Aumento de R$ 112 no mínimo não dá para pagar energia, nem gás, diz auxiliar de serviços gerais
Nazaré Marinho detalha contas e diz que reajuste não acompanha nenhum dos outros aumentos de serviços básicos, como energia, gás e alimentação
A auxiliar de serviços gerais Nazaré Marinho, de 45 anos, afirmou que os R$ 112 acrescidos no salário mínimo, cujo novo valor (R$ 1.212) total entrou em vigor no último sábado (1º), não dá para pagar energia, nem gás e, menos ainda, acompanhar os aumentos dos preços de itens básicos de alimentação. “Vai ajudar em alguma coisa, mas minha luz, por exemplo, deu R$ 120 mês passado, meu gás paguei R$ 115. Fora meu aluguel, que é R$ 650. Sempre vai faltar. A verdade é que esse aumento não compra nada”, desabafa.
A trabalhadora mora no bairro da Sacramenta, em Belém, com o filho de 21 anos, que recebe uma bolsa de R$ 370 pelo estágio em arquitetura. Nazaré conta que é preciso fazer diárias por fora para conseguir sobreviver. “Vou fazer seis anos na empresa agora em março, e meu filho forma final do ano, mas, enquanto isso, vou me virando, saio 18h e vou limpar casa de clientes à noite, faço diária para uma senhora todo sábado, a R$ 120, para ir complementando. Meu supermercado não é muito, mas fica em torno de R$ 500. É difícil, e não tenho ajuda do pai dele, eu digo para ele, uma hora a gente vai rir e ser feliz”, finaliza.
Apesar do valor do mínimo ainda ser considerado muito baixo para a garantia de acesso a serviços básicos, o economista Valfredo de Farias reforça que, para as famílias de baixa renda, o aumento representa um impacto bastante positivo. “Mesmo sendo um aumento nominal e não real, significa que devemos ter uma melhora do consumo, uma movimentação maior na economia. Mas sabemos que de janeiro em diante começamos a ter outros aumentos que acabam sendo bem maiores que o salário mínimo”, comenta.
Quanto ao que isso representa para as empresas, o especialista reforça: qualquer aumento que tenha no mínimo gera um passivo muito grande para as empresas, visto que, com o aumento do salário, vem a maior contribuição com os direitos, como Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “Tem os encargos sociais, né, então é um impacto forte nas contas. Janeiro já é um mês complicado para a maioria das empresas e ainda vai chegar com pagamento de impostos, com aumento de salário, depois de dezembro, que teve décimo. É um passivo trabalhista que prejudica o caixa das empresas, aí tem que trabalhar a produtividade dos funcionários”, conclui.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Lojista do Município de Belém (Sintclobe), Jesus Pantoja, reclama que a correção é apenas uma reposição de perdas acumuladas. “Desde 2016 não tínhamos um aumento assim, e nesse aumento de dificuldades, que carne, leite, botijão, energia, água, todas as necessidades do trabalhador estão mais caras. A Constituição é bem clara, o salário mínimo deve bancar esses gastos, até com remédios, com esse surto de gripe, junto com a ômicron. Então o reajuste não vai transformar muita coisa. Para Fundo Eleitoral, bilhões de reajuste, e o salário mínimo do trabalhador tem esse reajuste pífio. Os economistas têm que ser francos, porque aumenta o poder de compra temporariamente, logo ele cai de novo, só quem sofre é quem ganha o salário mínimo”, analisa.
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-PA), Cleber Rezende, também compartilha insatisfações da classe, reivindicando um ganho real do salário mínimo, que, de fato, garanta a elevação da capacidade de consumo das famílias. “O Brasil precisa de geração de empregos, de impulsionar a indústria, a construção civil, ramos geradores de empregos imediatos, precisa de investimentos públicos e privados, o governo deve ser o coordenador da atividade econômica e o reajuste do salário-mínimo faz parte desse processo, o que é possível com um projeto de desenvolvimento para o Brasil”, explica.
Para que o trabalhador pudesse ter o direito a habitação, vestuário, transporte, educação, alimentação, lazer, garantidos pela Constituição Federal, o Dieese afirma que o salário mínimo, hoje, deveria ser em torno de R$ 5.886,50.
Mínimo em vigor
O aumento de 10,16% do salário mínimo só vai ocorrer na remuneração do final deste mês e início de fevereiro, quando serão pagos os salários e benefícios de trabalhadores da ativa e aposentados. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA) afirmou que, no Pará, quase 52% (cerca de 1,8 milhão de pessoas) receberão a remuneração integral do novo mínimo, já com o novo reajuste, o que deverá injetar R$ 2,6 bilhões na economia do Estado até dezembro deste ano.
O Dieese estima ainda que o impacto do crescimento do novo mínimo na economia nos próximos 12 meses gire em torno de R$ 81,2 bilhões de reais, alcançando quase 57 milhões de pessoas. Com base em dados da ocupação, também há a estimativa de que cerca de R$ 5,3 bilhão de reais entre na economia da Região Norte, envolvendo os sete estados, alcançando aproximadamente 3,6 milhões de pessoas.
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