial, que aumentou o consumo em todo o país, 14 estados tiveram alta na arrecadação do principal tributo estadual: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O Pará ficou em terceiro lugar entre os estados com os maiores acréscimos (12,55%), atrás de Roraima (17,38%) e Mato Grosso (12,68%). A comparação, realizada pela Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite) e Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi entre julho e agosto deste ano com o mesmo período do ano passado.

Segundo o levantamento, os maiores reajustes na arrecadação do tributo ocorreram nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Proporcionalmente, a população dessas regiões foram as mais beneficiadas pela distribuição do auxílio emergencial. Segundo o Portal da Transparência do governo federal, o Pará recebeu cerca de R$ 9,8 bilhões até agosto. No total, entre julho e agosto, os 26 estados e o Distrito Federal arrecadaram R$ 85,5 bilhões com ICMS, acima dos R$ 83,3 bilhões arrecadados no mesmo período do ano passado.

O titular da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa), René Sousa Júnior, diz que essa arrecadação representa, para o Pará, a garantia de que o Estado vai continuar com as finanças equilibradas, pagando o servidor público em dia, honrando os compromissos e fazendo investimento. “Como os valores da receita cresceram, o Pará deve terminar o ano com o investimento de 8% do orçamento anual, o que deve ser um dos maiores investimentos feitos, este ano, entre os estados brasileiros”, garante.

O secretário ainda destaca que a receita própria do Pará tem batido recordes desde julho deste ano, mostrando que a economia no Estado reaqueceu e superou a pandemia. Em setembro, segundo René, a receita total alcançou R$ 2,341 bilhões, crescimento real de 34,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A receita total acumulada no ano é de R$ 17,629 bilhões, crescimento real de 11,7%, na comparação com o mesmo período de 2019.

A receita própria somou R$ 11,247 bilhões de janeiro a setembro de 2020, com variação real de 5,9% na comparação com o intervalo do ano anterior. Apenas em setembro, a receita própria somou R$ 1,537 milhão.

O ICMS arrecadado em setembro foi de R$ 1,344 bilhão, crescimento real de 22,7% em relação a 2019. No acumulado do ano, a arrecadação do imposto registra alta de 7,2%, em termos reais, totalizando R$ 9,759 bilhões.

De acordo com o economista Sérgio Melo, a alta ocorreu porque o auxílio emergencial aumentou o orçamento dos brasileiros, sobretudo os de menor renda, e se traduziu em aumento de consumo, mesmo com as dificuldades econômicas causadas pela pandemia do novo coronavírus. Segundo o especialista, isso acontece porque as pessoas de menor renda são as que recebem o auxílio emergencial do governo. Como utilizam seu orçamento para a subsistência, a maior parte ou quase a totalidade do valor recebido é consumido.

Melo afirma que o consumo é um dos motores do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da arrecadação de impostos pelo governo. “A propensão a consumir mais na camada de renda mais baixa da população faz com que os setores mais ligados na cesta de consumo das pessoas que recebem o auxílio emergencial sejam diretamente afetados, como é o caso do comércio de alimentos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos. A ativação desses setores gera encadeamentos na economia e ativam outras atividades econômicas, beneficiando a arrecadação do Estado”, pontua.

Como explica o economista João Santos, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Estado é pouco industrializado, que importa grande parte das mercadorias do território, em especial os produtos da indústria. “O Pará arrecada impostos com a importação de mercadorias industrializadas, de outros estados do país. Na medida que passa o efeito da pandemia e as pessoas têm uma renda represada e surge o auxílio, há uma pressão na demanda, e isso faz com que aumente a arrecadação no Pará. Grande parte desses produtos são correspondentes à cesta básica do consumidor”, diz.

De tudo o que é arrecadado diretamente pelos estados, o ICMS responde por cerca de 80%. Santos explica que o imposto é arrecadado não pela produção interna, mas pela circulação de mercadoria. "Quando diminui a circulação de recursos, nossa arrecadação cai. O auxílio emergencial começou em um momento muito propício. As pessoas que receberam o benefício gastaram o recurso com a subsistência. E temos que observar que os produtos estão mais caros, tanto alimentação como energia elétrica, por exemplo. Telefonia e combustível também são grandes motores do imposto. Isso contribuiu para o reajuste", aponta.

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