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Estudo mostra expansão sustentável do cacau na Amazônia

Pesquisa da Embrapa aponta que o crescimento das lavouras contribui para a recuperação de áreas degradadas, redução do fogo e do desmatamento

O Liberal

Um amplo mapeamento feito pela Embrapa e instituições parcerias aponta que a expansão do cacau tem sido benéfica para a Amazônia. O estudo, publicado internacionalmente, mostra que 70% do cultivo se expandiu em áreas degradadas e de pastagens. Além disso, o cacau é cultivado majoritariamente por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais. O resultado é a recuperação de áreas, a redução do fogo e do desmatamento.  

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“Para isso, foi preciso cruzar imagens de satélite obtidas pelo monitoramento regular do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), do projeto de Mapeamanto do Uso da Terra na Amazônia (TerraClass) e os dados do Cadastro Ambiental Rural para ir a campo e checar, junto aos produtores e técnicos locais, a localização exata do cacau entre as áreas de floresta”, acrescenta Venturieri.

A área monitorada e mapeada pela pesquisa no Pará está localizada nos dez municípios de maior produção cacaueira no estado e corresponde às regiões da Transamazônica, Sudeste do Pará, Nordeste do Pará e Baixo Tocantins, utilizando metodologias participativas junto às comunidades locais.

Por meio da modelagem e dos padrões de imagem estabelecidos na análise, o trabalho aponta a existência de 90 mil hectares de cacau (até 2022) em 26 municípios paraenses. A meta, segundo o especialista, é se aproximar cada vez mais, dos números oficiais. O trabalho conta com o apoio financeiro do Governo do Estado do Pará por meio do Funcacau para identificação das lavouras cacaueiras no estado.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu 270 mil toneladas de amêndoas de cacau (Theobroma cacao) em 2020/2021. Na Região Norte essa produção ficou em 150 mil, sendo o Pará responsável por 96% do total regional. O estado nortista é maior produtor nacional desse fruto, com previsão de safra para 2022 de 143 mil toneladas, segundo o IBGE. O cacau movimentou no estado 1,8 bilhão de reais em 2020 em valor de produção.

Expansão em áreas já abertas

“Cerca de 80% da produção de cacau do estado está na região da Transamazônica, do município de Novo Repartimento até Uruará, sendo Medicilândia o epicentro do polo cacaueiro do Pará, conta José Raul Guimarães, superintendente regional no Pará e Amazonas da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

A Ceplac atua na região amazônica desde a década de 60 e acompanha a expansão das lavouras cacaueiras há décadas. O crescimento da cadeia produtiva, como aponta José Raul, é surpreendente. “Em 1970 o Pará tinha 570 produtores de cacau, hoje são quase 30 mil. A área plantada também surpreende, como conta o superintendente. “Plantamos anualmente de 8 a 10 mil hectares. É uma das regiões que mais planta cacau no mundo”, ressalta.

O pesquisador Adriano Venturieri, da Embrapa, ressalta que 88,7% da área cacaueira plantada no Pará já havia sido desmatada até o ano de 2008, que é o marco legal do Código Florestal Brasileiro. “Isso nos mostra que o cacau, majoritariamente, não está avançando sobre novas áreas de floresta”, acrescenta.

Agricultura perene

A tendência de conversão de áreas de pastagens em plantios de cacau também foi constatada no mapeamento. O produtor paraense Ribamar Nóbrega, do município de São Francisco do Pará, na região Nordeste do estado, é um exemplo dessa mudança. Ele e a esposa Márcia Nóbrega trocaram o pasto de 35 anos da Fazenda Iracema pelo Sistema Agroflorestal (SAF). Nóbrega tem atualmente 25 hectares em fase de produção com as três culturas e está em fase de implantação de mais 20 hectares. “Optamos pelo cacau por ser uma atividade perene e também por ser uma fruta que tem um desenvolvimento adequado à nossa região. Além disso, o cacau com o açaí e a banana são atividades que se complementam e têm boa rentabilidade”, conta.

Mais produtividade

Para o engenheiro agrônomo e gerente da CocoaAction Brasil, iniciativa vinculada à World Cocoa Foundation (Fundação Mundial do Cacau), o passo fundamental é ampliar a produtividade média do país, que atualmente é de 300 kg/hectares. Um estudo de viabilidade econômica de sistemas produtivos com o cacau, realizado pela Cocoa Action, Instituto Arapyaú e WRI Brasil em parceria com outras instituições, mostra que com uma produtividade acima de mil quilos por hectare, o cacau gera uma renda de até cinco mil reais por hectare. “A forma mais rápida de aumentar a renda do produtor é aumentar a produtividade da lavoura”, ressalta.

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Apesar da produtividade paraense ser bem acima da média nacional (970 a 1.000kg/hectare), existe material genético, tecnologia e áreas na região disponíveis para ampliar essa produção com sustentabilidade. “Tem muito espaço para aumentar a produção no Pará e tem mercado para comprar essa produção”, acredita.

Os resultados apontados pelo estudo “A expansão sustentável do cacau (Theobroma cacao) no estado do Pará e sua contribuição para a recuperação de áreas degradadas e redução do fogo” serão apresentados durante a programação do Chocolat Xingu 2022 – Festival Internacional do Cacau e Chocolate, que acontece de 30 de junho e 03 de julho, em Altamira. O painel “O cacau sustentável do Pará” acontece dia 01/07 e reúne o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Adriano Venturieri, o gerente da Cocoa Action Brasil Pedro Ronca e o agroambientalista Marcello Brito, CEO da CBKK (Investimentos de Impacto ESG).

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