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Número de negócios fechados em 2020 no Pará foi quase 20% menor que 2019

Os setores mais impactados foram serviços (43%), comércio (48%) e indústria (9%)

Elisa Vaz

Embora a economia tenha sido drasticamente abalada após o início da pandemia do novo coronavírus no Pará, o número de negócios fechados entre março do ano passado e janeiro deste ano foi 19,52% menor que o mesmo período um ano antes. Segundo a Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa), fecharam as portas 15.588 empresas na pandemia, contra 19.368 entre março de 2019 e janeiro de 2020. Os setores mais impactados no ano passado foram serviços (43%), comércio (48%) e indústria (9%).

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista e dos Lojistas de Belém (Sindilojas), Joy Colares, afirma que o fechamento de negócios realmente ocorreu durante a pandemia, e que cerca de 15 a 20% das empresas fechadas fazem parte do segmento lojista. O principal impacto, segundo ele, foi no comércio de rua, mas, proporcionalmente, nos shopping centers o índice foi maior.

“Aqui na capital devem ter sido umas mil lojas fechadas. As que têm um custo operacional mais caro, em shoppings, por exemplo, fecharam mais, proporcionalmente. Isso se deu por conta da queda drástica no faturamento dessas empresas, em que o empresário não teve como manter suas obrigações, principalmente a folha de pagamento, o aluguel e os fornecedores. Nas ruas, o número foi maior, embora menos proporcional, e os motivos são os mesmos. A expectativa é de que no segundo semestre haja uma recuperação nesse sentido”, comenta.

Queda no índice mostra que Pará é empreendedor

Já o diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Pará, Rubens Magno, explica que, embora o fechamento tenha sido alto, muitas empresas também foram abertas no período. Para ele, isso mostra que o Pará é um local de muitos empreendedores.

“Nesse momento de crise, as pessoas estão se lançando no mercado, seja porque ficaram desempregadas ou porque tiveram que aumentar os seus recursos familiares e utilizaram habilidades pessoais para prestar algum tipo de serviço e, principalmente, gerar renda. O Sebrae vê dessa forma: há um lado aguerrido do empreendedor paraense de buscar soluções para aumentar seu faturamento; e há também o caso de empresas que já estavam abertas e tiveram possibilidade de incrementar seu negócio e abrir negócios adicionais”.

Desde a criação do Simples Nacional, tributação diferenciada exclusiva para pequenos negócios, o número de empresas de pequeno porte vem crescendo, segundo o diretor-superintendente do órgão. Ele diz que a base da economia do Pará são as micro e pequenas empresas, que respondem por mais de 96% do total de negócios abertos hoje no Estado, e a pandemia também influenciou nesse comportamento, para Rubens. Com isso, as pessoas que se colocaram no mercado nessa categoria têm direito a alguns benefícios, como seguridade social, emissão de nota fiscal, venda para órgãos públicos e outros, que representam ganhos para o Estado, mercado e empresários.

“Muitas pessoas não tinham saída e outras quiseram apenas aumentar sua renda. Tenho certeza em afirmar que isso ocorreu por uma necessidade de formalização e pela abertura maior de mercado para atuar, a pandemia alavancou. Tivemos as indústrias de máscaras de tecido, serviços de entregas, de agricultura. Com a restrição de ir e vir, os consumidores perceberam a necessidade de alguns serviços e produtos em sua casa. Isso ajudou o mercado”, comenta. O especialista ainda adianta que esse crescimento nos negócios deve continuar este ano.

Negócio foi alavancado na pandemia

Com o aumento no número de empresas abertas, ao que tudo indica, os empresários estão remodelando seus negócios e voltando para a frente da batalha. É o caso da publicitária e produtora audiovisual Kamila Motta, de 29 anos, que decidiu embarcar no empreendedorismo há cinco anos e viu seu negócio crescer no ano passado. Com vendas destinadas exclusivamente ao público feminino, em um conceito praiano, leve e colorido, a marca já passou por várias fases.

Kamila começou a loja de forma online, com vendas apenas pelas redes sociais. No início, ela participava de lojas colaborativas e feiras, e após alguns meses abriu a primeira loja física, onde ficou aproximadamente um ano. Após isso, a empreendedora decidiu mudar de endereço, onde ficou por mais dois anos. "Eu sempre quis ter a minha própria marca, porque dessa forma eu podia trabalhar com duas coisas que amo, marketing e moda. No início, fazia tudo de uma forma muito intuitiva, e com o tempo a loja foi crescendo e passou a ser minha única fonte de renda", conta.

A chegada da pandemia fez Kamila ficar apreensiva. Ela conta que o começo foi difícil e desafiador. Como as lojas físicas começaram a fechar, se falava muito em mudanças na forma de consumo e, por isso, ela tentou criar estratégias para que isso não atingisse sua empresa de forma negativa.

"Como eu não sabia por quanto tempo precisaria ficar com a loja física fechada, foquei todos os meus esforços na presença digital da marca, que, de certa forma, já era forte, mas precisei intensificar. Passei a criar conteúdo para as redes sociais de maneira mais consistente, oferecendo benefícios para as compras online, como entrega grátis, além de conteúdos sobre o universo da marca, dicas de como lidar com o isolamento, bastidores da loja e outras ações, para trazer as clientes para mais perto", lembra Kamila.

Com isso, as redes sociais da loja cresceram, assim como o faturamento. Só então a empreendedora decidiu fechar o ponto físico e migrar a operação da loja para o ambiente digital, estruturando um escritório e estoque dentro de seu apartamento. Isso, segundo ela, diminuiu seus custos fixos, como aluguel e energia, e os resultados foram os melhores possíveis. Kamila conta que fechou o ano de 2020 com o maior faturamento que a marca já teve. Hoje, a loja continua online e não há previsão de voltar a ter um prédio físico. A empresária acredita que os clientes querem cada vez mais comodidade e segurança, e um dos benefícios do e-commerce é fazer entrega para outros estados.

Já a empreendedora Maria Clara Nava, de 24 anos, sentiu a vontade de expandir os horizontes no meio da pandemia. Ela trabalhava em uma loja, em um dos shopping centers da capital, e decidiu empreender.

"Comecei com uma amiga uma loja online de cestas de café da manhã, mas não consegui conciliar com o trabalho do shopping e acabei deixando a sociedade. Sempre quis abrir uma loja virtual de bijuteria. Alguns meses se passaram e passei a estudar as possibilidades de sair do meu emprego e abrir a marca. Pesquisei e analisei. Então decidi me desligar do trabalho e comecei a tirar do papel todo o planejamento. Viajei para conhecer fornecedores e comprar as peças. Logo que cheguei criei a loja nas redes sociais", conta. São apenas algumas semanas de existência da empresa, mas Maria Clara já vê um aumento orgânico de seguidores e vendas online.

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