Segunda parcela do 13º vai beneficiar 2 milhões de paraenses; veja como usar de forma estratégica
Pagamento deve reforçar a quitação de dívidas e compras de itens essenciais
Com a proximidade do pagamento da segunda parcela do 13º salário, prevista para ocorrer até o dia 20 de dezembro, a economia do Pará deve receber um reforço significativo de recursos. Estimativas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Pará (Dieese/PA) apontam que cerca de R$ 7,6 bilhões devem ser injetados na economia estadual em 2025, beneficiando mais de 2,3 milhões de paraenses entre trabalhadores formais, empregados domésticos com carteira assinada, aposentados e pensionistas. Com o alto índice de endividamento e inadimplência das famílias, esse recurso pode ajudar a reorganizar as finanças no final do ano.
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Fecomércio Pará e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam que 18,7% dos consumidores no estado estavam com contas em atraso em novembro de 2025. O percentual representa cerca de 1,4 milhão de pessoas em situação de inadimplência. Diante desse contexto, o uso estratégico do 13º salário se torna fundamental.
Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia dos estados do Pará e Amapá (CORECON-PA/AP), Nélio Bordalo Filho, a prioridade deve ser a redução do endividamento. Segundo ele, quitar dívidas ajuda a evitar o agravamento da inadimplência e a minimizar os impactos dos juros elevados. “O equilíbrio pode ser alcançado com uma parte do 13º sendo usada para quitar dívidas mais caras, enquanto o restante pode ser direcionado para consumo básico ou poupança”, afirma. Ele ressalta que, no contexto das famílias paraenses, a quitação de dívidas com juros elevados deve vir antes de qualquer outro gasto.
Entre os trabalhadores que recebem até dois salários mínimos — faixa que inclui grande parte dos aposentados e empregados domésticos — o planejamento financeiro precisa ser ainda mais cuidadoso. Bordalo Filho orienta que a prioridade seja quitar dívidas de alto custo, como cartão de crédito e cheque especial, além de buscar a formação de uma reserva de emergência mínima, equivalente a três a seis meses de despesas. Caso as dívidas estejam sob controle, parte do recurso pode ser destinada ao consumo de itens essenciais, como alimentos e vestuário, com o objetivo de equilibrar o orçamento. Para esses grupos, segundo o economista, a poupança gradual também deve ser considerada como estratégia de segurança financeira.
O economista reforça que as dívidas mais onerosas devem ser tratadas como prioridade. “As dívidas mais caras, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos pessoais com juros altos, devem ser as prioritárias para quitação. O 13º deve ser usado, principalmente, para diminuir o impacto dos juros compostos, que, com o tempo, se tornam muito mais pesados”, destaca. Caso ainda haja recursos após a quitação dessas obrigações, ele avalia que o valor restante pode ser direcionado para pequenas compras essenciais ou para a poupança, com o objetivo de iniciar 2026 sem dívidas.
Ao mesmo tempo, Bordalo Filho avalia que o consumo consciente pode ajudar a movimentar a economia local sem comprometer o orçamento das famílias no início do próximo ano. De acordo com ele, o uso planejado do 13º pode impulsionar o comércio ao direcionar parte dos recursos para consumo imediato, especialmente nos setores de varejo, alimentos, vestuário e serviços essenciais. “As famílias podem realocar recursos para compras antecipadas de Natal, movimentando a economia local sem comprometer as finanças”, avalia. O economista ressalta que o consumo consciente, focado em itens essenciais e em qualidade de vida, é fundamental para evitar dificuldades financeiras no início de 2026, ao mesmo tempo em que gera demanda para o comércio e os serviços.
Para quem consegue quitar dívidas e ainda manter parte do 13º disponível, o economista aponta alternativas para fortalecer a segurança financeira. Entre elas, a criação ou ampliação de uma reserva de emergência, investimentos conservadores — como CDBs de liquidez diária, fundos de baixo risco ou Tesouro Direto, com rendimento acima da inflação — e, para quem já tem as finanças mais equilibradas, a adesão a um plano de aposentadoria, como a previdência privada.
Dados do Dieese
A segunda parcela do 13º tem impacto direto no orçamento das famílias, pois concentra os descontos obrigatórios, como INSS e Imposto de Renda, além de possíveis reajustes salariais ocorridos em dezembro. Ainda assim, o montante é considerado expressivo e tende a impulsionar principalmente os setores de comércio e serviços, que tradicionalmente registram aumento nas vendas no fim do ano.
No Pará, o valor médio geral do 13º salário é estimado em R$ 2.958,74, segundo o levantamento do Dieese/PA. Entre os trabalhadores dos setores público e privado, a média sobe para R$ 3.832,92. Já os empregados domésticos com carteira assinada devem receber, em média, R$ 1.851,00, enquanto aposentados e pensionistas do INSS têm valor médio estimado em R$ 1.474,69. Apesar da importância do recurso, o cenário financeiro das famílias ainda exige cautela.
Mesmo com o papel relevante do 13º salário na dinamização da economia paraense, a entidade alerta que o planejamento financeiro segue sendo essencial para que o recurso contribua não apenas para o consumo de fim de ano, mas também para um início de 2026 com menos dívidas e maior estabilidade no orçamento familiar.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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