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Indústria vê avanço estratégico após leilão de petróleo na foz do Amazonas

Setor projeta investimentos de R$ 1,5 bilhão e defende exploração segura na Margem Equatorial; ações judiciais e licenciamento seguem como impasses

Gabriel da Mota

O resultado do 5º ciclo da Oferta Permanente de Concessão, realizado nesta terça-feira (17), foi considerado "muito positivo" pela indústria de petróleo e gás. A concessão de 19 blocos na bacia da foz do Amazonas movimentou cerca de R$ 844 milhões em bônus de assinatura — valor que integra o recorde de quase R$ 1 bilhão arrecadado no leilão como um todo. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o certame reforça a importância da Margem Equatorial para a segurança energética do Brasil, apesar das controvérsias ambientais e ações judiciais em curso.

O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, ressaltou que o leilão atraiu um leque amplo de operadoras e sinaliza interesse crescente pelo potencial da região. “O apetite das empresas é bastante importante e estão oferecendo prêmios bastante relevantes para terem direito a adquirir as áreas”, avaliou. Ele destacou a participação de empresas de grande porte, como Petrobras, ExxonMobil, Chevron e CNPC, além de uma estreante na Bacia de Parecis.

“Você teve empresas europeias, americanas, que operam em ambientes onshore, offshore, empresas que gostam mais de áreas de exploração ainda mais arriscadas e outras que buscam proteger o portfólio indo para áreas mais tradicionais”, disse Ardenghy. “Isso mostra que existe interesse e prospectividade interessante. E cada uma delas vai agregar naquela região um conhecimento específico”, completou.

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Próximas etapas e desafios ambientais

O resultado do leilão não encerra o processo de exploração. As empresas ainda precisarão obter licenças ambientais específicas para operar nos blocos adquiridos. A ANP prevê que os contratos com as concessionárias sejam assinados até 28 de novembro, abrindo caminho para o início dos estudos sísmicos, fase que pode se estender por anos antes da perfuração.

Segundo Ardenghy, os investimentos têm maturação longa:

“Esses blocos vão levar em média 10 a 12 anos para produzirem a primeira gota de petróleo — se houver descoberta. São dois ou três anos de trabalho geológico, depois mais tempo para declaração de comercialidade e desenvolvimento do projeto”, explicou.

A presença crescente de empresas na Margem Equatorial, na avaliação do IBP, deve impulsionar o processo de licenciamento. “Nós temos hoje diferentes empresas olhando a Margem Equatorial. Já existe um processo avançado de licenciamento no bloco onde a Petrobras está em fase final, com o teste simulado da sonda de perfuração”, afirmou o presidente do Instituto.

Exploração como ferramenta de transição energética

Apesar dos protestos de ambientalistas e questionamentos judiciais — inclusive sobre a validade da manifestação conjunta dos Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, que vence nesta quarta (18) —, o setor reforça a legitimidade do processo e o papel do petróleo na transição energética.

“O petróleo ainda é muito confiável, disponível e barato como fonte de energia. Vai continuar sendo necessário por décadas, inclusive para petroquímica, produção de fertilizantes e apoio à geração de energia em casos de escassez”, argumentou Ardenghy.

Para ele, o Brasil pode oferecer um petróleo “com baixa emissão de CO₂, como o que já vemos no pré-sal”, e quer que “a última gota de petróleo que o mundo consumir seja brasileira”.

Sobre os protestos e ações judiciais, ele afirma que todos os blocos foram oferecidos “dentro das normas do edital” e que a tentativa de impedir o leilão “não prosperou porque nenhum juiz encontrou irregularidade”. Ardenghy também defendeu a atuação da Petrobras e demais operadoras: “Todos os dias a gente produz aqui na Bacia de Santos 3 milhões de barris com segurança e sem nenhum impacto ambiental relevante”, frisou.

Interesse crescente e novos certames a caminho

Além dos blocos da foz do Amazonas, a Bacia de Pelotas também começou a atrair atenção do mercado. Ainda em estágio preliminar, com licenciamento sísmico em andamento, a região recebeu ofertas mais modestas. “São teses geológicas que só vão ser comprovadas com trabalho sísmico e perfuração”, explicou o presidente do IBP.

A ANP já anunciou um novo leilão de áreas sob regime de partilha na Bacia de Santos, previsto para outubro, com 13 blocos ofertados. Para Ardenghy, a continuidade dos leilões é essencial: “O Brasil pode se posicionar com segurança energética, oferecendo um produto confiável e de baixa emissão. Precisamos descobrir novas reservas — hoje temos apenas 13 anos de autonomia, caso não se encontre mais petróleo”, defendeu.