Junho de 2021 registra queda no endividamento e inadimplência do paraense
Números são comparativos com 2020. Principal tipo de dívida ainda é o cartão de crédito, com 76,9% das famílias utilizando essa modalidade.
Um levantamento divulgado pela Federação do Comércio do Pará (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC / Fecomércio) apontou a queda, no mês de junho, do endividamento, de 74,3% para 61,1%, e da inadimplência, de 34,7% para 29,3%, se comparado ao mesmo período do ano passado. O motivo da redução de 2020 para 2021 é que, com a crise econômica provocada pela pandemia, as famílias tentaram equilibrar as dívidas e reduziram suas compras parceladas, diante do ambiente de incertezas quando à manutenção dos negócios, empregos e padrão de renda.
Essa queda foi sentida pelo empresário Simão Bechara, que atua em vários segmentos no município de Salinópolis, nordeste paraense – material de construção, supermercado, móveis e eletrodomésticos, setor pesqueiro, etc. Ele conta que vem observando essa redução, especialmente na inadimplência, e acredita que, para além da manutenção de necessidades básicas das famílias, como alimentação, remédios e outros, há um movimento do paraense de buscar sanar suas dívidas.
“Acredito que os auxílios que o governo direcionou na pandemia fizeram que as pessoas utilizassem, sim, para a sua manutenção básica, mas também para pagar suas dívidas. Temos percebido uma melhora em todos os nossos setores aqui, porque realmente houve uma diminuição da inadimplência, ao invés de aumentar”, analisou Simão.
Apesar da queda comparativa de junho/20 para junho/21, houve um pequeno incremento do mês de maio para o mês de junho desde ano nestes dois índices: endividamento, de 59,3% para 61,1%; e inadimplência, de 28,1% para 29,3%. Ou seja, mesmo com a retomada econômica dos municípios e, consequentemente, os Estados brasileiros, após um ano da chegada do coronavírus ao Brasil, muitas pessoas ainda temem a duração do período de incertezas e duração da crise.
É o caso da profissional de Educação Física Kassia Cunha. Com o fechamento das academias, em março do ano passado, ela perdeu mais de 50% do seu salário, e precisou refazer todo o seu planejamento e, principalmente, parar de gastar. “Tanto na época do lockdown quanto depois, quando reabriu tudo, eu me segurei bastante, tive que me conter e foi uma coisa que fui levando pós lockdown, acabei mantendo, não superfaturei o meu cartão”, relata.
Kassia se mudou recentemente para um imóvel alugado e diz que o planejamento financeiro é outro, atualmente. “Eu ainda uso o cartão, mas a gente não sabe como vai ficar daqui para a frente, é muito incerto, então prefiro manter o planejamento financeiro para saber o que posso e não posso gastar. Para me mudar, por exemplo, eu fiz uma reserva, até para poder conseguir comprar as coisas da casa e pagar um aluguel”, conclui a professora.
Para a assessora econômica da Fecomércio, a taxa ainda é considerada alta, mas não está fora do padrão dos outros anos, um pouco abaixo da média de 2020 e um pouco mais alta que em 2018 e 2019. “A questão é que uma taxa de endividamento tem que ser analisada associando outros indicadores, como a inadimplência, que é se nesse nível de endividamento, os consumidores conseguem arcar com o pagamento dessas dívidas que eles fizeram nos prazos estabelecidos. Muito importante verificar isso”, explicou.
Cartão de crédito é vilão
Ainda de acordo com o estudo, o principal tipo de dívida continua sendo o cartão de crédito, comprometendo o orçamento de 76,9% das famílias. Este percentual foi superior às taxas de maio (75,6%) e dos 74,4% registrados em junho de 2021. Depois vem os carnês, com 24,3%; seguidos por crédito pessoal, com 15,7% – cuja elevação chama muita atenção em relação a junho/2020 (73,7%), mais uma vez demonstrando as dificuldades dos consumidores que já se encontravam com elevada taxa de endividamento e que vêm recorrendo ao crédito pessoal.
A pesquisa aponta ainda que a parcela de renda comprometida com dívidas, na comparação mensal, permaneceu quase estável: em maio de 2021 era de 28,7% e em junho passou para 28,9%. Há um ano, esse percentual era de 33,4% e já tinha ultrapassado o limite máximo recomendável, que é não comprometer mais de 30% da renda mensal com dívidas.
O atraso superior a 90 dias atingiu 50,7% dos inadimplentes e a taxa de famílias que dizem não ter condições de pagar a dívida atrasada ficou praticamente estável, de14,3% em maio/21 para 14,4% em junho – um aumento expressivo em relação à taxa registrada neste mês no ano passado, que foi de 7,1%, o que evidencia muitas dificuldades dos consumidores de sair condição de inadimplência e revela impactos da crise econômica sobre a renda das famílias.
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