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Mercado de aluguel em Belém após a COP 30 tem ganhos pontuais e impactos prolongados

Setor avalia maior aderência de aluguéis temporários e contratos anuais mais caros

Maycon Marte

O encerramento da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, trouxe números relevantes para a economia do estado, movimentou diversos setores e colocou a capital paraense em destaque global. No entanto, quando o foco se volta para o mercado imobiliário, especialmente o de aluguel residencial, o saldo é mais complexo do que os discursos otimistas iniciais. Na avaliação da presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Pará (Creci-PA), Luisa Carneiro, “a COP 30 representou mais perdas que ganhos”, o que seria um reflexo da nova aposta em aluguéis por temporada.


A possibilidade de lucrar mais em menos tempo foi estimulada pela modalidade de locação em prazos mais curtos durante a experiência recente da COP 30 e aguçou a cobiça de proprietários. Segundo Carneiro, a expectativa de “ganhos estratosféricos” dos proprietários afetou até mesmo as casas e apartamentos que estavam a venda e foram retirados para a locação temporária. Com o excesso de imóveis nesse formato, os corretores ficaram impossibilitados de atender aos demais clientes interessados em outros tipos de aluguéis, o que se somou as soluções de locação dos governos estadual e federal.

“No início de 2025 com a perspectiva de ganhos estratosféricos em valores de aluguéis por temporada proposto por algumas plataformas, isso aguçou a cobiça de alguns proprietários e foi prejudicial para a grande maioria dos corretores, pois ficaram sem conseguir alugar para clientes que precisam residir habitualmente e muitos imóveis foram retirados de venda pelos proprietários visando ganhar altos valores de aluguéis por 15 dias em novembro. E, como o governo do Estado buscou outras alternativas, o resultado ficou infinitamente aquém do pretendido”, avalia a presidente do Creci-Pa.

Contratos anuais podem ficar menos atraentes

Conforme a avaliação de corretores paraenses, o novo padrão de locação deve tornar os contratos anuais menos atraentes e, por consequência, elevar os preços nessa modalidade. A curto prazo, os preços devem seguir elevados, movimento impulsionado pelas festas de fim de ano, o que esbarra na alta demanda desse período do ano por aluguéis residenciais tradicionais. Para Vinicius Aleixo, corretor imobiliário, “a quantidade de pessoas procurando imóveis de aluguéis convencionais” aumenta significativamente, devido à movimentação de pessoas vindas de outras regiões.

Aleixo exemplifica que uma de suas clientes passou recentemente por essa experiência e estima uma rentabilidade do dobro em relação aos ganhos com o contrato residencial por ano. “Uma cliente minha de Ananindeua, tem um apartamento com um aluguel de dois quartos por em média R$ 1.600, e ela consegue ganhar praticamente quase o dobro com aluguéis por temporada”, lembra o corretor. Há ainda vantagens como a liberdade de escolher o hóspede e outras seguranças contratuais que algumas plataformas oferecem aos anfitriões.

Esse crescimento também reflete a visibilidade que Belém alcançou após a série de grandes eventos que sediou, com a “descoberta” da cultura nortista. O intermediador imobiliário e advogado especialista em direito imobiliário, Daniel Farias, corrobora o viés da explosão do turismo na capital paraense. Para ele, a mudança para os temporários ainda é apenas uma possibilidade e um processo natural, o que também se manterá, graças aos grandes eventos que ainda devem vir para Belém, como shows e campeonatos.

“Belém vai experimentar, e a gente torce para isso, um novo momento, inclusive no turismo. E isso, naturalmente, pode puxar esse mercado de locação de imóveis por temporada quando aconteceram esses grandes eventos. Houve uma grande demanda. Mas é provável neste momento que o mercado volte um pouco mais para os aluguéis convencionais”, defende Farias.

Valeu a pena

A oportunidade da COP 30 fez com que famílias inteiras deixassem suas casas para hospedar estrangeiros pelo período do evento. Foi assim com a família da social média paraense Karina Tavares, que se abrigam com amigos e parentes para locar o apartamento à visitantes canadenses. Ela afirma que o valor recebido “valeu a pena”, compensado desde os investimentos feitos no apartamento, com a pintura, até os gastos da família, que agora se prepara até para trocar de carro.

“Agora que retornamos para o apartamento e já estamos próximos do Natal, o apartamento está todo pintado e com os reparos feitos graças à hospedagem que aceitamos de última hora para receber essas pessoas durante a COP 30. Então, de certa forma foi positivo tanto no lucro, quanto nesses reparos que ficam para nós”, avalia.

Nem todos precisaram sair de suas casa, como a produtora de eventos paraense, Sheyla Guimarães, que alugou alguns quartos do seu próprio apartamento, além de outro imóvel por completo. Pelo período da COP 30, ela hospedou cerca de quatro visitantes, entre eles, o diretor-geral de desenvolvimento rural no Ministério da Agricultura da Costa Marfim, país situado no continente africano.

Sheyla investiu em reformas, enxovais, mobília nova e melhorias estéticas. O retorno foi positivo: ela descreve o período como altamente lucrativo e enriquecedor culturalmente. Ela também demonstrou um nível de profissionalização espontânea, oferecendo café da manhã com mesa posta, suporte logístico aos hóspedes, transporte para o espaço da COP 30, auxílio com serviços da cidade (câmbio, alimentação, compras) e esforço dedicado de comunicação em idioma estrangeiro.

“Abrimos uma grande porta nesse sentido, foram quinze dias que pareceu mais de ano, a troca de experiências foi muito salutar”, afirma. No entanto, mesmo com a experiência nova e enriquecedora, ela enfatiza que ainda avalia a possibilidade de continuar recebendo hóspedes.