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Aplicativo liga consumidor a negócios chefiados por negros

Catorze milhões de pretos possuem empreendimento, fazendo circular em torno de R$ 360 bilhões de renda por ano

Laís Santana

Um novo aplicativo de celular, desenvolvido por afroempreendedores e pesquisadores paraenses, mapeia negócios chefiados por negros no Pará. É o Afromap, que permite ao usuário cadastrar um empreendimento ou encontrar empresas, estimulando conexões e facilitando a promoção de negócios. A ferramenta será lançada durante o “Festival Afromap: arte, empreendedorismo, tecnologia e inovação”, evento que começa nesta segunda-feira (8) e segue até o dia 28 de março, com programação gratuita transmitida pela internet.

De acordo com o oitavo boletim sobre os impactos da crise sanitária nos pequenos negócios, feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), durante a pandemia de covid-19, 18% de empreendedores pretos e pardos tiveram empresas fechadas ou negócios interrompidos, enquanto brancos correspondem a 15%.

A pesquisadora Bruna Raiol, também coordenadora do Afromap, conta que a ideia do aplicativo surgiu da importância de saber quem são e o que produzem os empreendedores negros, fortalecendo, assim, o afroempreendedorismos. “O Pará é o estado do Brasil onde mais pessoas se autodeclaram negras e pardas. Nesse sentido, a gente entendeu a necessidade de mapear, saber melhor quem somos e, sobretudo, se auto-organizar. Precisamos do apoio da comunidade para sermos indivíduos autônomos, assim como a comunidade precisa do afroempreendedor”, afirma.

Bruna também ressalta que o estado de calamidade pública na saúde deixou ainda mais evidente a desigualdade racial no segmento do empreendedorismo brasileiro, o que levou mais pessoas negras à informalidade. “Só no Brasil, movimentamos atualmente R$ 1,7 trilhão por ano e representamos 54% da população. Desses, 14 milhões de negros possuem seu negócio próprio, o que faz circular em torno de R$ 360 bilhões de renda por ano. Contudo, uma boa parcela desses empreendimentos não tem CNPJ, e mesmo aqueles que tem, tiveram seus negócios afetados durante a pandemia”, revela. 

O Afromap já conta com 160 empreendimentos cadastrados. Ao longo de onze meses, a ferramenta foi testada e aperfeiçoada. O trabalho culminou em uma versão atualizada do aplicativo, de interface moderna, segura e intuitiva, que dinamiza a conexão entre empreendedores/clientes e impacta beneficamente na geração de renda do setor - o mais afetado pela pandemia. O aplicativo está disponível para Android na loja PlayStore.

Expansão

Para Tainá Barral, coordenadora da produtora cultural Na Cuia, um dos negócios cadastrados no Afromap, o lançamento da plataforma é sinônimo de expansão. “Minha expectativa é de expandir o nosso negócio e aumentar nossa visibilidade e conexão com outros empreendimentos. A Na Cuia já atua nessa perspectiva de estímulo aos empreendedores culturais negros e, a partir dessa iniciativa, esperamos uma maior integração”, pontua.

O aplicativo é uma iniciativa do Festival Exu, coletivo que desde maio de 2019 mapeia os afroempreendimentos na Região Metropolitana de Belém, e tem o apoio do edital de festivais integrados da Lei Aldir Blanc do Pará.

Festival Afromap

O lançamento da ferramenta será celebrado no Festival Afromap: arte, empreendedorismo, tecnologia e inovação. A programação conta com debates, rodas de conversas, cursos, workshops, feira de produtos do empreendedorismo negro e apresentações culturais. Interessados podem acompanhar a programação no endereço linktr.ee/afromap.

“Almejamos com esse festival poder ampliar o alcance de afroempreendedores e artistas paraenses através da formação, das tecnologias sociais e digitais e da arte, bem como conectar a potência da diversidade cultural negra da Amazônia ao mundo”, explica Bruna Raiol.

Economia