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Conceito de sustentabilidade alavanca projetos de emreendedores

Empreendedora captada por curso de aproveitamento de resíduos durante a pandemia hoje busca repassar oportunidade a outras mulheres

Natália Mello

Capacidade de sustentação de um sistema. Esse é o conceito base de sustentabilidade, que comumente vem sendo atrelado a iniciativas que perpassam trabalhos sociais. E é para sustentar outras mulheres carentes de oportunidades que Solange Reis, de 41 anos, vem trabalhando. Desempregada em 2020, com a pandemia, ela, que é engenheira civil, se viu sem possibilidades. Mas, após fazer um curso de aproveitamento de resíduos, percebeu outro caminho fora do tradicional, e partiu para atuar com economia circular.

Solange, atualmente, reaproveita óleo usado para produzir sabão líquido e em barra para limpeza. O trabalho começou há cerca de cinco meses, quando ela contava somente com a ajuda de vendedores de batata frita, coxinha e pequenos restaurantes de bairros próximos ao de sua residência, o da Cabanagem. “Eu deixava frascos para armazenar e depois que enchia, eles avisavam para coletar. Hoje eu coleto o óleo também no ASB Reciclo, do Grupo Alachaster”, explica.

A ASB Reciclo é uma empresa que recebe materiais de metal, papel, plástico, vidro, papelaria, tecidos, além de esponjas, eletrônicos e óleo. Todo o material coletado é destinado adequadamente: uma parte vai para a reciclagem e outra parte é reaproveitada e transformada em produtos por empreendedores locais – parceiros do programa socioambiental da empresa – para serem comercializados novamente. O empreendimento é uma das frentes do Instituto Alachaster, que também atua com a comercialização do produto final que é resultado desse trabalho, por meio da loja Aldeia Verde, e com um grupo educacional responsável por formar novos agentes nesse universo de desenvolvimento sustentável.  

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Solange é uma entre os mais de 160 empreendedores cadastrados na loja. “Antes eu atuava em feiras, mas ter um ponto fixo ajuda a ter uma maior divulgação do nosso trabalho. Tenho tido muitos pedidos, isso quer dizer que o produto está tendo uma credibilidade boa. E estamos com outros movimentos no bairro da Cabanagem. Essa é a minha intenção, levar esse curso para mais mulheres que estão desempregadas e precisando. Eu quero chegar nessas pessoas que têm mais necessidades”, detalha. O curso de reaproveitamento de resíduos deve abrir agenda para agosto, de acordo com a empreendedora.

“Perdi meus serviços com a pandemia, já que fiquei impossibilitada de viajar para prestar os serviços que prestava. Aí comecei a aprender outras coisas, fazer alguns cursos que incentivavam a mulher a ter o seu empreendimento, foi como surgiu a empresa. Trabalhei com hortifrúti, com entrega em domicílio, mas em dezembro fiz o curso de reaproveitamento de resíduo na Usina da Paz do Icuí e me identifiquei. Já guardava muito óleo, porque tinha essa consciência que não devíamos descartar de qualquer jeito. Aí surgiu o Empório Verde Mais, que consigo agregar cada vez mais a reciclagem”, pontua.

image Soraya Costa explica sobre o trabalho do grupo (Foto: Igor Mota / O Liberal)

A design de interiores Isabel de Almeida, de 54 anos, também consegue obter a renda transformando o vidro que obtém no ASB Reciclo e já vem pensando como repassar o conhecimento adquirido para outro público. “Eu vou, em breve, capacitar pessoas trans, porque sei o quanto o mercado é difícil para elas. E penso em formas de criar concorrência pena demanda que recebo”, afirma.

“Eu costumo me autointitular ‘artista do vidro’, porque transformo vidro em vários objetos, seja de decoração, de utensílios pessoais, vitrojoias, luminárias”, conta. “Até o começo da pandemia, eu era representante comercial de uma empresa grande e decidi aos trancos e barrancos e investir no vidro. Fiz curso da Argentina, do México, tudo online, e continuo estudando sobre técnicas novas porque eu vivo disso. Eu não reciclo, eu transformo, reutilizo”, ressalta.

Caroços e sementes sem uso viram fitoterápicos

Transformar caroços e sementes descartados na natureza em produtos de beleza, saúde e bem-estar também é possível e rentável. Apaixonados pela biodiversidade amazônica, o catarinense Arnoldo Luchtenber e a piauiense Medy Portela descobriram na floresta um potencial para cuidar dos povos tradicionais e, ainda, trabalhar com a natureza. Viúva há sete anos, a administradora conta como começou o Sementes da Amazônia, um empreendimento que trabalha com fitocosméticos – os produtos têm como princípios ativos extratos integrais de vegetais, óleos vegetais ou mesmo partes do vegetal – também comercializado na loja do Aldeia Verde.

“Assim como eu, meu esposo era administrador, mas dizia que a faculdade dele era a vida. Essa paixão pelo produto natural nasceu vivendo o dia a dia, porque é gostoso visitar o povo da floresta. Morávamos em Brasília, viemos passear para visitar o irmão dele, em 1997, ele se apaixonou e ficamos”, conta. Depois de trabalhar com provedor de internet, a partir da incubadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), o casal apostou em viver da extração dos óleos de sementes nativas.

“Por muitos anos fomos extratores das sementes. Meu esposo ia para a floresta conheceu os ribeirinhos se encantou e começamos a planejar um projeto para extrair as sementes. Fomos para Campinas e conseguimos a máquina que pudesse extrair os óleos de todos os tipos de sementes, da maior, que é a da andiroba, até as menores, que são as de maracujá, uva”, lembra. “Conseguimos a máquina e depois foi o processo de ajudar as comunidades a levantar as sementes, porque jogavam fora nos rios, nos mares, e não tinha aproveitamento. Começamos a fazer a coleta, secar a semente e mostrar como catava. Fazíamos tudo em Belém e depois levamos o projeto para extração na própria comunidade”, destalha.

