Seguro fluvial cresce na Amazônia e impulsiona profissionalização da navegação
Arrecadação no Norte ultrapassa R$ 15 milhões e consolida ciclo de expansão
O avanço do seguro fluvial na Amazônia está redesenhando a economia da navegação na região. Só em 2024, a arrecadação do produto no Norte ultrapassou R$ 15 milhões, segundo o Sincor-PA, refletindo um movimento de profissionalização que fortalece a segurança das operações, a formalização das embarcações e a expansão logística do Corredor Norte, hoje uma das principais rotas de exportação de grãos do país.
Mercado de seguros marítimos cresce no Brasil
O ambiente é de forte dinamismo. De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o mercado brasileiro de seguros marítimos, que inclui embarcações comerciais e de lazer, registrou R$ 791 milhões em prêmios nos 12 meses até agosto de 2025.
A expansão demonstra o avanço da cultura de proteção no transporte aquaviário — especialmente nas regiões onde o modal fluvial é predominante, como o Norte.
Pará se destaca com crescimento acima da média nacional
No Pará, o desempenho é ainda mais expressivo. O estado alcançou R$ 7,2 milhões em arrecadação no seguro marítimo em 2024, crescimento de 4%, enquanto o Brasil registrou queda de 8% no mesmo período.
Para Margarete Braga, presidente do Sincor-PA, a evolução está diretamente ligada à ampliação das operações portuárias e ao investimento em capacitação dos corretores locais.
“O Pará mostra que é possível crescer com responsabilidade. O avanço do seguro marítimo é também um avanço de consciência — de que proteger é investir no futuro da Amazônia”, afirma.
Seguro como pilar da atividade econômica fluvial
Para empresas do setor de cargas, o seguro se tornou elemento estratégico. No Grupo Mega, um dos principais operadores de comboios da região, as apólices fazem parte da estrutura de negócios.
“Os seguros são fundamentais e proporcionam a segurança necessária para as operações. Com o aumento do fluxo de grãos, eles se tornam essenciais para a qualidade do serviço e para o ressarcimento de danos em eventuais ocorrências”, explica Maíra Paes Carvalho Vasconcelos, executiva da companhia.
A empresa destina anualmente um percentual do faturamento ao seguro, calculado com base na quantidade de embarcações e no volume a transportar. Segundo Maíra, a proteção securitária permite fechar contratos com mais segurança e mantém a continuidade das atividades mesmo diante de imprevistos.
“O seguro nos confere tranquilidade. Ele garante que toda a carga e as operações estejam devidamente cobertas”, afirma.
Maíra destaca ainda a importância das corretoras locais, que conhecem a realidade amazônica e os riscos específicos da navegação na região.
Retomada do DPEM impulsiona regularização das embarcações
A formalização das embarcações fluviais ganhou força com a retomada do DPEM, seguro obrigatório para embarcações, que voltou ao mercado em 2024 após quase dez anos suspenso.
Nos primeiros oito meses de 2025, o DPEM registrou crescimento de 125,7% na arrecadação nacional. No Pará, o avanço foi ainda maior: 164%, somando R$ 435,6 mil em prêmios.
Para Carlos Polizio, presidente da Comissão de Cascos Marítimos e Aeronáuticos da FenSeg, o desempenho indica mudança de comportamento dos proprietários.
“Esse avanço demonstra o reconhecimento da importância da proteção securitária, especialmente em regiões onde a navegação é essencial para o cotidiano.”
Seguro reduz riscos e impactos econômicos de acidentes
Os recentes acidentes na região metropolitana de Belém e no Marajó evidenciaram o impacto social e econômico dos sinistros fluviais. Além das perdas humanas, ocorrem danos logísticos, paralisação de atividades, prejuízos ao turismo e à renda de comunidades ribeirinhas.
O seguro reduz esses impactos ao oferecer:
- Coberturas de casco: reposição de embarcações e redução do tempo de paralisação.
- Responsabilidade civil: cobertura de danos a terceiros.
- Proteção pessoal: amparo a passageiros e tripulantes.
“Ampliar o uso do seguro é aumentar a resiliência econômica e social de uma região que depende intensamente do transporte fluvial”, afirma Polizio.
Formalização e segurança avançam com maior adesão ao seguro
A ampliação da cobertura securitária incentiva a regularização do setor. Para contratar um seguro, a embarcação precisa atender às normas da Autoridade Marítima — documentação, manutenção e equipamentos obrigatórios.
Isso fortalece o ambiente de conformidade, reduz riscos e consolida o mercado.
Segundo Margarete Braga, a atuação dos corretores é decisiva nesse processo:“Ainda existe a percepção equivocada de que o seguro é custo. É preciso educar o mercado, traduzir o valor da proteção e mostrar como ela garante continuidade e preserva famílias.”
Navegação amazônica vive um ciclo de transformação
O avanço do seguro fluvial e marítimo no Norte, sustentado pela arrecadação anual superior a R$ 15 milhões, sinaliza uma mudança estrutural no setor.
A navegação amazônica — vital para a economia e para a mobilidade da população — vive um ciclo de transformação baseado em segurança, profissionalização e investimento.