MENU

BUSCA

Pará registra recorde de 84,8 mil novas empresas em 2025, crescimento de 22% impulsionado por COP 30

De janeiro a outubro, o estado supera todas as marcas dos últimos cinco anos; maioria das aberturas é de MEIs, e Belém lidera o ranking com mais de 21 mil novos negócios.

Jéssica Nascimento

O empreendedorismo no Pará vive um momento histórico. De 1º de janeiro a 27 de outubro de 2025, foram abertas 84.894 empresas, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa). O número representa um crescimento de 22,39% em relação a 2024, quando o estado registrou 69.360 novas empresas. Neste ano, o estado tem o melhor desempenho dos últimos cinco anos.


A movimentação econômica é atribuída, em parte, à expectativa pela 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém, em novembro de 2025, e também às ações de incentivo promovidas pela Jucepa, como a isenção de taxas para abertura de empresas no mês de outubro.

MEIs lideram com mais de 63 mil registros

Os microempreendedores individuais (MEIs) continuam dominando o cenário empresarial paraense. Das 84.894 empresas abertas, 63.913 pertencem a essa categoria. Em seguida aparecem as sociedades limitadas (15.816) e os empresários individuais (4.787).

Outras naturezas jurídicas incluem sociedades anônimas (236 abertas), cooperativas (97) e outros tipos (45), reforçando a diversidade do ecossistema empreendedor local.

2º semestre mantém ritmo forte de crescimento

Somente no 2º semestre de 2025, o Pará registrou 32.678 novas empresas, um aumento de 20,66% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram abertas 27.081

Comércio e serviços puxam novas aberturas

Entre as principais atividades econômicas registradas em 2025, o comércio varejista de vestuário e acessórios lidera com 3.754 empresas abertas. Em seguida vêm promoção de vendas (3.603), serviços de malote (3.207) e salões de beleza (2.499).

Outros segmentos em destaque incluem transporte rodoviário de cargas (2.376), restaurantes (2.018) e comércio de bebidas (1.792) — setores que refletem o dinamismo do consumo e dos serviços urbanos.

Belém e região metropolitana concentram novas empresas

O ranking de municípios mostra forte concentração na região metropolitana. 

Belém lidera com 21.835 novas empresas, seguida por Ananindeua (8.372), Parauapebas (4.756), Santarém (4.395) e Marabá (4.350).

Fecomércio aponta melhoria no ambiente de negócios e fortalecimento do empreendedorismo local

Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, de Serviços e de Turismo do Estado do Pará (Fecomércio-PA), Sebastião de Oliveira Campos, o aumento de mais de 22% na abertura de empresas em 2025 reflete uma combinação de fatores positivos na economia paraense, com destaque para a desburocratização, ampliação do crédito e estímulo ao empreendedorismo.

“A Fecomércio Pará avalia o crescimento de mais de 22% na abertura de empresas em 2025 como um reflexo direto da melhoria no ambiente de negócios, impulsionado por políticas de desburocratização, maior acesso ao crédito e fortalecimento do empreendedorismo local. Esse movimento indica um cenário econômico mais dinâmico e favorável à geração de renda e empregos”, destacou Campos.

Segundo ele, o ambiente de negócios tem se tornado mais acessível graças à digitalização e à simplificação de processos pela Junta Comercial, além do apoio técnico oferecido por entidades de fomento ao empreendedorismo.

“No ambiente de negócios mais favorável, destaca-se a desburocratização dos processos de abertura de empresas, com digitalização e simplificação de registros pela Jucepa. Além disso, houve ampliação do acesso a linhas de crédito, incentivos fiscais e capacitação promovida por instituições como o Sistema Fecomércio — Senac e Sesc —, o Sebrae e outras entidades, que oferecem cursos e consultorias para novos empreendedores”, afirmou.

Campos ressaltou que o avanço é mais perceptível nos setores de comércio e serviços, que demandam investimentos menores e reagem rapidamente às mudanças no consumo.

“O crescimento está concentrado em setores que são menos dependentes de grandes investimentos e mais sensíveis à demanda local. Isso mostra um movimento de fortalecimento da economia regional e da geração de oportunidades”, avaliou o presidente.

Para a Fecomércio, o resultado de 2025 consolida o Pará como um estado em expansão e com alto potencial empreendedor.

“Esse cenário é positivo para a economia estadual, pois contribui para a geração de empregos formais e informais, o aumento da arrecadação tributária e o fortalecimento da economia local e regional. O Pará está se consolidando como um estado com grande potencial empreendedor, especialmente em tempos de transformação digital e busca por autonomia financeira”, concluiu.

Setor de alimentação cresce com expectativa da COP 30, mas pode enfrentar desafios pós-evento

O aumento no número de restaurantes abertos em 2025 tem chamado atenção do setor de alimentação fora do lar. Para Fernando Soares, assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHRBS-PA), o fenômeno está diretamente ligado ao otimismo em torno da COP 30 e à chance de atender um público internacional.

