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Turismo cresce no Pará acima das expectativas e impulsiona economia regional, revela Celso Sabino

Ministro do Turismo destaca recordes no setor, avanço da malha aérea e busca do protagonismo do Pará em eventos internacionais como a COP 30 e o Círio de Nazaré.

Jéssica Nascimento

O turismo no Pará registrou crescimento no primeiro semestre de 2025, com indicadores acima das expectativas, segundo o ministro do Turismo, Celso Sabino. Em entrevista ao Grupo Liberal, ele destacou a expansão da malha aérea, o aumento do fluxo de turistas nacionais (28,5%) e internacionais (18%) no Pará, além do fortalecimento de ações promocionais e investimentos em infraestrutura que projetam o estado como novo polo turístico e econômico do Brasil.

Ministro, o senhor poderia compartilhar dados atualizados sobre o crescimento do turismo no Pará e na Amazônia no primeiro semestre de 2025? Há algum indicador que surpreendeu positivamente o Ministério?

Celso Sabino: Todos os indicadores surpreendentemente cresceram bem acima das expectativas e do crescimento regular que vínhamos experimentando. O Brasil como um todo deu um salto no turismo no ano passado depois de darmos andamento a mais de mil obras que estavam paralisadas, seja por falta de recursos, seja por falta de documentação, seja por falta de equipe técnica. 

Retomamos mais de mil obras. Investimos na qualificação profissional com mais de 50 mil cursos em todo o país. Criamos a primeira Escola Nacional do Turismo para preparar o trabalhador brasileiro, especialmente o trabalhador paraense, porque essa primeira Escola Nacional do Turismo foi criada aqui na capital do Pará, em Belém. A nossa perspectiva é expandir o projeto para todas as capitais e também expandir os cursos para além dos cursos de qualificação profissional. Também a nossa meta é termos nas Escolas Nacionais do Turismo cursos de graduação e, na sequência, cursos de extensão e pós-graduação.  

Investimos na nossa promoção dos destinos nacionais, com campanhas em todo o país, mostrando as belezas e os encantos do nosso país para o povo brasileiro e também para o exterior. Investimos muito para que o Brasil fosse o país homenageado em diversas feiras internacionais. O nosso principal cliente é o público argentino. Em setembro do ano passado, na FIT (Feira Internacional de Turismo) de Buenos Aires, conseguimos que o Brasil fosse o país homenageado. Enfeitamos a cidade toda de Buenos Aires com os atrativos turísticos nacionais.

Este ano, em janeiro, em Madrid, na principal feira de turismo da Europa, a Fitur (Feira Internacional de Turismo), que acontece na Espanha, também conseguimos que o Brasil fosse o país homenageado. Enfeitamos a cidade de Madrid inteira - nos ônibus, nos outdoors, nas paradas de ônibus - com os nossos atrativos turísticos. 

Isso tem surtido um efeito muito grande, junto com diversos programas que foram lançados, como “Conheça o Brasil: Voando”, “Conheça o Brasil: Realiza”, financiando pacotes turísticos, “Conheça o Brasil: Cívico”, campanhas que estão oferecendo 15% de desconto nos hotéis para professores, 15% de desconto nos hotéis para mulheres que viajam desacompanhadas. Enfim, muito trabalho árduo ao longo desses quase dois anos e meio e o resultado está aí.

O Brasil, no ano passado, superou todos os indicadores que medem a atividade turística no nosso país. Os recordes foram todos quebrados. Nunca tivemos tanto brasileiro viajando dentro do Brasil como tivemos no ano de 2024.  Só de avião, foram mais de 118 milhões de passagens voadas - o número de 20 milhões de passagens a mais do que há dois anos. Apenas 29% dos brasileiros viajam de avião. A grande maioria viaja de carro, carro alugado, van, ônibus, barco e até trem.

Nós tivemos um incremento muito positivo também no registro de movimentação nas rodoviárias. A rodoviária do Tietê em São Paulo, que é a maior rodoviária da América Latina, bateu todos os recordes no ano passado. Nas rodovias federais, a locação de veículos nas locadoras no ano passado superou a marca de 52 bilhões de reais de faturamento. Nunca se alugou tanto veículo para fazer turismo no Brasil como se alugou no ano de 2024.

Temos também o número de estrangeiros. O mundo está redescobrindo o Brasil. No ano passado, batemos o recorde no número de estrangeiros que vieram para o nosso país. Nem quando teve Copa do Mundo, nem quando teve Olimpíadas veio tanto estrangeiro para o Brasil quanto veio no ano de 2024. Foram mais de 6 milhões e 750 mil turistas estrangeiros. Uma marca histórica.

