Pandemia dificulta reajuste salarial
Em abril, 59,7% dos acordos coletivos não conseguiram a reposição da inflação dos salários dos trabalhadores
O reajuste salarial de milhares de trabalhadores brasileiros também vem sofrendo com os impactos causados pela pandemia. De acordo com o Salariômetro, estudo mensal feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base nas negociações coletivas, em abril, 59,7% dos acordos coletivos não conseguiram a reposição da inflação dos salários dos trabalhadores. Sindicatos e entidades que representam trabalhadores e empresários se dizem preocupados com a impossibilidade de negociar acordos e direitos conquistados.
“A gente tem visto muitos embates com relação a tentar segurar um aumento, ou então uma clausula que possa fazer com que o trabalhador tenha alguma garantia na questão social que dê um sustentáculo a ele e seus dependentes. Com relação a clausula econômica, ele ficou muito rechaçada por conta da pandemia e essa postergação toda que estamos passando. Eu acredito que estamos numa situação tão difícil que nem a inflação do INPC será reposta pela patronal e daqui para o final do ano penso que não teremos deflação. Infelizmente, com a reforma de 2017, a lei veio trucidar com várias questões que o trabalhador tinha como garantia”, avaliou Jesus Santana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Lojista do Município de Belém (Sindclobe).
No mês passado, o percentual de reajuste médio foi de 5,6%, enquanto a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou alta acumulada de 6,9% nos últimos 12 meses finalizados em abril. Ainda no mesmo período, a proporção de reajustes iguais ao INPC foi de 26,4% e acima da inflação foi de 14%.
Para os trabalhadores do setor rodoviário, o reajuste salarial não é feito a cerca de dois anos e com o agravamento da pandemia aumentam as incertezas em torno da correção dos salários. Uma assembleia-geral da categoria será realizada nesta sexta-feira, às 17h, no Centro de Formação de Rodoviários, para apresentar o andamento das negociações aos trabalhadores.
“Ano passado, com o início da pandemia, não houve o acordo entre empresários e trabalhadores. Hoje, segundo o Dieese, os rodoviários já contabilizam uma perda de mais de 10% e para piorar a situação ainda corremos o risco de perder direitos conquistados, como ticket de alimentação, assistência a saúde e a convenção coletiva. As negociações estão em andamento, contudo não existem propostas por parte dos empresários, eles querem suspender por seis meses as negociações e retirar os direitos conquistados pelos trabalhadores”,
O balanço também apontou que o piso salarial das negociações ficou em R$ 1.335, valor 21,36% superior do salário mínimo nacional. Já as negociações com data base no ano, concluídas até o mês de abril, foram mais de 32 mil, considerando os acordos e convenções coletivas. Quanto a Participação nos Lucros e Resultados (PRL) o valor médio alcançado foi de R$ 2.182 para acordos e R$ 1.321 nas convenções.
As dificuldades também estão sendo sentidas pelos empresários, sobretudo do setor do comércio, que vem encarando a impossibilidade de reajuste3 dos funcionários com preocupação. Representante dos empresários do comércio, Álvaro Cordoval, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Belém, afirma que faltam recursos para cumprir com os acordos.
“É um momento bastante difícil. No geral as empresas estão em dificuldade, inclusive algumas precisaram fechar por não terem condições de arcar com aluguel, tributos e a folha de pagamento. Por mais que o empresário tenha boa vontade e reconheça o valor do funcionário, faltam as condições. O que tem sido feito é um esforço sobrenatural para manter os negócios”, acrescenta.