"Estão revolucionando a medicina": cirurgião paraense fala sobre parceria entre Pará e China
O cirurgião oncologista paraense, Dr. Antonio Bomfim, atualmente na China para um curso internacional, compartilhou detalhes das inovações médicas desenvolvidas no país asiático que prometem transformar o setor brasileiro nos próximos anos.
No próximo dia 11, Belém sediará um evento que promete fortalecer os laços entre o Pará e a China. Organizado pelo LIDE Pará, LIDE China e a Embaixada da China, o encontro abordará temas cruciais não apenas no agronegócio e na mineração, áreas onde a relação bilateral entre os países está bem fortalecida, mas em diversos setores importantes, como a área da saúde.
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3. De que maneira essas novas técnicas podem beneficiar os pacientes oncológicos no Pará e no Brasil como um todo?
Todas as vezes que a gente vem pra cá aprendemos novas técnicas e práticas cirúrgicas que são plenamente utilizáveis em todos nossos pacientes oncológicos. Desde 2017 usamos quase que exclusivamente a técnica uniportal para 99% dos nossos pacientes, e isso se aplica tanto na rede pública quanto na privada. Na rede privada nós dispomos do vídeo e do robô, na rede pública a gente ainda só dispõe da cirurgia por vídeo, porém traz um benefício imenso.
4. O senhor acredita que o Pará tem a infraestrutura necessária para implementar essas técnicas de cirurgia robótica no sistema público e no privado? Quais seriam os desafios e as oportunidades?
O Pará tem toda infraestrutura necessária para implementar o robô na rede pública e privada. Já dispomos de um robô DaVinci na rede privada, mas o Pará necessita de mais plataformas robóticas. A Shurui vai começar a ser comercializada para o mundo a partir do ano que vem, no momento só tem na China. Ela vem mais barata que a DaVinci e com as vantagens de ter menos invasividade e uma qualidade excepcional. As redes pública e privada têm plena capacidade tecnológica, pois para colocar um robô desse numa sala cirúrgica só precisa ter um espaço um pouco maior, nada de muito sofisticado. A única coisa que precisa é de investimento, pois se trata de um investimento alto e que hoje ainda é a principal barreira de se utilizar a plataforma robótica, mas com o passar do tempo, aumentando as plataformas e a concorrência entre elas, a tendência é que isso vá barateando da mesma forma que aconteceu há duas décadas com a cirurgia por vídeo.
5. Como o senhor vê o papel das parcerias internacionais, como esta com a China, na evolução da medicina no Brasil, especialmente no campo da oncologia? Podemos dizer que a medicina deles está mais avançada do que a ocidental?
É imprescindível estreitar cada vez mais as parcerias internacionais com todos os países envolvidos, principalmente com a China. Quando visitamos os hospitais chineses dos grandes certos, percebemos que a China está, pelo menos, 15 ou 20 anos à frente do Brasil. Então essa parceria tem que ser cada vez mais estreitada porque eles têm muita tecnologia exclusiva que, se fizermos parcerias, nossos pacientes podem ser muito beneficiados. Infelizmente ainda tem muita desinformação a respeito do que se faz aqui. O pessoal pensa que os produtos são de qualidade ruim, mas não, o que eles produzem hoje é de uma tecnologia extremamente avançada e sólida.
6. O encontro entre o Pará e a Embaixada da China, organizado pelo LIDE Pará e LIDE China, está se aproximando. Qual é a sua expectativa para esse evento e como ele pode contribuir para o setor de saúde no Pará?
A expectativa é que seja um grande evento e que muitas novas parcerias possam ser firmadas e, como falei, essas novas parcerias só vão trazer benefícios para nossa população e para nossos hospitais privados e públicos, que vão poder dispor cada vez mais de tecnologia de ponta e com preço extremamente competitivo em relação aos preços praticados por outras empresas internacionais.
7. De que forma o intercâmbio de conhecimento com a China pode influenciar a formação de novos profissionais de saúde no Brasil?
Essa vinda de profissionais brasileiros aqui para China é muito benéfica para os pacientes, porque a China é, devido a sua população, sua organização e aos sistemas de rastreamento de câncer, quem tem um sistema de rastreamento de câncer de pulmão extremamente ativo, também devido ao fato de ter uma população muito fumante e de haver muita poluição. Então eles tem um inúmeros casos de câncer de pulmão de outros cânceres, então todos os hospitais dos grandes centros tem muito volume de cirurgia e cirurgias extremamente habilidosas. Então a China sem dúvida é o melhor local pra um cirurgião brasileiro poder vim e fazer uma imersão de duas, três semanas, um mês e conseguir atingir um nível de experiência que ele conseguiria apenas passando seis meses, um ano em outros hospitais pelo mundo.
8. Quais são os planos futuros após o retorno ao Brasil? O senhor pretende implementar projetos específicos baseados no que aprendeu na China?
No retorno para o Brasil, com certeza vamos implementar novas tecnologias, porque tem muita coisa que é tecnologia que tem que ser adquirida, mas tem muita coisa que requer conhecimento prático que a gente consegue utilizar para melhoria do nosso dia a dia.
9. Por fim, que mensagem o senhor gostaria de deixar para os empresários e profissionais de saúde que participarão do encontro entre o Pará e a Embaixada da China sobre a importância da inovação e da cooperação internacional no setor médico?
Que as pessoas participem do evento para poderem ver as oportunidades que a China tem a oferecer paro nosso país. Que parem com o preconceito que existe de que a China oferece produtos de má qualidade, isso é um mito que está cada vez mais caindo no mundo todo. É só você ver tudo que a China tem de inovação, por exemplo, na parte automobilística, onde está engolindo as outras montadoras mundiais. Na medicina essa tendência está se repetindo e a gente vai ver em cada vez mais outras áreas esse aumento de implemento da tecnologia chinesa.