Isso considerando que tivemos um estado a menos no Brasil para contribuir com o receptivo de estrangeiros, que foi o Rio Grande do Sul. Em virtude da grande tragédia climática que aconteceu no estado, praticamente o ano todo não pudemos receber turistas no Rio Grande do Sul. Ele é uma grande porta de entrada dos turistas argentinos no Brasil. Como eu disse, o nosso principal cliente é o turista argentino. 

Superado esse momento, já estamos agora no ano de 2025 com 48% a mais de turistas estrangeiros de janeiro a junho em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a junho deste ano, já registramos mais de 5 milhões e 300 mil turistas estrangeiros que entraram no nosso país, segundo dados da Polícia Federal, que é quem fornece esse cálculo e faz a mesma metodologia que faz desde 1970.

A nossa perspectiva é de que no Brasil, que nunca recebeu mais de 6,7 milhões turistas em um ano, em 2025, complete mais de 10 milhões de turistas estrangeiros. Significa mais divisas, mais recursos, mais equilíbrio na balança comercial e, sobretudo, mais emprego para as pessoas de norte a sul do país. No ano passado, esses turistas estrangeiros deixaram aqui mais de 42 bilhões de reais, gerando emprego e dando dignidade para as pessoas.

O ano de 2024 foi quando mais empresas foram criadas com o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), com o Código de Atividades Turísticas, sejam hotéis, sejam restaurantes, sejam pousadas ou agências de viagens. Foi o ano em que mais investimento estrangeiro foi feito em empreendimentos turísticos no Brasil. Foi o ano em que mais recursos privados foram utilizados para construir hotéis, pousadas, ampliar e reformar.

Em relação ao cadastro de novas empresas, a região Norte do país foi a que mais cresceu proporcionalmente. O Pará, dentro da região Norte, foi o estado que puxou esse grande crescimento. Tivemos no ano passado em Belém um número recorde de passageiros no Aeroporto Internacional de Belém, superando a marca de 4 milhões de passageiros. Veja que no ano passado não tinha COP, que vai ser muito importante aqui no mês de novembro; mas esse crescimento é desvinculado da COP.

A gente tem tido aqui um grande número de turistas nacionais e internacionais. Ampliamos a nossa malha aérea. Eu me lembro de que, quando eu entrei para deputado federal, tinha dois ou três voos para Brasília.  E hoje há seis voos diários para ir e seis voos diários para voltar. Estamos com uma grande malha aérea. Só a Latam está anunciando agora seis voos diários para São Paulo.

Estamos com a nossa malha aérea que abrange Macapá, Manaus, São Luís, Fortaleza, Natal, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro.  Companhias que começaram com voos internacionais, por exemplo, para Lisboa, começaram com três frequências e já estão com cinco frequências e a perspectiva é chegar a um voo por dia. Agora, a Gol anunciou um novo voo para Miami, que já está funcionando com três frequências semanais. Não tenho dúvida de que logo vai ser ampliado também. Vamos ter mais opções para trazer turistas estrangeiros ao Pará. Nunca na história tivemos tanto os olhos dos brasileiros de norte a sul voltados para o Norte do Brasil, para a região da Amazônia.

Teve uma recente pesquisa na capital paulista feita pela Folha de São Paulo.  A pesquisa anterior mostrava que o principal destino de interesse dos paulistas eram os Estados Unidos. Agora, na última pesquisa que saiu, destinos brasileiros ultrapassaram os Estados Unidos na preferência dos paulistas. Então, hoje, quem mora em São Paulo prefere viajar dentro do Brasil a ir aos Estados Unidos, que antes era o principal destino.

Então, os olhos, não só do mundo, mas, especialmente dos brasileiros, estão focados na região Norte. Estamos lançando uma campanha agora pelo Ministério do Turismo que vai começar em agosto para estimular e gerar o interesse dos jovens do Sul e Sudeste de virem conhecer a nossa Amazônia. A gente tem feito um trabalho muito dedicado, com muito compromisso, com muita determinação, com muito esforço, para que o Brasil pudesse hoje ter no turismo uma grande matriz econômica geradora de emprego e renda de norte a sul do país.

No Pará, o número de turistas internacionais em relação ao ano passado cresceu 18% no primeiro semestre, e o número de turistas nacionais cresceu cerca de 28,5% em relação ao mesmo período do ano passado.  A nossa perspectiva é de que no segundo semestre seja ainda melhor em virtude dos preparativos e da própria realização da COP.

