Preço da carne bovina segue alto e consumo cai até 30% em Belém, dizem comerciantes
Segundo Dieese, houve certa estabilização em setembro, com quedas pontuais nos cortes mais consumidos
Apesar da sequência de pequenas quedas registradas desde o primeiro semestre, o preço da carne bovina no Brasil continua elevado e deve voltar a subir nos próximos meses. O movimento é impulsionado pelas exportações, pelo aumento do consumo interno e pela redução no número de abates. Em Belém, mesmo com a queda do preço médio em agosto, as vendas caíram entre 20% e 30% em relação ao ano passado, segundo comerciantes locais.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), a carne apresentou queda de 1,17% na capital paraense no mês passado, com o quilo custando, em média, R$ 39,59. No acumulado dos últimos 12 meses, porém, o preço ainda registra alta de 9,61%, mantendo-se entre os itens que mais pesam no orçamento das famílias.
O supervisor técnico do Dieese, Everson Costa, explica que houve certa estabilização em setembro, com quedas pontuais nos cortes mais consumidos.
“Na cesta básica, cortes como a carne de primeira, a cabeça de lombo e a chã tiveram diminuições mensais, ainda que não expressivas, de 1,2% ou 0,9%. No acumulado do ano, a redução passa de 2,5%”, destacou.
Cortes nobres continuam inacessíveis
Apesar das pequenas quedas em cortes populares, os cortes nobres permanecem fora do alcance de grande parte da população. “Filé mignon e picanha mantêm preços elevados, mesmo após recuos anteriores. Isso limita o acesso, principalmente entre os assalariados. Até famílias com rendimentos superiores encontram dificuldade, porque o consumo de carne bovina, dependendo do corte, não é constante”, avaliou Costa.
Segundo o especialista, o mercado externo é determinante nesse cenário. “Esperava-se que a ampliação da oferta resultasse em preços menores no mercado interno, mas o que vemos é a competitividade da carne brasileira no exterior mantendo a demanda aquecida. Isso reduz o excedente disponível no país, especialmente nos cortes nobres”, explicou.
Açougueiros relatam queda nas vendas
Nos açougues da capital paraense, a percepção é de alta nos preços e retração do consumo. Ademir Oliveira, que trabalha no mercado municipal do Marco, na Feira da Bandeira Branca, confirma que houve reajustes.
“De agosto para setembro, tivemos aumento de cerca de 10% em média. A costela continua sendo o corte mais acessível, vendida entre R$ 18 e R$ 20. Já o filé mignon está a R$ 80, o mais caro”, relatou.
Segundo ele, os consumidores têm adaptado seus hábitos para manter a alimentação. “As vendas caíram em torno de 20% a 30% em relação ao ano passado. Isso tem a ver com o poder de compra e com a falta de geração de empregos”, avaliou.
Cesta básica em Belém compromete quase metade do salário mínimo
Em agosto, o custo total da cesta básica de alimentos em Belém foi de R$ 687,30, uma queda de 1,28% em relação a julho, quando custava R$ 696,23, segundo o Dieese/PA. Apesar do recuo, o valor comprometeu quase metade do salário mínimo vigente (R$ 1.518), exigindo que o trabalhador paraense destinasse 48,95% da renda apenas para garantir os 12 itens básicos.
Para uma família padrão de quatro pessoas, o gasto estimado com alimentação chegou a R$ 2.061,90, o que equivale a 1,35 salário mínimo. No acumulado de 2025 (janeiro a agosto), a cesta em Belém ainda apresenta alta de 3,22%.
Comparativo nacional da cesta básica
No comparativo nacional, Belém aparece entre as capitais com custo mais baixo da cesta, mas ainda caro para a realidade local. Enquanto São Paulo registrou em agosto o maior valor (R$ 850,84), a capital paraense ficou em R$ 687,30, acima de cidades como Aracaju (R$ 558,16) e Maceió (R$ 596,23).
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