Após prejuízo causado por enchentes no RS, produção de soja do Pará não é capaz de abastecer o país
A Conab estima que a produção de soja no país fique em 147,6 milhões de toneladas em 2023/2024, 4,5% a menos que na safra anterior
A agricultura do Rio Grande do Sul tem sofrido impactos após as enchentes que acometem o estado gaúcho desde o fim de abril, inclusive na produção de soja. O Pará, por exemplo, é um dos afetados. Segundo o zootecnista e diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Guilherme Minssen, o impacto da tragédia no Rio Grande do Sul já está tendo reflexos na economia de todo o país.
No estado gaúcho, a soja representa 68% dos prejuízos do setor, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). A lavoura do estado representou 8,4% de toda a produção brasileira em 2023 e, com um crescimento esperado para este ano, passaria a representar 14,8%.
Inicialmente, a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) era de que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas do Rio Grande do Sul crescesse 46,4% neste ano, na comparação com o ano anterior. Mas, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) agora estima que a produção de soja no país fique em 147,6 milhões de toneladas em 2023/2024, 4,5% a menos que na safra anterior, com uma projeção que já leva em conta a catástrofe climática no RS.
Impacto regional
“A soja é o óleo que lubrifica as engrenagens da balança econômica de todo o país”, avalia Guilherme Minssen, da Faepa. De acordo com o especialista, a Central de Abastecimento (Ceasa) de São Paulo, que abastece todos os outros entrepostos do país, está detectando a falta de vários produtos, o que acaba repercutindo no território paraense.
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O presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho e Arroz do Pará (Aprosoja-PA), Vanderlei Ataídes, discorda e diz que o caso do Rio Grande do Sul não vai impactar a economia paraense na soja. “Toda a nossa soja produzida aqui, quase 100%, vai para exportação à China, Europa e Ásia. Embora a gente plante menos do que o Rio Grande do Sul, nós temos um volume expressivo de grãos dentro do Estado já. Então, não vai impactar o Pará porque a nossa soja é exportada e não tem influência nenhuma”, garante.
Produção local
O Pará avança de forma muito positiva na produção da agricultura brasileira, segundo Minssen. Porém, o montante ainda é considerado muito pequeno na comparação com o restante do país, embora tenha potencial para crescimento. O presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho e Arroz do Pará (Aprosoja-PA), Vanderlei Ataídes, destaca que o Estado também foi prejudicado neste ano pela questão do clima.
“A gente passou por falta de chuvas. Nós tivemos alguns picos de veranico (período de estiagem, acompanhado por calor intenso e baixa umidade relativa) aqui na nossa região, tanto no polo do sul do Pará como na região de Santana do Araguaia, e até mesmo no polo Paragominas. Tivemos uma quebra de produção, quando comparamos com o ano passado, de 10% a 15%, e a nossa área plantada é pouca em relação ao Rio Grande do Sul. Não contribui em nada para que reponha a perda do estado gaúcho”, avalia.
Aproximadamente, de acordo com dados da entidade, há cerca de 1,1 milhão de hectares plantados de soja no Pará, enquanto o Rio Grande do Sul tem em torno de 6,8 milhões. “A gente planta bem menos, e nós tivemos uma quebrinha também, então isso com certeza vai diminuir um pouco a produção de grãos no Brasil”, opina.