Anunciamos junto com as companhias aéreas o aumento da frequência de voos e ampliação das aeronaves com mais capacidade de passageiros que vai no período da COP saltar de 199 mil assentos disponíveis para 246 mil assentos disponíveis. Isso é um incremento de mais de 40 mil novos assentos disponíveis para que as pessoas possam estar vindo aqui no segundo semestre conhecer o Círio de Nazaré, conhecer a nossa gastronomia e também participar da COP. 

Com isso, nossa perspectiva de governo é que até novembro a região metropolitana de Belém alcance o pleno emprego ou se aproxime dos indicadores do pleno emprego. O que isso significa? Significa que todas as pessoas que estiverem no mercado de trabalho disponíveis para trabalhar vão ter a opção de ter uma vaga de trabalho.

Em relação às propostas para redução do preço das passagens aéreas na região Norte, há alguma medida concreta já aprovada ou em negociação com companhias aéreas que o senhor possa antecipar?

O governo não atua intervindo em nenhuma atividade econômica. A gente entende que o livre mercado rege as relações de consumo. O fato é que hoje nós temos no Brasil custos que envolvem as companhias aéreas relacionados ao preço do querosene de aviação, às taxas cobradas nos aeroportos e aos tributos.  E a lei da oferta e a procura tem direcionado o preço das passagens aéreas na direção de quê? A gente tem feito uma campanha inclusive para isso. 

Se você costuma pegar um avião, você sabe que sai inclusive um anúncio do Ministério do Turismo nas aeronaves estimulando os passageiros a adquirirem passagem com antecedência. Porque, se você adquirir uma passagem com três, quatro meses de antecedência, você consegue comprar a passagem e fazer parte dos 95% de brasileiros que, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), adquirem passagem por até R$ 500.

Agora, se você deixar para comprar a passagem em cima da hora, você vai fazer parte desses 5%, 3%, na verdade, que compram passagem acima de R$ 1.500. Então, se eu puder deixar uma mensagem aqui para aqueles paraenses que querem fazer viagem dentro do Pará ou dentro do Brasil, planeje com a família, organize o seu destino e adquira passagem aérea com antecedência de mais de três meses, que você vai encontrar [bons] preços e fazer parte desse grupo que tem comprado passagem por até R$ 500. 

Quais são os maiores desafios para estimular o turismo no Pará?

O primeiro desafio é a propaganda, a publicidade, porque quem vem para o Pará quer voltar. Quem prova o nosso açaí quer estar aqui de novo para experimentar. Hoje, a cidade de Belém é conhecida pela Unesco como cidade criativa da gastronomia e é notória a alquimia que é feita por esses jovens chefs de cozinha que surgiram nessa geração em Belém, que têm conseguido capturar as essências da floresta, as essências da Amazônia - o nosso jambu, o nosso tucupi, a nossa pimenta de cheiro, além dos deliciosos peixes da Amazônia - e preparar pratos que não perdem em nada para os grandes restaurantes três estrelas Michelin do mundo. 

Então, a gente tem aqui uma excelente gastronomia, a gente tem belas paisagens, os rios maravilhosos, a floresta... A gente vai sair dessa COP com a nossa capacidade hoteleira praticamente dobrada e com hotéis de grande qualidade. Então, eu acho que o primeiro desafio é a divulgação correta, é ter mais frequência de voos. Isso a gente está fazendo. No Brasil, foram criados mais de 500 mil novos empregos em dois anos e meio. Já somos quase 8 milhões de trabalhadores em todo o país que trabalham no setor do turismo. 

Quais iniciativas específicas o Ministério do Turismo está articulando para aproveitar ao máximo a visibilidade do Pará durante a COP 30 e o Círio de Nazaré deste ano? Há campanhas internacionais ou acordos com o setor privado em curso?

Várias e diversas iniciativas que você talvez não possa nem imaginar. Em todas as feiras internacionais que o Brasil tem participado, a gente tem levado o estado do Pará, a região Norte, a Amazônia como destaque. Levamos a gastronomia, imagens e fotos dos nossos principais atrativos turísticos - Alter do Chão, Belém, o Círio de Nazaré. 

Recentemente tive uma missão na Espanha para participar de uma eleição do Conselho Executivo da Organização Mundial do Turismo e levamos um livro do Círio de Nazaré para presentear a todos que estavam participando desse evento. O Ministério do Turismo e o governo federal vão neste ano, pela primeira vez, ser patrocinadores oficiais da festa de Nazaré, da diretoria da festa, junto com a Arquidiocese de Belém. Vamos investir R$ 2 milhões patrocinando o evento.

