Feira de Artesanato do Círio movimenta negócios e reforça empreendedorismo inclusivo em Belém
Participantes alcançam durante os sete dias de feira um faturamento que supera até oito meses de trabalho; a FAC segue até o dia 15 de outubro
A Feira de Artesanato do Círio (FAC) estava bastante movimentada na última segunda-feira (13), atraindo visitantes de diferentes estados e países, em busca de peças únicas e histórias de empreendedores da Amazônia. Em sua 13ª edição, o evento reúne 210 expositores — sendo 159 artesãos com curadoria especializada — e estima movimentar R$ 3,2 milhões em negócios ao longo dos sete dias de programação. Promovida pelo Sebrae Pará, em parceria com o Governo, no Parque Urbano Belém Porto Futuro, a feira aposta na diversidade cultural e no empreendedorismo inclusivo como pilares de desenvolvimento regional. Para o coordenador da FAC, Igo Silva, o evento promove um espaço de oportunidades para grupos historicamente marginalizados, como ribeirinhos, quilombolas, indígenas e mães atípicas.
Apostando no conceito “Arte que preserva, cultura que inspira”, a feira prevê atrair mais de 50 mil visitantes até o dia de encerramento, no dia 15 de outubro. O foco está na valorização das tipologias tradicionais do Pará, como miriti, sementes, crochê, cerâmica e fibras naturais.
Igo Silva reforça que, para além do aspecto comercial, a feira exerce um papel fundamental de visibilidade e fortalecimento dos pequenos negócios. “Muitos artesãos aqui têm um volume de vendas que supera seis ou oito meses do que eles tradicionalmente fazem. Isso mostra o quanto esse evento é importante não só economicamente, mas também como rede de apoio e de conexão entre empreendedores”, afirma.
Representatividade e ancestralidade
Entre os estandes, uma das presenças marcantes é a de Magna Yubja, empreendedora indígena. Artesã desde que nasceu, Magna começou a empreender há cerca de dois anos. Ela conta que pulseiras e brincos feitos com miçangas coloridas e fio de nylon são os campeões de venda. Para Magna, o maior desafio ainda é ser reconhecida como profissional. “O principal desafio é o reconhecimento, a organização do trabalho. Mas isso está mudando. Minha expectativa aqui é vender bastante e ajudar outras indígenas a crescer também”, conta.
Na mesma linha de pertencimento cultural e conexão com o território, Aline Batista representa o empreendedorismo ribeirinho. Moradora de Abaetetuba, ela dá continuidade a um trabalho iniciado pela sogra há mais de 30 anos, e hoje lidera um negócio que emprega outras mulheres da comunidade. “Trouxemos para a feira uma coleção de biojoias inspirada no Círio. É uma alegria ver pessoas de outros estados e países levando um pedacinho da nossa história para o mundo”, afirma Aline.
Para ela, eventos como a FAC são fundamentais para ampliar a visibilidade de quem vive e produz na Amazônia. “O artesanato paraense evoluiu muito. A internet e eventos como a COP 30 estão ajudando a mostrar a força da Amazônia e das mulheres que vivem dela”, pontua.
Maternidade e inclusão
Outro destaque desta edição da feira é o Espaço de Empreendedorismo Inclusivo, voltado para mães atípicas, ou seja, que criam filhos com deficiência ou neurodivergência. O estande coletivo reúne oito mães que encontraram no empreendedorismo uma forma de gerar renda, manter a autonomia e, ao mesmo tempo, ampliar o debate sobre inclusão.
Patrícia Costa, integrante do grupo, começou a empreender durante a pandemia. O desemprego e os altos custos com terapias e cuidados intensivos do filho autista a motivaram a empreender. “Antes, o foco era só cuidar dentro de casa. Mas a necessidade falou mais alto e surgiu a ideia de criar algo nosso”, relembra.
Hoje, Patrícia comercializa bottons, chaveiros, bloquinhos e camisas com temáticas regionais, e celebra a receptividade do público. “As pessoas compram não só pelo produto, mas por reconhecerem a nossa história e representatividade. Estamos sendo vistas, valorizadas. É um espaço que amplia nosso networking e fortalece nosso projeto”, diz.
Artesanato encanta visitantes da FAC
A diversidade de produtos e histórias atrai um público igualmente variado. A aposentada belenense Aleite Cunha, de 65 anos, mora em São Paulo, mas aproveitou a visita ao Círio para redescobrir o artesanato paraense. “Estou encantada. Vim pelo miriti, mas me deparei com um mundo riquíssimo. O artesanato evoluiu muito e está sendo valorizado de verdade. Belém está na crista da onda, é hora de mostrar isso para o mundo”, afirmou.
Quem também se impressionou foi a gastróloga Joelma Pereira, que visitou a feira pela primeira vez. Para ela, o destaque é a integração entre cultura, biodiversidade e sustentabilidade. “A gente valoriza os nossos insumos e mostra que é possível empreender com o que temos. O Pará é muito rico”, destacou.
Sustentabilidade e cultura
A sustentabilidade é um dos pilares da edição deste ano. O conceito se reflete na estrutura do evento, em ações educativas e na produção dos expositores, que utilizam matérias-primas locais e processos de reaproveitamento. Um dos destaques é o Sebrae Recicla, que promove coleta seletiva e destinação correta dos resíduos da feira, com apoio de cooperativas do programa Pró-Catadores, iniciativa que reforça a economia circular e o consumo consciente na Amazônia.
A programação inclui apresentações musicais gratuitas de artistas paraenses, dando um tom festivo e popular à feira. Após o encerramento, o espaço será adaptado para receber a área de empreendedorismo da COP 30.
Empreendedorismo inclusivo fortalece economia paraense e amplia oportunidades
O supervisor técnico do Dieese, Everson Costa, avalia que o fortalecimento do empreendedorismo inclusivo tem papel estratégico no desenvolvimento econômico do Pará. Segundo ele, reconhecer indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pessoas com deficiência como atores ativos da economia é essencial para reduzir desigualdades e ampliar oportunidades.
Mais de 60% dos empregos no Brasil vêm de pequenos negócios, lembra Everson, ressaltando que muitos desses empreendedores surgem em contextos de vulnerabilidade social. No Pará, o cenário é ainda mais desafiador: seis em cada dez trabalhadores estão na informalidade.
Para o economista, apoiar e capacitar esses grupos é também uma forma de dinamizar a economia local. “Esse empreendedorismo bem trabalhado e reconhecendo esses atores como participantes efetivos da economia é fundamental, porque ajuda a formalizar negócios e criar novas oportunidades”, afirma.
Ele destaca que esse tipo de iniciativa não apenas gera renda, mas também fortalece o tecido social e contribui para uma economia mais equilibrada, sustentável e representativa da diversidade amazônica.
Serviço
Aberta ao público até o dia 15 de outubro, no estacionamento do Parque Urbano Belém Porto Futuro, a FAC 2025 funciona das 10h às 22h (com exceção do domingo do Círio (12), quando o horário será das 15h às 22h) e tem entrada gratuita.