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Conta de energia do Pará pode ficar em média até R$ 16,21 mais cara com bandeira amarela

Com aumento de R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos, tarifa extra traz pressão ao orçamento doméstico, encarece serviços e impacta setores econômicos sensíveis, conforme economistas.

Jéssica Nascimento

A entrada em vigor da bandeira tarifária amarela neste mês de maio deve gerar um aumento médio de até R$ 16,21 na conta de energia dos consumidores paraenses, conforme projeções de economistas ouvidos pelo Grupo Liberal nesta segunda (5/05). A decisão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), motivada por precaução diante do comportamento hidrológico do país, reacende debates sobre o custo elevado da energia na Região Norte e os efeitos sociais e econômicos. Um paraense que consome em média 400 a 600 kWh por mês pode ver a conta subir mais de R$ 10, enquanto pequenas empresas e famílias de baixa renda sentem o impacto direto no bolso.

Tarifa sobe e pressiona famílias: “até R$ 16 a mais no fim do mês”

Com a aplicação da bandeira amarela, cada 100 kWh consumidos acarretam uma cobrança adicional de R$ 1,885. No Pará, onde o consumo residencial gira entre 270 e 530 kWh, esse reajuste pode representar um acréscimo médio entre R$ 5 e R$ 16,21 por mês, segundo estimativas de economistas como Genardo Oliveira e Nélio Bordalo.

A média da conta de energia elétrica no estado, que era de R$ 216,09 em dezembro de 2024, segundo a Abrace (Associação Brasileira de Consumidores de Energia) pode chegar a R$ 232,30 com a bandeira em vigor, conforme cálculo de Oliveira

Para famílias de baixa renda, esse aumento representa uma carga significativa no orçamento. “Para essas famílias, um aumento de R$ 5 a R$ 7 implica cortar gastos essenciais como alimentação ou transporte”, alerta Bordalo, que também é Conselheiro do CORECON PA/AP (Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá).

Empresas repassam custo: impacto chega aos preços de produtos e serviços

A tarifa extra também representa um desafio para pequenos negócios, principalmente nos setores de comércio e serviços, que dependem fortemente de equipamentos elétricos. “Freezers, câmaras frias, ventiladores e maquinário elevam o consumo, e esse custo, na maioria das vezes, é repassado ao consumidor final”, afirma Carlindo Lins, engenheiro elétrico e consultor do Conselho de Consumidores de Energia Elétrica do Pará.

Segundo Lins, o impacto pode variar, mas será sentido em supermercados, padarias, restaurantes, salões de beleza e oficinas mecânicas. “As empresas não absorvem o custo. Ele recai sobre o consumidor, direta ou indiretamente”, reforça Lins.

Alta na tarifa agrava inflação e custo de vida na Região Norte

A energia elétrica compõe o grupo “Habitação” do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com o aumento, a inflação pode ser pressionada, especialmente no Norte, onde os custos logísticos são mais altos. “Esse reajuste tem efeito direto na inflação oficial e amplia o custo de vida na região”, afirma Nélio Bordalo.

Além disso, a elevação da tarifa compromete o orçamento de famílias de classe média, que consomem mais energia por utilizarem mais eletrodomésticos, climatização e, muitas vezes, trabalharem em regime de home office. “Para quem consome entre 400 e 600 kWh, o aumento pode ultrapassar R$ 10 mensais”, completa.

Setores estratégicos sentem reflexos: agronegócio, indústria e setor público afetados

O aumento também traz reflexos para setores estratégicos da economia paraense. De acordo com Bordalo, a mineração e a siderurgia, com alto consumo energético, enfrentam aumento no custo de produção. Pequenas empresas da cadeia produtiva podem sofrer ainda mais, impactando a competitividade.

“No Pará, usinas de alumínio e ferro-gusa são particularmente sensíveis ao custo da energia, que representa uma parcela expressiva do custo de produção. Um aumento, mesmo que pequeno, pressiona a competitividade internacional desses produtos e pode reduzir margens ou adiar expansões”, destacou o economista.

No agronegócio, produtores de frutas, pescado e pecuária são pressionados pelo custo da irrigação, refrigeração e processamento. Já no setor público, escolas e hospitais que operam com orçamento fixo podem ter de realocar recursos ou cortar serviços.

