Menos jovens, menos mão de obra: os desafios do mercado de trabalho no Pará
Redução da população jovem e envelhecimento impactam o mercado de trabalho brasileiro. No Pará, juventude ainda é maioria, mas sofre com subutilização, informalidade e baixos rendimentos
O Brasil está envelhecendo e o mercado de trabalho já sente os impactos disso, é o que revela dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com menos nascimentos, mais longevidade e maior urbanização, a pirâmide etária do país que antes tinha base larga e topo estreito — típica de países jovens e menos desenvolvidos — começa a se inverter.
Essa transição demográfica já está em curso no Brasil e impacta diretamente o mercado de trabalho. No Pará, embora essa mudança ocorra de forma mais lenta do que em comparação a outros estados brasileiros, os efeitos já são perceptíveis: os jovens ainda representam a maioria da população em idade ativa, mas enfrentam dificuldades para ingressar em empregos formais e com melhores condições.
O Brasil está mudando — e o mercado sente
Segundo o IBGE, a expectativa de vida no Brasil aumentou para 76,4 anos em 2023, superando o nível pré-pandemia de 76,2 anos. As mulheres vivem, em média, 79,7 anos, enquanto os homens atingem 73,1 anos. Esse avanço, somado à queda acentuada da taxa de fecundidade — hoje em torno de 1,7 filho por mulher —, tem alterado significativamente o perfil populacional do país.
Luiz Cláudio Martins, economista e analista do IBGE no Pará, explica que essa transição se intensificou nas últimas décadas. “O Brasil vem passando de um país formado majoritariamente por uma população jovem para um país mais maduro, com maior presença das faixas etárias envelhecidas”, afirma. Ele explica que a combinação entre avanços na saúde, maior escolaridade feminina, urbanização e acesso a métodos contraceptivos contribuiu para esse cenário.
Essa mudança afeta diretamente o mercado de trabalho. O país está saindo do chamado bônus demográfico — período em que a maioria da população se encontra em idade economicamente ativa (15 a 64 anos). Com menos jovens ingressando no mercado e mais pessoas se aposentando, há um desequilíbrio entre quem sustenta e quem depende do sistema previdenciário. “Se as pessoas ativas diminuem, a conta não fecha. Isso pressiona o sistema e compromete o financiamento das aposentadorias”, alerta o analista.
O retrato demográfico do Pará
Apesar de ainda registrar taxas de fecundidade superiores à média nacional, o Pará também está em transição. O estado tem hoje cerca de 8,12 milhões de habitantes, segundo o Censo 2022. A população de 15 a 29 anos é expressiva: cerca de 1,39 milhão de pessoas, o que representa cerca de 17% da população total. A faixa etária de 15 a 17 anos reúne 439,8 mil jovens, enquanto 286,9 mil estão entre 18 e 19 anos, e outros 707,8 mil entre 20 e 24 anos.
De acordo com dados da pesquisa Estatística de Registro Civil do instituto, em 2023, ano de referência, foram registrados 132.169 nascimentos no estado, dos quais 19,2% de mães tinham até 19 anos — índice superior à média da Região Norte (18,6%) e nacional (11,8%). Por outro lado, apenas 27,6% dos nascimentos ocorreram entre mães com 30 anos ou mais, enquanto no Brasil esse percentual é de 39%, revelando que o adiamento da maternidade, comum em outras regiões, avança mais lentamente no estado.
Essa estrutura populacional mais jovem é uma vantagem comparativa momentânea. "Isso é bom para a economia, porque temos uma maior oferta de pessoas, principalmente jovens adultos, aptos para trabalhar”, avalia Luiz Cláudio Martins.
Juventude enfrenta entraves no mercado de trabalho
Para o analista, o desafio hoje, no entanto, é transformar esse potencial em força de trabalho ativa. Dados da PNAD Contínua do 1º trimestre de 2025 mostram que 115 mil jovens de 18 a 24 anos estão desocupados no Pará — quase um terço dos 364 mil desempregados do estado. Além disso, 78 mil estão na força de trabalho potencial e 46 mil estão subocupados por insuficiência de horas trabalhadas. Isso significa que 239 mil jovens estão subutilizados de alguma forma.
A taxa de informalidade também preocupa: o Pará tem a segunda maior do país, com 57,5% dos trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ, o que representa 2,2 milhões de pessoas. Desses, 92 mil são jovens de 14 a 17 anos, 323 mil de 18 a 24 anos, 790 mil de 25 a 39 anos e 803 mil de 40 a 59 anos.
Segundo o IBGE, fazem parte do grupo de trabalhadores informais, os empregados do setor privado e os trabalhadores domésticos sem carteira assinada, junto com empregadores e conta própria sem CNPJ e os trabalhadores familiares auxiliares.
Já a taxa composta de subutilização da força de trabalho no estado chegou a 22,6%, afetando mais de 1 milhão de pessoas. Os jovens de 18 a 24 anos são um dos grupos mais atingidos, com dificuldade de inserção, baixa qualificação e poucas oportunidades de emprego formal.
Nesse cenário, muitos jovens estão optando por trabalhar em empregos autônomos, como em aplicativos de transporte, delivery ou mesmo como criadores de conteúdo nas redes sociais, mas sem contribuição alguma para a previdência. “A curto prazo isso seria benéfico para os jovens, mas a longo prazo essas pessoas não vão ter acesso a aposentadoria, por exemplo”, explica Martins.
Os riscos e os caminhos
A falta de oportunidades para os jovens, aliada à informalidade e aos baixos rendimentos — R$2.499 em média no estado e R$3.451 em Belém (PNAD) —, compromete o desenvolvimento econômico e social.
Entre as estratégias para mitigar os efeitos da transição demográfica, Luiz Cláudio aponta: investimentos em educação básica e técnica para jovens. Democratização do acesso às novas tecnologias, como a inteligência artificial. Políticas públicas de incentivo à natalidade, como creches, licenças e apoio à parentalidade. Reforma previdenciária inclusiva, que considere os novos modelos de trabalho e fomento à formalização de trabalhadores autônomos e digitais.
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