Medy ressalta que, depois de ter os equipamentos adequados para o trabalho, o próximo passo foi treinar as comunidades para saber utilizá-lo. Atualmente, ela compra matéria-prima direto de pelo menos dez localidades, desde o município de Acará, no nordeste paraense, até Uruará, na região sudoeste do estado. Sobre a valorização do conhecimento tradicional, a empreendedora destaca: é preciso formar novos agentes para que a economia circule de forma sustentável também dentro da floresta.

“Comprar do atravessador não leva dinheiro para a comunidade, que precisa ser valorizada e respeitada. Por isso é importante mostrar para a comunidade que, tendo compromisso conosco, acaba a safra e ela vai ter recursos. Assim, eles vão manter aquela arvore em pé, porque têm produtos que levam sustento financeiro a eles”, destaca. “O povo da floresta fazia de tudo para mandar seus filhos para fora e muitos não voltavam. Hoje você chega em alguns lugares e tem muita gente estudada, então é ver a nossa imaginação do que queríamos que acontecesse saindo do papel. A verdade é que só vou ter matéria-prima de qualidade quando você faz a comunidade entender a responsabilidade deles nesse processo”, concluiu.

Comercial + Social

O grupo Alachaster é formado por várias frentes de negócios sociais e, em todos, carrega o conceito de sustentabilidade. A intenção da entidade é apresentar soluções para que empreendedores possam obter renda por meio do aproveitamento do que seria considerado lixo. “A empresa de reciclagem (ASB Reciclo) comercializa materiais recicláveis, que já é um negócio ambiental, e como contrapartida oferece possibilidades de educação ambiental”, explica a CEO, Soraya Costa.

Um dos programas, o Recicle Mais, é voltado para a coleta seletiva e oferece soluções de descarte para população, orientando comunidades parceiras para que engajem nesse processo. “Nem todos os materiais que recolhemos são comercializáveis, mas recolhemos todos e encaminhamos para empreendedores locais que podem comercializar. Uma vez que chegam na mão dos empreendedores, eles vendem. Só que identificamos que eles vão atrás de locais para vender esse material, por isso surgiu a Aldeia Verde. Nessa proposta, oferecemos o insumo pelo ASB, e o espaço para venda na Aldeia”, pontua.

Atualmente, os parceiros são de Bragança, Salinópolis, Barcarena, Abaetetuba e Castanhal, mas há um diálogo aberto para que comunidades de Santarém, Oriximiná e Parauapebas também possam comercializar seus produtos na loja, que possui itens artesanais de higiene pessoal, biocosméticos, fitocosméticos, biojoias, ecojoias, acessórios diversos, como bolsas, sapatos, artesanato, e plantas para jardinagem e decoração.

“A aldeia oferece um espaço de comercialização para os empreendedores locais que são sozinhos e não têm estrutura de produção, e precisam de aporte para alcançar mais pessoas, para ampliar o seu negócio e sua circulação. Também oferecemos suporte de marketing de comercialização. Ou seja, com a ASB e a Aldeia, temos uma produção responsável e estimulamos um consumo consciente, que é a economia circular de fato”, finaliza Soraya.

Conceitos

Economia circular: é um conceito baseado na inteligência da natureza e que se opõe ao processo produtivo da economia linear, onde os resíduos são insumos para a produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo serve continuamente de nutriente para um novo ciclo.

Upcycling: chamado também de reutilização "para cima", também conhecido como reutilização criativa, é o processo de uso de produtos, resíduos, peças aparentemente inúteis na criação de novos produtos, sem desintegrar a peça, numa função diferente da qual o produto ou partes dele foram inicialmente projetados.

O que o ABS Reciclo coleta?

Metal: latas de bebida, latas de alimento, desodorante spray, panelas, cadeados, inox em geral

Papel: papelão, papel, impressos em geral

Plástico: embalagens de limpeza, embalagens de higiene, potes, garrafas plásticas, garrafas pet, isopor

Vidro: garrafas, potes, fracos, folhas de vidro, copos

Papelaria: canetas, lápis, borracha, grampeador, grampos, porta canetas

Tecidos: tecidos jeans, guarda-chuvas, roupas em geral

Esponja, Óleo, Eletrônicos

OBS: os materiais devem estar limpos e separados

ECOPONTOS ALACHASTER

Loja Aldeia Verde
Trav Humaita 2627, Marco, entre João Paulo II e Almirante Barroso
Funciona de segunda a sabado das 9h as 12h30 e das 13h30 às 17h

Centro de Triagem
Rua Marcilio Dias 28, Marambaia, entre Rua Anchieta e Pass Oliveira
Funciona de segunda a sexta das 9h as 12h e das 14 às 16h

GEOHOSTEL
Rua Pará-Pará, casa 25, Conj Flora Amazonica, Terra Firme
Funciona duas vezes no mês (consultar calendário nas redes sociais ou na Cantral de Atendimento)

Instagram
@programa.reciclemais
@institutoalachaster

Central de Atendimento
99154-5616
99269-1958

ECOPONTOS SEMAS administrados pelo Grupo Alachaster 

Porto Futuro
Funciona sexta, sábados,  domingos e feriados
Das 7h às 12h e das 17h às 21h

Parque do Utinga (entrada Ideflor)
Funciona sextas, sábados, domingos e feriados
Das 9h as 16h

Economia