“A imensa maioria das empresas que foram abertas se atrelam à prestação de serviços ou à venda de produtos de artigos de beleza. Isso, na nossa visão, tem muito a ver com a COP. As pessoas abrem MEIs, pequenas empresas, e veem a possibilidade de agradar algum estrangeiro e, de repente, começar a fornecer para o público internacional”, afirmou Soares.

Segundo ele, o setor de alimentação é um dos mais aquecidos, impulsionado pela expectativa de um grande fluxo de visitantes.

“No caso da alimentação fora do lar, principalmente, há um boom, porque a expectativa é de 60 mil pessoas aqui. Essas pessoas têm que comer, tomar café da manhã, almoçar e jantar. A culinária daqui é extremamente divulgada e diferenciada, o que atrai o interesse de turistas e impulsiona o mercado local”, destacou.

Apesar do otimismo, o assessor do SHRBS-PA alerta para a sustentabilidade desses novos negócios após o evento.

“Tem muitas empresas que abriram, mas não vão se sustentar no mercado. Pra mim, serão muito episódicas. Mês de janeiro, por exemplo, tradicionalmente é o mês mais fraco do ano. Então essas empresas tendem a ter problemas de fluxo de caixa nesse período”, avaliou.

Fatores que explicam o crescimento de empresas no Pará

Para o economista paraense Genardo Oliveira, o crescimento expressivo na abertura de empresas em 2025 reflete um momento de dinamismo econômico e social no estado, marcado por avanços institucionais e pela busca por autonomia financeira por parte da população.

“O aumento de 22,39% na abertura de empresas em 2025 revela um cenário de dinamismo econômico e social no Pará. Há uma combinação de fatores que explicam esse resultado, desde a desburocratização até o protagonismo dos microempreendedores”, destacou Oliveira.

Entre os principais elementos apontados pelo economista estão:

  • Desburocratização e ambiente favorável: A simplificação dos processos de registro empresarial pela Jucepa facilitou a entrada de novos empreendedores;
  • Protagonismo dos MEIs: Os Microempreendedores Individuais representaram a maior parte dos novos registros, com mais de 33 mil MEIs abertos até maio;
  • Resiliência pós-pandemia: A retomada econômica e a busca por autonomia financeira estimularam o empreendedorismo, especialmente em setores urbanos;
  • Expectativa com a COP 30: A proximidade do evento internacional em Belém gerou otimismo e antecipação de oportunidades, incentivando novos negócios.

“A COP 30 tem funcionado como um grande catalisador de expectativas econômicas. Muitos empreendedores estão se antecipando, criando negócios para atender à demanda que virá com o aumento do turismo e dos serviços ligados ao evento”, avaliou o economista.

Sustentabilidade do consumo urbano

Segundo Genardo Oliveira, o avanço dos setores de comércio, alimentação e serviços evidencia o fortalecimento do consumo urbano, mas a sustentabilidade desse crescimento ainda depende de fatores estruturais.

“A expansão desses setores é positiva, mas a sua continuidade vai depender de condições como o acesso ao crédito, políticas públicas consistentes e investimentos em inovação e sustentabilidade”, observou.

Entre as variáveis conjunturais que podem afetar esse cenário, o economista destaca:

  • Crédito e financiamento: O acesso ao crédito ainda é um fator limitante, especialmente para pequenos negócios. A informalidade persiste como alternativa diante da burocracia e dos custos de formalização;
  • Projetos socioambientais urbanos: Iniciativas como a Aliança Pela Inclusão Produtiva (Aipê), apoiada pelo BNDES, buscam consolidar um modelo de consumo urbano mais sustentável e estruturado;
  • Políticas públicas: A Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PEAPOS) também contribui para fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e urbanas.

“O desafio agora é transformar esse crescimento em algo duradouro. O Pará vive um momento de oportunidades, mas também precisa investir em planejamento, sustentabilidade e inclusão produtiva”, concluiu Genardo Oliveira.

Expansão de uma pizzaria em meio ao aquecimento econômico

Entre os empreendedores que surfam nessa nova onda de oportunidades estão Fábio e Josilene Lima, donos de uma rede de pizzarias no Pará. Eles inauguraram uma unidade em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, em fevereiro deste ano

O casal compartilhou com a reportagem sua experiência de expansão, os desafios do setor e as expectativas para o cenário pós-COP 30.

De acordo com Fábio Lima, a decisão de abrir uma nova unidade em 2025 fez parte de um plano de expansão da marca, mas também foi impulsionada pela movimentação econômica trazida pela COP 30.

“O que influenciou a nossa decisão foi o projeto de expansão da nossa pizzaria. Com a chegada do ano da COP, a gente entendeu que era o momento de dar esse suporte para Ananindeua. A cidade ainda não tinha uma pizzaria com essa identidade italiana e regional que trabalhamos, então vimos uma oportunidade de trazer algo diferente”, explicou o empresário.

Para ele, mesmo em um mercado competitivo como o de alimentação, há espaço para quem oferece um produto diferenciado e experiência de qualidade.

“A área de alimentação está sobrecarregada, mas quem trabalha com excelência sempre tem sua fatia do mercado. A gente chegou para fazer a diferença aqui, também pensando na COP”, completou.

