Dólar bate R$ 5,72 e deve impactar com força economia paraense em 2022

Banco Central tentou segurar avanço da moeda, mas manobra foi insuficiente. Baixo consumo em Belém nos primeiros meses do ano deve ser acentuado pela alta da moeda americana, avalia especialista

Eduardo Laviano / O Liberal

Quem esperava um recuo do dólar americano com o avanço da vacinação contra a covid-19 tem se surpreendido pela escalada da moeda, influenciada por notícias que vão desde o avanço da variante Ômicron até a inflação nos Estados Unidos.

Nesta terça-feira (14), o valor da moeda comercial bateu recorde a chegar em R$ 5,6937 na venda, o maior valor desde o dia 13 de abril. O susto não parou por aí: no início da tarde desta quarta-feira (15), já estava sendo negociada a R$ 5,72.

O aumento contínuo foi um balde de água fria no Banco Central brasileiro, que precisou intervir para acalmar os ânimos do mercado e optou por vender US$ 905 milhões em moeda física, o que ajudou a frear a moeda na segunda-feira, mas não foi o suficiente para segurar a valorização dela no dia seguinte. Foi a segunda tentativa consecutiva do BC de operar esta manobra - ambas sem sucesso. 

Renato Lima é consultor empresarial e conta que estas notícias são duras para a macroeconomia brasileira neste fim de 2021, mas também para a microeconomia do dia a dia, já que a moeda americana impacta diretamente o cotidiano dos consumidores.

Ele lembra que a consequência imediata dessa alta é um aumento nos preços do mercado varejista, bem como da indústria e comércio. "Isso sem contar o petróleo e a gasolina. Na verdade, o que todos nós esperávamos era uma queda, pois os picos de alta do dólar no ano passado já tinham sido surreais. Aqui no Pará algumas indústrias dependem do trigo e tivemos alta de 150%", ele destaca. 

As constantes altas na Selic para segurar a inflação são o caminho natural na opinião de Renato, mas apesar de considerar a decisão do Banco Central acertada, o consultor afirma que isso está longe de ser um sinal de uma economia saudável e robusta.

Isso é porque os preços, de fato, caem com o aumento dos juros, mas às custas de menos consumidores comprando, logo menos produção para vender e, por conseguinte, menos pessoas empregadas para atender a demanda de consumo. 

‘Pior Black Friday’

"Se a gente considera que tivemos a pior Black Friday desde 2010, isso já desanima para o Natal. Do ponto de vista da economia, o Banco Central está fazendo o que tem de ser feito. Se há lados positivos, é que atrai muitos investidores internacionais, quando a Selic estava em 2% eles perderam o interesse. Agora esse interesse volta. Isso ajuda na valorização do real e na diminuição do preço do dólar", conta.

Difícil mesmo é driblar tantas altas seguidas do dólar. No cenário externo, o Federal Reserve, Banco Central americano, planeja acelerar o ritmo de redução de compras de títulos e antecipa as projeções para altas de juros nos Estados Unidos, onde a taxa de juros está entre 0% e 0,25%.

No Brasil, os holofotes seguem virados para a PEC dos Precatórios e o espaço que ela pode abrir no orçamento de 2022.

Dólar alto afeta até os supermercados do Pará

Em Belém, o presidente da Associação Paraense de Supermercados, Jorge Portugal, diz que é difícil fugir dos impactos do dólar. Ele lamenta o fato de os preços terem aumentado tanto enquanto o salário mínimo segue sem reajustes significativos, além do desemprego alto.

"Não tem como fugir. O trigo, por exemplo, nós importamos direto, pois a produção nacional é pouca. É algo que está presente em vários produtos, como massas, pães e biscoitos. As commodities aumentam e trazem reflexo também no óleo de soja e produtos como azeite. Alguns produtos a população consegue substituir, mas outros não. Os vinhos, por exemplo, tem uma produção nacional boa, mas a maioria vendida no varejo é importada. A única coisa que a gente pode fazer é colocar mais produtos nacionais para os clientes, que é o que tentamos. E agora é esperar que o câmbio volte a sua normalidade. O brasileiro nunca perde a esperança, mas, sinceramente, do jeito que as coisas estão se desenrolando, fica difícil acreditar numa melhorar", afirma ele.

Renato Lima assina embaixo. Para ele não há no horizonte uma luz que represente ânimo para os empresários e muito menos para os consumidores. O consultor empresarial conta que a principal expectativa de quem acompanha os vaivéns dos mercados e da economia era uma reforma tributária, o que não ocorreu.

Para ele, a grande sacada para 2022 é arregaçar as mangas e buscar mais eficiência operacional, com redução de custos e aumento na produtividade. 

"Acho que essa é a grande sacada de 2022, não dá para esperar crescimento no volume de vendas, pois as perspectivas são negativas. Especificamente na região Norte, de janeiro a março é um período dificílimo por conta das chuvas, e este inverno amazônico já dá sinais de que será duro, com muita chuva, que contribui para a redução do consumo, com menos pessoas na rua. Temos ainda a questão da pandemia, da instabilidade política. Tudo isso traz insegurança", conta.

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