Esse vai ser o terceiro ano consecutivo que vamos criar aqui a Casa do Turista, um espaço para receber turistas com exposição de arte, de cultura e dos nossos atrativos turísticos em todo o estado. Promoção, divulgação, mais voos para o Círio de Nazaré já foram inclusive anunciados e a nossa perspectiva é de que todos os hotéis que estão sendo construídos ou ampliados já estejam prontos, inclusive para o Círio.

O senhor acredita que o turismo de base comunitária e o ecoturismo na Amazônia estão recebendo a atenção necessária em termos de investimentos e infraestrutura? Há planos de ampliar esses apoios ainda em 2025?

Nunca antes se falou em ecoturismo sustentável. Criamos esse termo há cerca de dois anos. Estamos investindo muito nessa nova modalidade, inclusive de preservação da floresta e também no turismo de base comunitária, de experiências. Temos uma campanha no ar que mostra a experiência de turistas que vêm para cá, atravessam o rio, vão até o Combu e têm um banho de cheiro, têm uma experiência de imersão na floresta amazônica. O Brasil, no ano passado, foi reconhecido pela revista Forbes Mundial como o principal destino de ecoturismo do mundo, superando a Austrália, o Canadá e o México.

Recebemos um recente reconhecimento também de uma revista norte-americana, que trata de atrativos turísticos, de que o Brasil é o principal destino para a prática do turismo de aventura. Nós não estamos perdendo a oportunidade de linkar a nossa Amazônia com todo esse diferencial e com todo o seu potencial. Nós temos esse diferencial competitivo que nós não estamos desperdiçando. As pessoas agora têm mais interesse. O salto de seis para dez milhões de turistas estrangeiros neste ano não é à toa. É fruto desse trabalho.

E, claro, como nortista, como amazônida, como paraense, esse ministro não perde a oportunidade de cada milímetro que tem de trazer mais coisas para cá, mais recursos, mais benefícios, mais propaganda da sua terra. 

Ministro, o turismo gastronômico tem ganhado destaque como uma força econômica e cultural no Brasil. O ministério tem algum plano específico voltado para promover a gastronomia amazônica, especialmente a paraense, como atrativo turístico nacional e internacional? Há alguma ação inédita ou parceria em andamento que o senhor possa nos antecipar?

Esse é um dos grandes diferenciais que temos. Como falei há pouco, a gastronomia paraense encanta a todos, como a alquimia que esses novos chefs de cozinha estão fazendo com os produtos da floresta. E a gente não só tem levado a gastronomia da Amazônia para os grandes eventos internacionais, mas também estamos fazendo propaganda disso. No ano passado, conseguimos o título embaixador do turismo gastronômico para um chef de cozinha paraense, o chefe Saulo, que foi entregue pela Organização Mundial do Turismo (OMT). Então, tudo a gente está conseguindo puxar para cá, como disse, a cada milímetro de espaço dentro da área a gente está aproveitando para marcar um gol.  

Estamos levando a gastronomia do Pará para o mundo. Nos grandes eventos internacionais, estamos fazendo propaganda e divulgação da culinária do Pará, não só dentro do Brasil, mas para vários países do mundo. Trouxemos o título de Embaixador da Gastronomia Mundial da Organização das Nações Unidas para um chef paraense. Vai ter mais coisas, pode ter certeza, porque esse turismo aqui não cansa, não.

Após a COP 30, o Ministério do Turismo tem algum plano para fazer com que Belém seja destaque no turismo de negócios e eventos?

Temos grandes aparelhos no Pará, como o Centro de Convenções Sebastião Tapajós, de Santarém, o Centro de Convenções aqui no Hangar, na cidade de Belém. Esses aparelhos, por si só, já começam a despertar o interesse de grandes empresas, de grandes organizações e representantes da sociedade civil, de fazer eventos aqui no estado do Pará. Então, é uma disputa muito grande. Todas as cidades querem levar encontros, fóruns de grandes empresas.

A gente tem aí o encontro da Mafra de Seguros. Temos o encontro do McDonald 's. No ano que vem, conseguimos trazer para o Brasil o encontro das companhias aéreas do mundo, da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos). São mais de 300 empresas do mundo, mais de 1.700 profissionais diretores que atuam. Todas as empresas do mundo vão vir para o Brasil, vão para a cidade do Rio de Janeiro. Mas a gente tem feito gestão junto aos organizadores desse evento para distribuir isso para todo o Brasil, para o Norte do país, para o Nordeste do Brasil e tem dado certo.