Planejamento e fortalecimento local

Josilene Lima conta que a abertura da nova unidade foi resultado de um planejamento iniciado há três anos e que teve foco em fortalecer o setor gastronômico local.

“Nosso planejamento começou em 2022, e em 2024 encontramos o ponto ideal em Ananindeua. O município é o terceiro mais populoso do Pará, e percebemos uma demanda crescente por opções gastronômicas. Tudo fluiu dentro do cronograma, sem grandes dificuldades”, relata.

A nova unidade priorizou contratações e parcerias locais, contribuindo diretamente para a economia da região.

“Toda a mão de obra foi recrutada na cidade, e damos prioridade a fornecedores locais. Sabemos que Ananindeua será muito impactada pela COP, já que muitas pessoas vão usar o município como base. Queremos fortalecer a economia local”, afirma Josilene.

Gastronomia regional como diferencial

Em um cenário de expansão acelerada no setor alimentício, a pizzaria do casal aposta na gastronomia amazônica como diferencial. As pizzas regionais, com ingredientes típicos como caranguejo, pirarucu e tucupi, são a marca registrada da empresa.

“Nós não queríamos ser mais uma pizzaria vendendo pizza de calabresa. Buscamos trazer a identidade amazônica para o cardápio. A nossa marca ganhou respeito por apostar nas iguarias regionais e criar uma experiência única”, destacou Fábio.

Josilene, que é turismóloga, explica que a proposta nasceu da fusão entre a culinária italiana e os sabores da Amazônia — e que essa combinação, antes vista com ceticismo, hoje é reconhecida como um dos grandes trunfos da marca.

“Muitos duvidaram quando criamos pizzas de caranguejo ou de peixe. Mas acreditamos que dava para unir a gastronomia regional à italiana. Agora, com a COP 30, temos uma vitrine mundial para mostrar isso”, ressalta.

Geração de empregos e impacto econômico

A abertura da nova unidade gerou 26 empregos diretos em Ananindeua, além de contratações temporárias conforme o fluxo de clientes.

“Todos os nossos funcionários são da região. Isso fortalece a economia local, movimenta fornecedores e aumenta a arrecadação de impostos. Quando uma empresa nasce no município, ela ajuda todo o entorno a crescer”, avalia Fábio.

Expectativas para a COP e planos futuros

Com a proximidade da COP 30, o casal se prepara para receber turistas e delegações internacionais, investindo em treinamento de equipe, cardápio bilíngue e melhorias no atendimento.

“A COP é um evento único. Estamos com uma expectativa muito grande para o movimento e para o legado que ele vai deixar na cidade, especialmente na área de turismo. Fizemos um trabalho interno de qualificação e acreditamos que o pós-COP será ainda mais promissor”, afirma Josilene.

Os empresários já vislumbram novas expansões para os próximos anos. “Queremos abrir novas unidades em outros bairros de Belém e, depois, em outras capitais do Brasil. Esse é o nosso grande projeto”, revela.

Número de empresas abertas no Pará em 2025 (Fonte: Jucepa - Junta Comercial do Estado do Pará)

Período: 1º de janeiro a 27 de outubro de 2025

Total: 84.894 empresas

Naturezas jurídicas:

  • MEI: 63.913
  • Empresário Individual: 4.787
  • Sociedade LTDA: 15.816
  • Sociedade Anônima (Aberta): 74
  • Sociedade Anônima (Fechada): 162
  • Cooperativa: 97
  • Outros: 45

Comparativo Anual de Empresas Abertas no Pará

Ano  -  Empresas Abertas

  • 2025 - 84.894
  • 2024 - 69.360
  • 2023 - 65.559
  • 2022 - 70.118
  • 2021 - 77.882

Crescimento de 2024 para 2025: +22,39%

Abertura de Empresas no 2º Semestre

  • 2025: 32.678 empresas
  • 2024: 27.081 empresas
  • Variação: +20,66% de crescimento no 2º semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024.

Principais Segmentos Econômicos — 2025

As 10 atividades mais registradas em 2025 foram:

Atividade   -   Empresas Abertas

  1. Comércio Varejista de artigos do vestuário e acessórios - 3.754
  2. Promoção de vendas - 3.603
  3. Serviços de malote não realizados pelo correio nacional - 3.207
  4. Cabeleireiros, manicures e pedicures - 2.499
  5. Transporte rodoviário de carga (exceto produtos perigosos e mudanças) - 2.376
  6. Comércio varejista de mercadorias em geral (produtos não especializados) - 2.057
  7. Restaurantes e similares - 2.018
  8. Outras atividades auxiliares dos transportes terrestres não especificados - 1.941
  9. Comércio varejista de bebidas - 1.792
  10. Fornecimento de alimentos preparados para consumo alimentar - 1.708

Ranking de Abertura de Empresas por Município — 2025

  1. Belém - 21.835
  2. Ananindeua - 8.372
  3. Parauapebas - 4.756
  4. Santarém - 4.395
  5. Marabá - 4.350