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Automação pode suprir aposentadoria de 54 mil servidores

Este é o primeiro estudo que aponta o impacto da transformação digital no serviço público brasileiro para os próximos 30 anos

thiago vilarins

THIAGO VILARINS

SUCURSAL DE BRASÍLIA (DF)

Até 2030, 53,6 mil servidores públicos federais, já aposentados, serão substituídos por máquinas, segundo um estudo inédito da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). É a era da automação, ou seja, a substituição de pessoas por novas tecnologias. E este impacto só tende a crescer a partir de então. Segundo a pesquisa, o déficit de servidores federais no ano de 2030 pode chegar a 232 mil profissionais. Com isso, a automação tem ganhado destaque no governo, que chama o processo de transformação digital.

A projeção da Enap aponta que nas próximas décadas, a substituição de pessoas por máquinas continuará. Em 2040, mais de 68 mil servidores poderão ter suas atividades trocadas por automação, registra o estudo. Em 2050, esse número ultrapassaria 90 mil vagas.

"Dos 520 mil servidores públicos federais, cerca de 20% desempenham atividades com alta propensão há ocupação. Ou seja, um em cada cinco servidores atuais estão em atividades com alta propensão a automação. Em caso, então, destes servidores não precisem ser repostos, quer dizer, que  a automação possa substituir a atividade destes servidores, isso gera uma economia de cerca de R$ 300 milhões por ano", avalia Diana Coutinho, diretora de Altos Estudos da Enap.

Na prática, a automação substitui o servidor quando ele se aposenta. Dessa forma, o governo realiza menos concursos e contrata menos pessoas. Em 2020, 27% dos cargos que ficaram vagos por aposentadoria dos seus ocupantes são de funções que devem ser extintas, e podem ser substituídas por serviços automatizados, segundo a Enap. Dos 13.916 servidores que se aposentaram, 3.774 ocupavam cargos cujas funções têm grande potencial de serem automatizadas ou terceirizadas. Os dados são do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), plataforma do Ministério da Economia.

"O mundo do trabalho está mudando. E esse é o primeiro estudo que confirma a tendência de automação no setor público federal. A boa notícia é que agora temos o mapa dessas ocupações e o impacto que isso terá até 2050. Os resultados da pesquisa auxiliarão gestores a se prepararem para o futuro de forma mais eficiente. E o futuro caminha para ser mais analítico e menos mecânico", disse presidente da Enap, Diogo Costa.

Para chegar ao resultado da pesquisa, o estudo avaliou a propensão de automação dos cargos ocupados por 520 mil servidores da União e cruzou os dados com a expectativa de aposentadorias para os próximos anos. Segundo a pesquisa, a tendência é de que cargos como auxiliares administrativos, datilógrafos e operadores de audiovisual desapareçam dos quadros do governo e sejam substituídos por serviços digitais. Há 104.670 pessoas em 96 ocupações que podem ser substituídas por automação.

Algumas ocupações que já foram extintas ou terceirizadas em reformas de 2018 e 2019, como motorista, trabalhador agropecuário em geral, auxiliar de biblioteca. A pesquisa comprova que as ocupações com alta propensão à automação são as que possuem menor nível de escolaridade e menor média salarial, com remuneração média de R$ 5.683.

O Ministério da Educação é o órgão com o maior número de servidores, assim como o maior número em ocupações com alta propensão à automação, 78 das 272 que compõem o órgão. Nessas ocupações estão 47,3 mil (18,75%) do total de 252,2 mil servidores. Já o Ministério da Saúde conta com 26 das 129 ocupações em alta propensão à automação, o que representa 11,9 mil (17,9%) do total de 66,5 mil servidores. É o segundo no ranking.

As ocupações que devem se manter, independentemente do avanço da tecnologia, são aquelas que exigem tarefas analíticas ou pouco repetitivas. Entre elas, estão as de pesquisadores e profissionais relacionados às ciências naturais, sociais e da saúde, como engenheiros, economistas, sociólogos, geógrafos, biólogos, psicólogos e antropólogos. Ainda, há profissionais de gestão e comunicação como gerentes de produção e de serviços de saúde, relações públicas, publicitários e redatores. As atividades mais comuns entre os pesquisadores são as que envolvem desenvolvimento de novos materiais, produtos, processos e métodos.

Para a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), a automação só traz prejuízo para o serviço publico. "Novas tecnologias que venham controladas por um governo submetido ao mercado capitalista, trará, certamente, enorme massa de desempregados. Essa situação a gente pode constatar facilmente verificando como está o processo de deterioração da economia, com trabalhadores altamente qualificados, muitas vezes, sendo obrigados a viver de subemprego, de bicos, sem nenhuma relação  trabalhista estabelecida. Por esta razão, mais do que nunca, é necessário a construção de sindicatos para defender os direitos dos trabalhadores e reconquistar aqueles direitos que foram subtraídos", alerta Edison Cardoni, secretário de Assuntos Jurídicos, Parlamentares e de Classe da Condsef.

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