“Prestadores de serviços como costureiras, cabeleireiros, estúdios fotográficos, gráficas rápidas e marcenarias também são impactados. Esses empreendimentos já enfrentam dificuldades com os custos fixos mensais. A tarifa extra reduz sua competitividade e os custos certamente serão repassados aos seus clientes consumidores”, explicou Bordalo.

Por que a bandeira foi acionada? Prevenção, não escassez

Apesar da cobrança extra, o acionamento da bandeira amarela é visto como medida preventiva. “É um alerta, como um cartão amarelo no futebol”, diz Carlindo Lins. Segundo ele, há hoje uma oferta energética confortável no país, com 292 MWh de disponibilidade para uma demanda de 80,3 MWh. 

A decisão da Aneel, segundo ele, reflete a preocupação com o comportamento das chuvas, especialmente nas bacias Sudeste/Centro-Oeste, que são cruciais para o abastecimento nacional.

No Norte, a situação hídrica é considerada favorável. “Estamos com sobra de água, mas a regra é nacional”, comenta Lins. Ele também reforça que a matriz elétrica brasileira é majoritariamente hidráulica (46%), complementada por fontes intermitentes como solar (32%) e eólica (13%), que dependem do clima.

Segundo a Abrace, a medida é importante para o conhecimento da população. A associação explica que o acionamento da bandeira amarela é um sinal inicial de preocupação, mas a bandeira ajuda a conta de luz não ficar tão alta no futuro.

Energia cara e isolamento penalizam o Pará: “calor é necessidade, não luxo”

A estrutura tarifária da região também preocupa. “O Pará tem a maior tarifa do Brasil. Não dá pra fugir do calor. Climatização aqui é necessidade, não luxo”, afirma Lins. O engenheiro elétrico defende a adoção de uma tarifa sazonal, que leve em conta o clima, como ocorre em outros países.

Além disso, o custo elevado da energia e a distância dos grandes centros consumidores dificultam a atração de investimentos. “Para trazer empresas, o estado tem que abrir mão de impostos. E isso sacrifica a receita pública”, aponta.

Perspectiva de alívio: bandeira amarela pode durar pouco

A boa notícia, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), é que o cenário para os próximos meses é promissor. “Não devemos ter problema de falta de água. Essa bandeira pode ser temporária”, acredita Lins.

Para Nélio Bordalo, é preciso acompanhar de perto os impactos da medida e buscar soluções de longo prazo para tornar a energia mais acessível no Norte. “Estamos falando de uma região rica em recursos naturais, mas que paga caro por sua própria energia. É hora de rever essa lógica.”

Dicas para economizar na conta de energia em casa

Segundo o economista Genardo Oliveira, adotar práticas simples no dia a dia pode ajudar os paraenses a reduzir o impacto do aumento na conta de energia com a bandeira amarela. Uma das primeiras orientações é desligar os aparelhos da tomada quando não estiverem em uso, já que muitos continuam consumindo energia mesmo no modo stand-by. Outra medida eficaz é substituir as lâmpadas incandescentes por modelos de LED, que são mais eficientes e consomem bem menos energia.

Para Nélio Bordalo, as dicas de energia vão ao encontro das sugestões de Oliveira:

  1. Aproveite a luz natural: Abra janelas e cortinas durante o dia para reduzir o uso de lâmpadas;
  2. Desligue aparelhos da tomada: TVs, micro-ondas e carregadores continuam consumindo energia no modo stand-by;
  3. Evite abrir a geladeira à toa: Cada abertura desnecessária força o motor e aumenta o consumo de energia;
  4. Use o ar-condicionado com moderação: Mantenha o ambiente fechado, use temperaturas entre 23°C e 25°C e limpe os filtros regularmente;
  5. Lave roupas em menos ciclos e sempre com carga completa: Evite usar a máquina várias vezes com poucas peças. Acumular roupas e usar a capacidade total da lavadora reduz o número de lavagens e, portanto, o consumo de energia;
  6. Passe roupa de uma só vez: Acumule peças para evitar ligar e desligar o ferro várias vezes;
  7. Cuidado com o chuveiro elétrico: No Pará, o clima quente permite usar a função “verão” ou desligar o aquecimento;
  8. Invista em aparelhos com selo Procel A: São mais eficientes e consomem menos energia a longo prazo;
  9. Desligue luzes de ambientes vazios: Um hábito simples que evita desperdícios;
  10. Considere investir em energia solar: Para quem tem condições, o investimento pode reduzir drasticamente a conta ao longo do tempo.

Economia