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Empresários paraenses sofrem com queda de faturamento e buscam novos caminhos

Pandemia atingiu principalmente os pequenos negócios, devido às restrições

Elisa Vaz

A maioria das pequenas empresas brasileiras - 6 em cada 10 - teve faturamento anual pior que o de 2019 no ano passado, segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, feita pelo Sebrae. O estudo ainda aponta que, em 2021, a situação piorou: em abril de 2020, foi registrada queda de 70% no faturamento, mas o cenário melhorou ao longo dos meses, até chegar a 34% em novembro; na última pesquisa, no entanto, referente ao início de março, a queda no faturamento foi para 40%.

O diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, afirma que o cenário de pandemia, com restrições de funcionamento e queda no poder de compra da população, é um fator determinante para a diminuição de faturamento nos empreendimentos. "Especificamente sobre março, precisamos finalizar os estudos do mês para precisar algumas variações. Mas, é fato que a segunda onda da pandemia influenciou, sem dúvida", diz.

Sobre o Estado, o especialista ressalta que a queda de faturamento dos pequenos negócios é uma realidade de todo o país desde o início da pandemia, e no Pará não é diferente. De acordo com Rubens, o Estado segue a mesma tendência observada na pesquisa nacional quanto aos dados de faturamento de 2019 para 2020, sendo que 63% dos entrevistados no estudo informaram que tiveram um faturamento pior que o de 2019 - no Brasil o percentual chegou a 65%.

"Em abril de 2020, 91,5% disseram que tiveram redução no faturamento de seus negócios e 58% foi a queda média. Ao se comparar os dados das duas últimas pesquisas (a primeira realizada em novembro de 2020 e a segunda no final de fevereiro para início de março de 2021), observa-se que a taxa de empresários que disseram que o faturamento diminuiu passou de 71%, em novembro, para 80%, no início de março. Portanto, acréscimo de nove pontos percentuais. A média de queda passou de 32% em novembro, para 40% no início de março", pontua o diretor-superintendente do Sebrae no Pará.

Quanto ao futuro, Rubens declara que alguns indicadores são importantes para se traçar um cenário de recuperação dos pequenos negócios, e o faturamento é um dos principais. "A saúde dos negócios está diretamente ligada às finanças e, se o faturamento continuar em queda, a recuperação é bem mais lenta ou pode levar à mortalidade. A expectativa é de que, à medida que as atividades voltem à normalidade, os negócios se recuperem".

Caminhos

Porém, para o especialista, há outros caminhos para se manter no mercado e melhorar o faturamento, mesmo no cenário atual, como investimento em estratégias para ampliar a presença digital e fortalecer a marca e o relacionamento com os clientes e na busca por novos consumidores, além de implantar ou investir e profissionalizar o delivery. Essas são ações que impactam positivamente no faturamento e, consequentemente, na sobrevivência dos negócios, segundo Rubens.

Dados da própria instituição mostram que boa parcela dos empresários paraenses está bem confiante: 54,8% dos entrevistados declaram-se otimistas ou muito otimistas com a melhora da economia paraense; e 61,4% estão otimistas com relação à melhora da sua empresa nos próximos seis meses. "É importante destacar que os pequenos negócios são os mais impactados em uma crise econômica, mas também há demonstrações de que eles têm uma capacidade de recuperação mais rápida", finaliza o diretor.

Desafios

A assistente social Flávia Raiol, de 39 anos, decidiu entrar no ramo do empresariado há cinco anos, quando fundou um negócio voltado para o rodízio de pizzas em casa, com foco na experiência gastronômica e no entretenimento: Divino Orégano. Embora a empreendedora já atuasse no ramo todos esses anos, precisou adaptar sua empresa durante a pandemia da covid-19. "Já estava no mercado quando tudo isso começou. Como somos do segmento de eventos, e não estamos podendo realizá-los, me adaptei oferecendo o produto semi pronto, e as pizzas poderiam se manter congeladas ou resfriadas. O cliente escolhe o dia e horário que quer", explica.

Segundo Flávia, os meses de dezembro do ano passado, janeiro e fevereiro deste ano foram excelentes para manter o patamar financeiro da empresa, com muitos eventos realizados. Porém, a partir de março até agora ela avalia como um momento "desafiador". Ela, inclusive, suspendeu o serviço de delivery das pizzas. "Tentei o Fundo Esperança novamente , sem sucesso. Estou apostando em trabalhos remotos, falando sobre empreendedorismo feminino e as reinvenções que precisei lançar mão para obter recurso financeiro. Além da ajuda de minha família", conta a empresária.

Como os colaboradores da empresa tinham a modalidade de freelance, Flávia diz que precisou comunicá-los de que seriam suspensos temporariamente os eventos com rodízio de pizzas em casa e, consequentemente, que precisaria suspender o trabalho deles. Assim que passar este momento mais rígido da pandemia, Flávia declara que retornará com o trabalho e os serviços dos trabalhadores. A expectativa da empresária é retomar a entrega de experiência gastronômica e entretenimento em forma de rodízio de pizzas onde o cliente quiser.

Já o empresário Paul Marcel, de 34 anos, que é proprietário de um negócio no ramo de assessoria de marketing na capital, teve queda de 80% em seu faturamento durante a pandemia. "No início foi desesperador, horrível. O primeiro óbito coincidiu com a data de uma cirurgia que fiz, com recuperação dolorosa, e somou ao medo de tudo estar mudando muito depressa por causa do aumento da pandemia nos Estados", lembra.

Na mesma época, clientes que tinham contratos de longa duração pediram suspensão porque suas atividades foram fechadas com as medidas restritivas. Somado a isso, houve ausência de caixa livre, já que o ano havia começado mal, segundo ele. "Estava em casa, com dor por causa da cirurgia, e sem caixa para honrar as minhas obrigações. Muitos clientes caíram nesse período. Isso deu medo, pois, além dos meus custos pessoais, sempre me preocupo com o meu time e suas despesas. Não sabia como iria garantir que eles não sofressem por causa dessa mudança abrupta de mercado".

Queda brusca

O pior período, diz o empresário, foi de março a agosto, quando houve a queda brusca de faturamento. Para driblar a situação, Paul buscou linhas de crédito em diversas fontes, mas só conseguiu em julho, garantindo o capital de giro da empresa durante um período. Ele conta que ninguém foi demitido e, inclusive, algumas pessoas foram contratadas para atender à nova demanda que surgiu por causa da crise. "Todo mundo precisava do nosso serviço assim que a poeira inicial baixou, para vender por meio dos canais digitais. Estávamos posicionados nessa área e com conhecimento de ponta pronto para ser usado", afirma.

De agosto a dezembro, a equipe conseguiu se equiparar ao mesmo período do ano anterior. Porém, no ano todo, o faturamento encolheu de 30 a 40% em relação a 2019. Já agora, no início de 2021, novos clientes de segmentos diferentes surgiram e deram um bom caixa para a empresa, segundo Paul.

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