Sabor da Amazônia em copo: cerveja no Pará cresce 10% e ganha destaque no cenário nacional
O crescimento em 2024 em relação ao ano anterior superou a média nacional de 5,5%; cervejarias Caribeña e Cabôca são exemplos de inovação artesanal
Em 2024, o Pará brindou um avanço acima da média nacional: enquanto o crescimento de estabelecimentos de cervejas e chopes no Brasil foi de 5,5% em relação a 2023, o estado registrou 10%, conforme o Anuário da Cerveja 2025, do Ministério da Agricultura e Pecuária. O resultado reflete a força de um mercado que já reúne 22 cervejarias registradas, liderança absoluta na região Norte e prova de que a produção artesanal local está em plena efervescência. No cenário nacional, são 1.949 estabelecimentos ativos, responsáveis por 42.464 empregos diretos. Nesse movimento de expansão, marcas paraenses como a Caribeña e a Cabôca ganham protagonismo, ajudando a consolidar o estado como referência em inovação cervejeira e sabores regionais.
Para o presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Gilberto Tarantino, o diferencial da produção paraense é a forte ligação com a identidade cultural e regional. Segundo ele, “o artesanal nasce do território, é sempre muito conectado à sua comunidade local e regional”. O dirigente observa que, embora exista interesse nacional por rótulos produzidos na Amazônia, o foco das cervejarias é, sobretudo, atender ao consumidor próximo. Esse vínculo cria autenticidade e fortalece a cena local.
Por outro lado, ele aponta que o crescimento paraense é impulsionado não apenas pelo consumo interno, mas também pela curiosidade de consumidores de outras regiões. Ingredientes amazônicos como frutas, plantas e madeiras dão às cervejas um caráter único, capaz de atrair quem busca experiências diferenciadas. Tarantino destaca que esse repertório sensorial “não se encontra em nenhum outro lugar do mundo” e ainda dialoga com temas de sustentabilidade e turismo.
Apesar das oportunidades, o setor enfrenta desafios. Entre eles, está a carga tributária elevada, em especial o regime de substituição tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Para enfrentar isso, a associação atua diretamente na reforma tributária sobre o consumo e segue atenta às alíquotas do Imposto sobre Valor Adicionado Dual (IVA Dual) e do Imposto Seletivo — ambos em vigor no período de transição, que inicia em 2026.
As distâncias continentais em um país como o Brasil também são apontadas como uma logística cara e desafiadora para fazer a cerveja viajar da Amazônia para o restante do Brasil. "Além de agredir o produto, encarece bastante na prateleira. Para quem quer explorar mercados fora do estado, é fundamental investir em estratégias que agreguem percepção de valor. A cerveja paraense, quando chega ao consumidor em São Paulo ou em Porto Alegre, invariavelmente vai chegar custando o dobro do que custa no Pará", explica. Por isso, o lema “Beba Local” ainda é o que sustenta a saúde financeira das pequenas empresas. Mesmo assim, a entidade é otimista: a expectativa é que a integração da cerveja artesanal com gastronomia, turismo e identidade amazônica impulsione ainda mais o mercado nos próximos anos.
Caribeña: refrescância com sabor do Caribe e da Amazônia
Lançada em 2023 pela Indústria de Bebidas Paraense (Inbepa), a Caribeña nasceu para atender a demanda por uma cerveja feita por mãos paraenses e consumida principalmente no estado. Inspirada pelo clima quente da região e pelas conexões culturais com o Caribe, a marca aposta em leveza e refrescância como marca registrada.
O diretor industrial Marcos Parente explica que a proposta sempre foi criar uma cerveja de corpo leve e amargor equilibrado, disponível em chope, latas e garrafas de diferentes tamanhos. Ele afirma que a aceitação tem sido positiva tanto dentro quanto fora do Pará, já que o produto é versátil e se adapta a diferentes ocasiões.
O crescimento do mercado de artesanais é visto pela Caribeña como uma oportunidade de renovar o paladar do consumidor. Parente observa que a diversidade de estilos atrai novos públicos e cria espaço para que marcas locais se firmem. Para ampliar a distribuição, a equipe comercial tem investido em novas cidades paraenses e já projeta expansão para outros estados.
"Nossa expansão está sendo planejada pela formação de um portfólio para atender tanto o mercado cervejeiro atual, expandindo geograficamente o atendimento com os nossos produtos já produzidos, mas também inovando com a entrada no setor de energéticos e soft drinks (bebidas não alcoólicas), que tem um mercado crescente com a geração Z, caracterizada por hábitos diferentes de consumo de bebidas", diz Parente.
Segundo o setor de marketing, liderado por Thalys Cardoso, a Caribeña se posiciona como uma apoiadora de eventos culturais e gastronômicos do estado. O objetivo é fortalecer laços com a comunidade e associar a marca à valorização da cultura local. Além disso, a cervejaria está implementando medidas sustentáveis, como foco em embalagens retornáveis e redução de 50% na pegada de carbono da produção.
“Nosso clima quente pede uma cerveja leve e refrescante com a cara do nosso povo”, resume Parente, destacando a essência da Caribena como representante do gosto paraense.
Cabôca: tradição, cultura e inovação no coração de Belém
A Cervejaria Cabôca surgiu em 2020 com a missão de valorizar a Amazônia em forma de cerveja. O diferencial da marca vai além da bebida: ocupa um casarão histórico do século XVII na Boulevard Castilhos França, em frente à Estação das Docas, revitalizado para abrigar bar e restaurante. Além disso, mantém uma fábrica própria, responsável pela produção de cerca de 60 mil litros mensais de chope e cerveja.
Segundo a diretora comercial Catariny Jatene, a inspiração foi criar uma marca que traduzisse o orgulho de ser paraense. A Cabôca alia qualidade técnica e insumos selecionados a uma “alma amazônica”, presente tanto nos rótulos quanto na identidade visual da marca. O resultado é um portfólio que atende desde os consumidores tradicionais até os mais curiosos por experiências sensoriais.
Com a maturidade do mercado, a Cabôca vê espaço para continuar crescendo. A empresa planeja lançamentos de novos estilos ainda neste ano e busca ampliar presença em pontos estratégicos dentro e fora do Pará. Os desafios, no entanto, são semelhantes aos de outras cervejarias locais: logística e custos de transporte. A estratégia tem sido firmar parcerias para garantir competitividade e preservar a qualidade do produto.
A Cabôca também se destaca como ponto de encontro cultural. Shows, rodas de samba e eventos gastronômicos fazem parte da rotina do espaço, reforçando a ideia de que cerveja é também um elo de cultura. “Nossa inspiração veio da cultura paraense, dos ingredientes e da força da nossa identidade regional”, ressalta Jatene.
A sustentabilidade é outro compromisso da marca. A cervejaria adota embalagens recicláveis, práticas de reaproveitamento de resíduos e prioriza fornecedores locais. O objetivo é expandir sem perder a essência amazônica, mostrando para todo o Brasil que o Pará tem uma produção artesanal de personalidade única.
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