Crédito consignado avança com novas regras e maior oferta de financiamento
Setor público continua sendo o grupo mais disputado pelas instituições financeiras
Com a expansão do programa Crédito do Trabalhador, o mercado de empréstimos consignados passou a viver uma nova fase de disputa entre bancos públicos e privados em 2025. Embora a lógica do desconto direto em folha reduza o risco de inadimplência para as instituições financeiras, há diferenças relevantes nas condições praticadas entre os dois grupos.
De modo geral, os bancos públicos seguem oferecendo as taxas mais baixas do mercado, especialmente no consignado voltado a servidores públicos e beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As taxas médias praticadas por essas instituições giram entre 1,8% e 1,9% ao mês, resultado de políticas de crédito mais reguladas e do papel histórico desses bancos na oferta de financiamento com viés social. Já os bancos privados concentram taxas mais elevadas, sobretudo no consignado privado, que, mesmo sendo mais barato que outras linhas de crédito pessoal, apresenta juros médios acima de 3% ao mês.
O analista financeiro Mário Mesquita trabalha em uma empresa de logística em Ananindeua, região metropolitana de Belém, ele conta que aderiu ao crédito consignado pela praticidade e juros mais vantajosos. “Eu fiz pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital. Eu coloquei o valor e o prazo que eu precisava, e em poucos minutos vários bancos mandaram propostas. Eu escolhi a melhor opção. O pagamento é descontado todo mês direto do salário, e o FGTS entrou como garantia caso eu fosse demitido”, explica.
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Mário conta ainda que o que pesou na decisão de fechar o empréstimo foi a taxa de juros que durante sua pesquisa chegou a encontrar ofertas acima de 11%. “Eu vi propostas de bancos públicos e privados, e quem me deu a melhor taxa foi um banco privado de 3,05% ao mês. Então o que vale mesmo é comparar as ofertas no aplicativo e fechar com a melhor condição, no meu caso valeu a relação que eu já tinha com o banco.”
Mas o setor público continua sendo o grupo mais disputado pelas instituições financeiras. Servidores públicos e aposentados do INSS representam, juntos, 94% de todo o mercado de crédito consignado, uma fatia considerada mais segura e previsível. O consignado privado, apesar do crescimento acelerado impulsionado pelo programa do governo federal, ainda responde por apenas 6% do total, justamente por envolver maior rotatividade de renda e vínculos empregatícios menos estáveis.
“Os bancos públicos oferecem, em média, taxas de juros mais baixas e prazos mais longos, especialmente para aposentados, pensionistas e servidores públicos. Já os bancos privados são mais agressivos comercialmente, com portabilidade, ofertas digitais e liberação mais rápida, mas geralmente praticam juros um pouco mais elevados, sobretudo para trabalhadores do setor privado”, explica o economista paraense Nélio Bordalo Filho.
A maior concorrência observada nos últimos meses, no entanto, não tem se refletido de forma significativa na redução das taxas de juros, que continuam em trajetória de alta. Em 12 meses, os juros do consignado variaram 18%, e a média projetada pelo Banco Central para novembro chegou a 57,1% ao ano. Em vez de juros mais baixos, o movimento do mercado tem priorizado a ampliação dos prazos de pagamento e o aumento dos valores liberados, estratégia que torna as parcelas mais acessíveis no curto prazo, mas eleva o custo total do empréstimo ao longo do contrato.
“A concorrência, em 2025, ajudou a alongar os prazos de pagamento e melhorar condições como portabilidade e refinanciamento. A redução dos juros foi mais limitada, pois o patamar ainda reflete o custo do dinheiro no Brasil e o ambiente macroeconômico, apesar da sensível pressão competitiva para baixo”, complementa o economista Nélio Bordalo Filho.
Nélio também explica que o volume de crédito liberado pode ajudar a impulsionar o varejo, mas é limitado. “Na minha percepção, predominantemente, tem ocorrido substituição de dívidas mais caras, como crédito pessoal e rotativo do cartão, pelo empréstimo consignado, como forma das pessoas equilibrarem seus orçamentos, evitando inadimplência e restrição de acesso ao crédito, por negativação do CPF nos órgãos de proteção. Certamente existe impacto positivo no varejo, mas ele é moderado, concentrado em bens duráveis e consumo básico. Portanto, o principal efeito econômico tem sido o alívio do orçamento das famílias, mais do que uma expansão forte do consumo.”
De acordo com análise do Banco Central na modalidade de crédito pessoal consignado INSS - Pré-fixado as cinco instituições com menor taxa de juros são: Banco INBURSA com taxa de juros de 1,58% ao mês e de 20,63% ao ano, seguindo pelo NU Financeira S.A. CFI com 1,59% ao mês e 20,84% ao ano; Banco INTER com 1,59% ao mês e 20,84% ao ano; Banco Paulista S.A. com 1,61% ao mês e 21,09% ao ano e Parati - CFI S.A com 1,61% ao mês e de 21,17% ao ano.
Na prática, o Crédito do Trabalhador ampliou o acesso ao consignado para milhões de brasileiros com carteira assinada, MEIs e trabalhadores de aplicativo, mas o avanço do crédito vem acompanhado de um alerta: mais prazo e mais oferta não significam, necessariamente, crédito mais barato. O desafio, agora, é equilibrar expansão, concorrência e educação financeira para evitar o endividamento excessivo de uma parcela crescente da população economicamente ativa.