Pará registra aumento de 70% na clonagem de aparelhos celulares
Golpistas usam várias estratégias e não dispensam figuras públicas
Os relatos se tornaram comuns: criminosos cada vez mais criativos tecem teias mirabolantes para conseguir clonar aplicativos de mensagens em celulares e, com isso, aplicar os mais diversos golpes. A Divisão de Combate a Crimes Econômicos e Patrimoniais praticados por Meios Cibernéticos da Polícia Civil do Pará registrou um aumento de cerca de 70% nos registros de clonagem de aparelhos. E cada vez mais os golpistas miram em classes específicas e pessoas com reconhecimento público, com o objetivo de vasculhar os dados para obtenção de outros tipos de vantagem.
O susto veio para o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar, na tarde de quarta-feira, 16. “Por volta das 14h, abri o aplicativo do Whatsapp e apareceu uma mensagem informando sobre uma troca de número, se eu confirmava ou não. Cliquei não, pois não havia feito nenhuma troca. Logo depois, chegou um email da equipe do Whatsapp, mas estava todo em inglês. Traduzi e ele dizia que eu tentei desativar a autenticação em duas etapas e que precisava entrar no link que eles enviaram, caso quisesse mesmo fazê-lo. Não cliquei em nada. Mas toda essa atividade acabou bloqueando meu aplicativo por seis horas”, relatou.
Por segurança, e por ser uma figura pública, Nélio decidiu informar todos os seus contatos sobre o ocorrido, para prevenir quaisquer tentativas de golpe ou transtornos, pois estava, literalmente, trancado para fora do mensageiro sem saber se alguém se passava por ele. Ao fim do prazo, ele 'logou' normalmente e conseguiu voltar à normalidade. “Acredito que fui um alvo deliberado, por ser o prefeito. Por ter a verificação já ativa, não conseguiram concluir a clonagem”, concluiu.
Senador perde número
O senador Paulo Rocha (PT-PA) passou por situação parecida. Ele não lembra ao certo como ocorreu o acesso ao seu aplicativo de mensagens, mas ele perdeu o acesso ao número temporariamente. Felizmente, nenhum dos contatos dele caiu no golpe e ele retomou acesso ao número e ativou a verificação de duas etapas que inclui, além do código de verificação por SMS, um pin de 6 números criado pelo próprio usuário.
Para ele, o ataque também foi deliberado. "O ataque à boa política e aos políticos em destaque está usual atualmente no Brasil. Eu me senti atacado, sim. Até porque havia me tornando líder da bancada e vinha levantando posições e atuando fortemente em defesa do nosso povo”, analisou. Ele contou ainda que outros senadores foram vítimas de tentativas semelhantes.
Figuras públicas
O titular da Divisão de Combate a Crimes Econômicos e Patrimoniais praticados por Meios Cibernéticos da Polícia Civil do Pará, delegado Guilherme Gonçalves, confirma a tendência dos golpistas em mirar nas figuras públicas. “Nesses casos de pessoas com alta exposição pública, não há apenas a intenção de aplicar golpes nos contatos, mas também a de obter informações pessoais privilegiadas que possam ser utilizadas para extorsão”, explicou.
A pandemia agravou o problema em duas frentes: o aumento do contato online entre as pessoas e a preferência pelas categorias que atuavam nos serviços essenciais, por saberem que estes estavam geralmente distantes das famílias. Policiais, médicos, políticos e até jornalistas se tornaram alvos para golpistas. “São pessoas que não deixaram de sair para trabalhar fora de casa e muitas vezes, pela sua atuação, ficavam com contato restrito com familiares. Neste momento os golpistas atuavam”, descreveu o delegado.
Via Instagram
Nesta semana, a Redação Integrada de O Liberal se deparou com mais uma modalidade deste golpe: o da conta verificada no Instagram. O diretor de conteúdo do Grupo Liberal, Daniel Nardin, recebeu uma ligação de um número de celular com prefixo da cidade de São Paulo. Um homem, que se identificou apenas como “Guilherme”, disse que trabalhava na “Central de Atendimento do Instagram” e fez uma proposta curiosa. Segundo ele, o perfil de Nardin havia alcançado uma suposta alta média de visualizações, e então teria direito ao selo de verificação da conta, o famoso "selinho azul", de forma totalmente gratuita. Para isso, Daniel teria que confirmar um código de seis dígitos enviado por mensagem pelos criminosos. Desconfiado desde o início da ligação, Nardin gravou a conversa, que foi disponibilizada, na íntegra, no Portal Oliberal.com.
Mas nem tudo facilitou a atuação destes criminosos. A Lei de nº 14.155, de 27 de maio de 2021, alterou o Código Penal e endureceu as penas para o crime de invasão de dispositivo informático. Incluiu ainda qualificação e majoração para os furtos mediante fraude e estelionato. “Outra iniciativa trazida pela lei foi a mudança da competência, que determina que a investigação seja feita no local onde reside a vítima. Antes, era estabelecido que a investigação estaria onde a transação ocorreu. Por exemplo, se um golpista do Rio Grande do Sul conseguisse o dinheiro de um paraense, a polícia daquele estado deveria conduzir a investigação, o que dificultava muito o acompanhamento pela vítima”, destacou Guilherme.